SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Imagine que você tem a capacidade de manipular a mente dos outros, de fazer qualquer pessoa acreditar que está enxergando o que você quiser que ela veja. Para que você usaria esse poder? No começo do filme “Awareness – A Realidade É uma Ilusão”, o jovem Ian o aproveita para efetuar pequenos trambiques.
Quando um roubo sai de controle e suas habilidades acabam expostas, ele passa a ser caçado por uma organização misteriosa. Enquanto foge, ele vai descobrir que quase nada do que sabia sobre o mundo e sobre si próprio era como ele imaginava.
A ficção científica espanhola, que estreia nesta quarta-feira (11) no Amazon Prime Video, é estrelada por Carlos Scholz, que no Brasil ficou mais conhecido como um dos strippers da série “Toy Boy”. À reportagem, o ator conta que precisou usar a imaginação para entrar no universo proposto pela trama.
“Tenho alma de criança, uma energia muito infantil, adoro brincar com o meu sobrinho”, comenta. “Esse sonho de ter superpoderes, de poder fazer o que você quiser durante um dia, acho que todo mundo já teve. Ter a oportunidade de fazer isso por meio da ficção, que é o único lugar onde isso pode se materializar, é incrível e muito divertido.”
Esse é o primeiro protagonista do ator, que contou ter sentido o peso da responsabilidade. “Você precisa estar 100% no projeto, até porque você grava praticamente todo dia, durante os três meses de filmagem e, quando vai para casa comer e descansar, ainda precisa estudar o que vai ter no dia seguinte. Além de ter que se cuidar, não se colocar em risco, porque, se algo acontecer com você, a produção inteira para. É uma pressão muito grande, porque tudo depende de você.”
Pedro Alonso, que vive o pai de Ian, avalia que o jovem se saiu muito bem na tarefa. “Ao ver o Carlos no set, eu lembrava de mim mesmo em um momento análogo ao que ele estava vivendo”, conta o ator, que ficou famoso no mundo todo como o Berlim de “La Casa de Papel” um spin-off focado em seu personagem estreia em dezembro na Netflix.
“Ele é um tipo encantador, de muito boa índole, o que gerou imediatamente uma confiança entre nós”, conta sobre o filho da ficção. “A química entre nós aconteceu, sem precisar fazer muita coisa. O que precisamos ajustar foi o tom das coisas, para que o filme não ficasse muito carregado do ponto de vista sentimental. Era necessária uma camada de humor para que ficasse mais fácil de digerir, e nós tentamos fazer isso.”
“É que ação sem drama não funciona”, explica o diretor, corroteirista e coprodutor Daniel Benmayor. Segundo o cineasta, qualquer cena do filme que ele tivesse eventualmente identificado como gratuita, no sentido de não acrescentar à “viagem emocional” do protagonista, teria sido cortada.
“Claro que dá para enfeitar com muitos conflitos, muitos obstáculos, com o que você quiser, seja com cenas de ação ou de ficção científica, mas é preciso que elas levem a algum lugar”, diz. “O equilíbrio acontece quando você entende que só vai funcionar assim.”
Para filmar esse universo povoado por pessoas com poderes sobre-humanos, capazes de ler mentes e pular do alto de edifícios, Benmayor disse que tentou fazer tudo da forma mais realista possível. “Não usamos chroma key [a tela verde usada para inserir efeitos visuais na pós-produção], tentamos fazer tudo de forma muito visceral nesse aspecto. O que fizemos foi planejar muito e filmar de modo que o público percebesse o que estava ocorrendo na frente da câmera de outra maneira.”
A atriz María Pedraza entrega que um desses artifícios foi o uso de dublês muito bem treinados. Na trama, ela vive a personagem Esther, que se torna aliada de Ian e sua parceira de fuga. Ela tem diversas cenas de luta, em que enfrenta múltiplos adversários, e depois sai andando como se nada tivesse acontecido.
“Adoraria dizer que fui eu que gravei essas cenas (risos), mas quem fez foi uma das especialistas da nossa equipe de dublês”, conta. “Eu só assisti e agradeci por fazer com que o meu trabalhe brilhe mais. Acho que temos que valorizar esses profissionais.”
Mesmo com essa ajuda, parte do trabalho precisa ser arrematado pelos atores. “Venho da dança e tenho muita noção do meu corpo, e no fim é uma coreografia”, compara. “Tive que me acostumar a esses movimentos, porque não estavam registrados em mim. Você tem que saber usar a força para não se ferir e também por a personalidade dos personagens, o que dificulta um pouco porque, além de fazer parecer que aquilo é crível e não se machucar, a sua cara tem que estar impecável.”
Pedraza, que foi a Alison Parker da primeira temporada de “La Casa de Papel” e a Marina Nunier de “Elite”, já havia trabalhado com Scholz em “Toy Boy”. Ela diz que isso facilitou na hora de criar a relação entre Esther e Ian.
“Você se sente mais segura, protegida e confortável, com menos pressão. Acontece que nós dois somos muito parecidos e, aí, acontecem umas coisas loucas. É como se ele lesse a minha mente às vezes”, afirma. Ou seja, nem sempre é preciso ter habilidades especiais para isso.
VITOR MORENO / Folhapress