SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Venezuela retirou o convite que havia feito a Alberto Fernández para acompanhar as eleições do próximo domingo (28), afirmou nesta quarta-feira (24) o ex-presidente da Argentina em suas redes sociais.
“Ontem, o governo nacional venezuelano me transmitiu sua vontade de que eu não viaje e desista de cumprir a tarefa que me foi dada pelo Conselho Nacional Eleitoral”, escreveu ele ao publicar a carta com o convite, que data de 12 de julho.
“A razão que me foi dada é que, na opinião do governo, declarações públicas feitas por mim a um meio de comunicação nacional causavam desconforto e geravam dúvidas sobre minha imparcialidade”, continuou.
Na fala em questão, o argentino ecoou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao afirmar que Maduro deve aceitar uma eventual derrota e disse que a Venezuela precisa recuperar sua “convivência democrática”.
“Se [Maduro] for derrotado, o que ele deve fazer é aceitar, como disse Lula. Quem ganha, ganha, e quem perde, perde. (…) Vou fazer o que me pediram: ser um observador das eleições para que tudo funcione bem”, afirmou ele em entrevista a uma rádio nesta terça-feira (23).
“O que a Venezuela precisa é recuperar sua convivência democrática e que os que estão perambulando pelo mundo porque deixaram o país por qualquer motivo que seja possam voltar”, acrescentou. Segundo a ONU, quase 8 milhões de venezuelanos saíram do país desde o início da grave crise econômica e social na qual a nação mergulhou há uma década.
O episódio é mais um atrito de Maduro com um antigo aliado. Quando ganhou do liberal Mauricio Macri as eleições na Argentina, em 2019, o peronista foi cumprimentado pelo venezuelano nas redes sociais. “Parabéns ao heroico povo argentino!”, escreveu Maduro na época. “A contundente vitória de Alberto Fernández e Cristina Kirchner abre o horizonte de esperança a um futuro melhor para a Argentina.”
Na ocasião, o argentino agradeceu as palavras. “A América Latina deve trabalhar unida para superar a pobreza e desigualdade da qual padece. A plena vigência da democracia é o caminho para alcançar isso”, afirmou ele, que não chamou o venezuelano de ditador ao longo de seu mandato, ao contrário de seu antecessor.
A declaração de Lula que motivou a fala de Fernández fazia referência a um discurso de Maduro na semana passada. Nele, o ditador falava na possibilidade de um “banho de sangue” em uma guerra civil caso a oposição ganhasse.
“Fiquei assustado com as declarações […]. Quem perde as eleições toma um banho de votos, não de sangue. Maduro tem de aprender: quando você ganha, você fica. Quando você perde, você vai embora e se prepara para disputar outra eleição”, disse o petista em uma entrevista a agências internacionais na última segunda (22).
A fala abriu uma rusga com Lula, que costumava defender o regime. Um dia após as críticas, o ditador disse que não falou nenhuma mentira. “Apenas fiz uma reflexão. Quem se assustou que tome um chá de camomila”, afirmou, sem mencionar Lula.
Também na terça, em um comício durante a noite, Maduro questionou em um comício os sistemas eleitorais do Brasil, dos Estados Unidos e da Colômbia ao afirmar, sem provas, que as eleições nesses países não são auditadas.
As hostilidades mostram o isolamento de Maduro na América do Sul. Os líderes progressistas que conseguiram se manter no poder em meio ao refluxo da esquerda na região não são apoiadores vocais do ditador, como Gustavo Petro (Colômbia), ou criticam seu autoritarismo abertamente, caso de Gabriel Boric (Chile).
Redação / Folhapress