SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A montagem de um palco de um evento de cultura geek escondendo a estátua em homenagem a Deolinda Madre, na Liberdade, centro de São Paulo, gerou protestos e acusações de racismo.
O caso ocorreu neste domingo (17). A estátua de Madrinha Eunice, que faz parte de um processo de recuperação da memória de pessoas negras históricas da cidade, foi escondida na lateral do palco. Uma das estruturas ficou em cima da placa que explica quem ela foi.
Madrinha Eunice a fundou a Lavapés (hoje Lavapés Pirata Negro), uma das mais antigas escolas de samba da cidade, na década de 1930. Sua escultura foi inaugurada no ano passado, como parte do projeto do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico), da prefeitura, de homenagear figuras negras da cidade.
O evento Festival Cultura Geek foi realizado pela Associação Brasil Nippo com apoio da prefeitura. Nesta segunda (18), a entidade divulgou uma nota de retratação em que diz expressar “profunda indignação” com o ocorrido com a montagem, que segundo ela estava a cargo de uma empresa terceirizada contratada pela prefeitura.
“Reconhecemos que a montagem de parte da estrutura do palco -a cargo de empresa terceirizada através da Prefeitura de São Paulo- próxima à estátua da sambista e ativista do movimento negro, Deolinda Madre, conhecida carinhosamente como Madrinha Eunice, foi inapropriada e desrespeitosa.”
A associação afirma que, assim que soube do ocorrido, desativou a programação do palco. “Ressaltamos que em nenhum momento tivemos a intenção de desrespeitar a memória desta ilustre personalidade e da comunidade negra”, diz o comunicado.
A gestão Ricardo Nunes (MDB), por sua vez, afirmou que a localização exata do palco foi definida pelo promotor do evento e que o caso está sendo investigado. “Vale salientar que a Secretaria Municipal de Cultura entende o episódio como desrespeito à memória da sambista Madrinha Eunice e tomará todas as previdências cabíveis para que episódios como esse não se repitam mais”, declarou.
A Uesp (União das Escolas de Samba Paulistanas) publicou uma nota de repúdio. “Hoje (ontem) está acontecendo um evento no bairro Liberdade, justamente na praça em que está a escultura de Madrinha Eunice, e vimos com tristeza e indignação que ela foi completamente ignorada, segregada e apagada. Não podemos aceitar que a escultura de Madrinha Eunice seja desprezada, ocultada e escondida. A Uesp não se calará! Exigimos respostas e, além disso, exigimos mudança na postura e respeito!”, afirma a nota.
Um grupo de mulheres fez uma manifestação com cartazes durante o evento. “A gente luta pelo direito à memória, quando a gente tem a violação desse direito, de um palco sendo montado sobre esse espaço. A gente está retrocedendo numa conquista que é histórica para o movimento negro e para toda a sociedade”, disse Rosana Rufino, presidente da Comissão da Verdade, da OAB-SP, à TV Globo.
FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress