Ficar sem aeroporto foi pior do que pandemia para turismo em Gramado (RS), diz setor

GRAMADO, RS (FOLHAPRESS) – O empresário Gustavo Wiesel Cofferi, 48, contava nos dedos o tempo que faltava para a retomada dos voos no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

Ele é dono de um bar e restaurante chamado Toro, em Gramado, na Serra Gaúcha (a 105 km da capital). A exemplo de outros empreendedores locais, Gustavo depende da clientela de turistas que usam o Salgado Filho para visitar o Rio Grande do Sul.

O terminal foi fechado na noite de 3 de maio, quando Porto Alegre amargou a fase inicial das enchentes de proporções históricas no estado.

A reabertura de modo parcial só ocorreu cinco meses depois, em 21 de outubro –o Salgado Filho ainda passa por obras para recuperar a capacidade plena de operação.

“Para o meu negócio, ficar sem o aeroporto, realmente, afetou mais do que a pandemia”, afirma Gustavo.

“Não cheguei a fazer um estudo em números, mas a impressão que a gente tem, e os amigos também falam, é essa. Isso mostra a importância que o aeroporto tem para nós”, acrescenta.

Ele lembra que, mesmo com as restrições sanitárias, viajantes ainda conseguiam usar o aeroporto gaúcho na pandemia. Além disso, o turismo nacional e de curta distância sofreu menos do que as viagens internacionais à época.

Já neste ano, com a paralisação do Salgado Filho, ficou mais difícil –ou até inviável– para visitantes de fora da região Sul irem a Gramado, aponta Gustavo.

O reflexo das enchentes foi a redução da oferta de voos no Rio Grande do Sul, além do aumento dos custos das passagens aéreas.

Uma das saídas para quem precisou viajar ao estado foi ir a Santa Catarina e utilizar aeroportos como o de Florianópolis (a 460 km de Porto Alegre), para depois seguir em deslocamento rodoviário.

Segundo Gustavo, a reabertura do Salgado Filho já está estimulando a chegada de público a Gramado, mas ainda em um patamar aquém do pré-crise. Ele espera que a movimentação se intensifique em dezembro, período marcado por festas e férias escolares.

A cidade recebe a programação do Natal Luz de 24 de outubro a 19 de janeiro. O tradicional evento promove uma série de espetáculos, além de espalhar luzes e outros objetos decorativos pelas ruas e avenidas.

“Na pandemia, todos os destinos tinham restrições. As pessoas, quando achavam possível, viajavam pelo Brasil, e Gramado é muito visitada. Mas, agora, éramos os únicos que não podiam receber esses visitantes [que dependem do aeroporto]”, diz Rosa Helena Volk, presidente da Gramadotur, autarquia de turismo e cultura do município.

O fotógrafo Lucas Faotto, 25, também afirma que o fechamento do Salgado Filho foi pior para seu trabalho do que o período de restrições na pandemia. Ele faz ensaios de turistas em pontos conhecidos de Gramado.

“Na pandemia, tinha parques fechados, mas ainda tinha um pouco de turista na cidade. Logo depois das enchentes no estado, tudo estava aberto, mas não tinha turista”, afirma.

De acordo com o fotógrafo, antes da paralisação do aeroporto, o número de ensaios em um dia podia chegar a sete ou mais.

Durante a crise provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, o número minguou para um ou dois, quando muito. Já nas últimas semanas, com o Salgado Filho em operação, a média diária passou para a faixa de quatro, segundo Lucas.

“Os turistas estão vindo de novo, querendo que Gramado retome as atividades. Até estava comentando com um amigo: a gente nunca tinha parado para perceber que o aeroporto trazia tanta gente”, afirma.

O mercado de trabalho não passou incólume pela crise deste ano. Em outubro, os setores de alojamento e alimentação, que incluem hotéis e restaurantes, somavam 5.992 empregos formais em Gramado, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Isso significa 744 vagas a menos do que em abril (6.736), antes da paralisação do aeroporto. O número chegou a cair a 5.739 em julho, mas teve leve aumento nos meses seguintes.

“A retomada do aeroporto é essencial para a região, era o que nós precisávamos. A gente aguarda um grande movimento e certamente um grande número de trabalhadores de volta ao mercado”, afirma Rodrigo Callais, presidente do Sintrahg (Sindicato dos Trabalhadores em Hotelaria e Gastronomia de Gramado).

Ele também diz que a programação do Natal Luz deve estimular mais contratações.

“Quando teve a divulgação da data de reabertura [do aeroporto], nossas vendas cresceram muito para o período do Natal Luz”, afirma Cristiane Mörs, diretora de vendas e marketing da rede de hotéis Laghetto.

Segundo a empresa, a ocupação alcançou 80% em novembro. Para dezembro, a perspectiva da rede é chegar a 85% ou 90%, em níveis semelhantes aos do ano passado.

O empreendedor mineiro Rogério Alves, 37, aproveitou a reabertura do Salgado Filho para ir ao Rio Grande do Sul. Ele visitou Gramado no início de novembro com a esposa e o filho.

“Ficou mais prático, né? A gente chegou a Porto Alegre, só pegou uma van e chegou bem mais rápido do que seria sem o aeroporto”, conta.

LEONARDO VIECELI / Folhapress

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