Fêmeas de golfinhos também são fluentes em ‘mamanhês’

SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) – Tal como as mães humanas, as fêmeas de golfinhos também são fluentes em “mamanhês” -aquela forma de comunicação oral especialmente delicada e “cantada” que os adultos da nossa espécie costumam empregar quando se dirigem a bebês.

A descoberta, feita por pesquisadores nos Estados Unidos que gravaram as vocalizações dos mamíferos marinhos quando interagiam com seus filhotes e com outros golfinhos, fortalece a ideia de que o elo entre as mães e sua prole é um importante elemento para compreender o desenvolvimento da comunicação vocal e da linguagem. Embora os assobios subaquáticos emitidos por golfinhos nem de longe tenham a mesma complexidade da linguagem humana, os paralelos são detalhados demais para serem simples coincidência.

A detecção do “mamanhês” entre os cetáceos está descrita em artigo na edição desta semana da revista científica PNAS, ligada à Academia Nacional de Ciências dos EUA. O estudo foi liderado por Laela Sayigh, pesquisadora do Departamento de Biologia da Instituição Oceanográfica Woods Hole (Costa Leste americana).

Sayigh e seus colegas estudaram uma população de golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) que é acompanhada há mais de 50 anos na baía de Sarasota, na Flórida (a espécie também é comum no litoral brasileiro). Durante capturas temporárias de rotina, que eram usadas para avaliar periodicamente o estado de saúde dos animais, os cientistas aproveitavam para prender pequenos microfones com ventosas na testa dos bichos. Isso permitiu a obtenção de gravações de alta qualidade dos sons produzidos por 19 fêmeas da espécie ao longo de décadas.

O mais crucial é que foi possível comparar as gravações quando as fêmeas capturadas estavam com filhotes a seu lado e quando elas estavam sozinhas ou acompanhadas apenas por outros adultos. Isso ajudou os cientistas a verificar se, de fato, a presença dos pequenos golfinhos (com idade média de dois anos quando acompanhavam as mães) modificava as vocalizações vindas delas.

Na análise, Sayigh e seus colegas se concentraram no chamado assobio-assinatura, um som que é uma marca registrada individual de cada golfinho, sendo emitido com frequência. Há quem compare essa vocalização ao uso de nomes pessoais entre seres humanos. Acontece que, quando estão na presença de seus filhotes, as fêmeas da espécie emitem versões modificadas do assobio-assinatura, que têm características muito semelhantes à fala humana de quem está empregando o “mamanhês”.

Entre esses traços está o uso de frequências sonoras mais altas -popularmente, diríamos que as fêmeas de golfinho “falam mais fino” com seus bebês, tal como as mães da nossa espécie. Além disso, a gama de frequências utilizada no “mamanhês” de ambas as espécies é mais ampla, refletindo o caráter “cantado” desse tipo de comunicação.

“Não há consenso sobre o porquê de o ‘mamanhês’ envolver frequências mais altas”, explicou Sayigh à reportagem. “Uma das propostas é que esse tipo de som poderia soar menos ameaçador. Mas há uma quantidade limitada de mudanças que você pode fazer com determinado som, então pode ser apenas coincidência o fato de que tanto humanos quanto golfinhos aumentam a frequência das vocalizações.”

O certo é que, ao menos na nossa espécie, essa tendência, que está presente em praticamente todas as culturas, fortalece o elo entre mãe e bebê e pode ser um estímulo importante para o início do emprego da linguagem. Ainda não está totalmente claro se esses efeitos também são importantes para a interação entre os golfinhos, diz a pesquisadora.

REINALDO JOSÉ LOPES / Folhapress

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