SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Estou numa pista de dança ou numa galeria de arte? Esta é a primeira pergunta a passar pela cabeça de quem entra na exposição mais recente de Felippe Moraes, um ambiente escuro com um globo de espelhos no teto e neons nas paredes.
Em “Ovo Cósmico”, em cartaz até 10 de fevereiro na galeria Verve, em São Paulo, o artista tenta reproduzir o cosmos como se ele fosse uma discoteca. O globo de espelhos representa o sol, e os luminosos têm o formato das constelações de estrelas que formam os símbolos dos signos do zodíaco.
“Muita gente olha paro o céu com tanta veemência, cientificamente, espiritualmente, de maneira mística, e faz as perguntas de onde a gente vem e para onde a gente vai”, diz o carioca, ao justificar seu interesse pelo cosmos e as grandes questões universais que ele inspira, o tema de fundo da exposição.
Como a fachada da galeria foi tapada de preto e todas as luzes de seu interior foram apagadas, o ambiente expositivo fica iluminado somente pelas luzes que emanam das obras de arte. Nas paredes, vemos centenas de pontinhos luminosos, refletidos a partir do globo de espelhos preso no teto, o que dá a impressão de se estar no meio de um céu de estrelas.
É “uma pista de dança em que os corpos celestes estão dançando”, afirma Moraes, acrescentando que a ambientação foi feita a partir de seu ponto de vista um artista queer de 35 anos no Brasil de 2024 que pensa o cosmos com a estética da diva disco Donna Summer e do álbum “Confessions on a Dance Floor”, de Madonna.
As obras da exposição, inéditas, têm forte apelo visual. O ambiente e os peças de parede são um cenário pronto para o Instagram. Questionado se pensa no resultado estético de suas produções de antemão, Moraes afirma que não, mas que seu método naturalmente o leva a “fazer coisas bonitas”.
Seus trabalhos não têm protótipos. Ele projeta tudo no computador antes de encomendar a produção, no que conta ser o mesmo processo do desenho industrial, só que com fins poéticos.
Na mostra, o lirismo está, por exemplo, nos neons em cor azul leitosa de formas abstratas, feitos a partir de pesquisas do artista em cartografias que mostram como cada civilização entende os signos do zodíaco a partir da observação das estrelas. “Tantas civilizações olharam para o céu e viram coisas tão similares”, ele afirma.
A paixão pelo universo vem desde criança, conta Moraes, quando ele sonhava em ser artista, padre ou cientista principalmente astrônomo. Ele diz achar que ocupa um pouco de cada um desses papeis na exposição, ao propor, de maneira plástica, questionamentos profundos para os visitantes.
Outro momento poético de “Ovo Cósmico” é uma obra em que um luminoso da palavra “oroboro” aparece acoplado a um espelho, posicionado na altura do rosto do espectador. O termo grego é o nome que se dá ao desenho circular de uma cobra ou um dragão engolindo o próprio rabo, símbolo entendido como a representação da eternidade, da continuação, do eterno retorno.
Neons são recorrentes na obra do artista. Em 2021, durante a pandemia, Moraes escreveu com os luminosos frases melancólicas de sambas de Nelson Sargento e Paulinho da Viola, uma maneira de celebrar um Carnaval que não se podia comemorar por causa do coronavírus. As peças foram instaladas nas janelas de seu apartamento no centro de São Paulo, de modo que quem passava na rua avistava as obras.
Contudo, para além das luzes brilhantes, Moraes quer que os visitantes tenham uma experiência ao visitar sua nova exposição, que não voltem os mesmos para casa. A pretensão o faz comparar a mostra a locais religiosos como templos e igrejas, lugares sagrados onde se podem fazer grandes perguntas, segundo ele, como qual o meu tamanho no universo, de onde eu venho e do que sou feito.
OVO CÓSMICO
Quando Visitação de ter. à sex., das 11h às 18h; sáb., das 12h às 17h
Onde Galeria Verve – av. São Luís, 192, sala 6, São Paulo
Preço Grátis
JOÃO PERASSOLO / Folhapress