SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os corredores da São Paulo Expo foram tomados por 150 embarcações expostas no São Paulo Boat Show, feira anual do setor náutico. Além das dezenas de iates luxuosos, visitantes também se aglomeravam nesta sexta-feira (22) para ver outras atrações, como uma casa flutuante, uma bicicleta aquática e carros-barcos.
Organizador da feira, o Grupo Náutica projeta que o evento em São Paulo deve gerar cerca de R$ 500 milhões em negócios. Outras edições, no Rio de Janeiro e em Itajaí (SC), já aconteceram neste ano. Assim como o tamanho, os preços dos iates variam e vão de R$ 79,9 mil a R$ 22 milhões.
Expositora com o maior iate da feira, a Intermarine exibe logo na entrada do pavilhão o seu lançamento da vez, o IM70. O comprimento total é de 21,55 metros e sua altura acima da linha da água chega a 5,49 metros. A velocidade máxima é de 32 nós (cerca de 59 km/hora). A empresa não revela o preço.
De acordo com o diretor de marketing da Intermarine, Rafael Paião, o mercado está aquecido e reflete o cenário macroeconômico do país. “Economia é sempre um indicador importante”, afirma. A empresa fabrica todos os seus modelos no Brasil e não exporta nenhum deles.
“O cliente brasileiro é o mais exigente do mundo na questão náutica. Exige muita personalização, tem muita referência e viaja bastante. Quando lança algo novo, não é fácil superar a expectativa”, diz Paião.
Ao passar pelos tapetes vermelhos que se entrecruzam pelos corredores da exposição, é possível ouvir, por vezes, buzinas de barcos, acionadas quando uma venda é concluída. Gritos de comemoração e braços estendidos também são notados.
Sorridente, um dos clientes conta à reportagem que comprou recentemente um iate de 74 pés avaliado em cerca de R$ 25,5 milhões, da marca italiana Azimut.
O empresário de 64 anos, que prefere manter anonimato, agora espera a embarcação ficar pronta. “A vantagem é que você tem uma casa que anda e, a cada dia, você pode acordar numa praia diferente. Ter um privilégio desse é para poucos.”
De acordo com o CEO da Azimut, Francesco Caputo, cerca de 42 embarcações foram produzidas pelo estaleiro da empresa em Itajaí (SC), o único fora da Itália, no último ano náutico, que começou em setembro de 2022 e terminou em agosto deste ano. O número representa sete iates a mais do que o patamar do exercício anterior.
Outros estandes abrigavam embarcações mais curiosas, como um carro aquático. A Seacar expunha dois deles. Os modelos, chamados de Vehigh, custam cerca de R$ 387 mil, usam gasolina para navegar e podem chegar a 140 km/hora. Para dirigir, é preciso ter habilitação.
A empresa catarinense faz o próprio design dos carros e tem a patente deles. No geral, os veículos aquáticos se assemelham muito a automóveis luxuosos, como a Ferrari.
Uma maquete no meio do estande da Seacar revela o próximo lançamento da marca, um carro aquático maior que custa R$ 570 mil. “[A procura] é mais pela esportividade e pela experiência. Imagine você dirigir na água. Tem um mundo para navegar, para ir aonde quiser e dar cavalo de pau”, diz o CEO da empresa, Nilton Góes.
Já os vendedores da Manta Brasil, representante no país da neozelandeza Manta 5, explicavam aos clientes como funcionava sua bicicleta aquática. Custando R$ 69 mil no evento, o modelo usa eletricidade para diminuir o peso da pedalada.
Como para quem usa uma bicicleta ergométrica, o objetivo é fazer exercícios. São diferentes níveis de assistência, com dificuldade maior ou menor na pedalagem, que podem ser escolhidos pelo usuário.
Não longe dali, uma casa flutuante, com varanda e terraço, era a atração da Solara Yachts. A empresa, que também fabrica iates, apresentava a embarcação como seu lançamento. Com preço em torno dos R$ 900 mil, a casa tem 44 metros quadrados no térreo e outros 23 metros quadrados na parte superior. Plano, o espaço se assemelha a um estúdio.
“A casa flutuante é um lego. Eu pego os tanques de ar, coloco um quadro em cima e vou colocando a churrasqueira e os outros itens”, explica o CEO da Solara Yatchs, Celso Antunes.
O público da feira era, sobretudo, premium, mesmo nos estandes com barcos menores. “Esse daqui é de um juiz federal”, dizia o CEO da Armatti, Fernando Assinato, apontando para um iate de 14 metros de comprimento.
Logo depois, virado para outro modelo, de 12,5 metros de comprimento, Assinato afirmou que, após o proprietário do iate enviar a foto de uma joia comprada para sua mulher, a empresa teve de reproduzir a cor do presente no casco do iate, que era verde-água.
Para o diretor comercial da YachtMax, revendedora da Ferretti Yachts no Brasil, José Luiz Loes Júnior, que expunha o modelo mais caro da feira em um valor a partir de R$ 22 milhões, a pandemia foi importante para impulsionar as vendas do setor.
“Na pandemia, o barco era um porto seguro, e uniu a família. Depois da pandemia, as pessoas passaram a se preocupar em ter ativos fixos e não só deixar dinheiro no banco”, diz Loes.
Apesar do otimismo do setor, alguns executivos demonstraram preocupação com as mudanças previstas pela Reforma Tributária. Com uma cobrança de IPVA (Imposto de Propriedade de Veículo Automotor) em vista, Ernani Paciornik, presidente do Grupo Náutica, o imposto trará mais prejuízo para o setor do que arrecadação para o governo.
Segundo ele, a cobrança prejudicará as vendas e afetará as vagas de emprego do setor. “É uma medida politiqueira e míope.”
“Estamos extremamente preocupados. Essa decisão do IPVA pode destruir um trabalho de muitos anos e muitos empregos. Um barco vendido ou que está em uma marina gera uma receita de impostos muito maior do que eles querem arrecadar”, afirma o CEO da Azimut, Francesco Caputo.
PAULO RICARDO MARTINS / Folhapress