Filme ‘Copa de 71’, sobre futebol feminino, ataca machismo no esporte

FOLHAPRESS – Já ouviu falar na italiana Elena Schiavo? E na mexicana Silvia Zaragoza? Muito provavelmente não. Essas atletas de ponta são pouco lembradas mesmo nos seus países de origem.

São duas das jogadoras que se sobressaíram na Copa do Mundo de futebol feminino de 1971, no México. O torneio reuniu mais de 100 mil pessoas no Azteca, o maior estádio do país, em pelo menos duas partidas, a abertura e a final. Era gente a perder de vista nas arquibancadas que, por vezes, se assemelhavam ao que a capital mexicana havia presenciado um ano antes, na Copa de futebol masculino de 1970, vencida pelo Brasil.

Aqueles jogos de 1971 receberam muita atenção de TVs, rádios e jornais, especialmente na Europa e no México. Após décadas praticamente banido mundo afora –os médicos diziam que esse esporte era prejudicial para a saúde das mulheres– , o futebol feminino parecia prestes a deslanchar em popularidade.

A história desse torneio, um momento de brilho intenso, mas muito fugaz do futebol praticado por mulheres, é apresentada no documentário inglês “Copa de 71”, que está na programação do festival É Tudo Verdade. Trata-se de um filme a respeito do esporte, mas, principalmente, uma produção sobre as armas do machismo para sufocar o sucesso feminino.

No final dos anos 1960, as mulheres começaram a encontrar brechas em países como Inglaterra para jogar futebol em campos muito modestos e em parques. Tinham, porém, que enfrentar situações constrangedoras, para dizer o mínimo.

Como conta a ex-atleta francesa Nicole Mangas, a maioria do público dos jogos no seu país era formado por homens interessados em vê-las usando shorts. Muitos gritavam: “Volta para a cozinha!”. Em um programa da TV francesa da época, um comentarista definiu o futebol feminino como “curiosidade cômica e erótica”.

Em meio a tanta resistência, a festa com que o México as recebeu foi uma surpresa para grande parte das jogadoras das seis seleções: Argentina, Dinamarca, França, Inglaterra e Itália, além do país-sede —o Brasil não participou porque não era ligado à Federação Internacional de Futebol Feminino.

Além dos jogos, as atletas eram festejadas nas ruas e na imprensa, o que indicava o acerto da aposta feita por essa federação e pelos empresários locais. A oposição da Fifa à realização do evento não parecia um obstáculo —não naquele momento.

A celebração durou pouco, como mostra o filme dirigido por Rachel Ramsay e James Erskine. Passados 53 anos, a disputa continua fora dos registros oficiais das principais entidades do futebol.

É um assunto e tanto, e os diretores sabem como lidar com ele. Exploram muito bem o rico acervo de filmagens dos jogos e dos treinos, além das fotografias da época. Nos registros das ruas das capitais europeias e na trilha sonora, eles associam a revolução comportamental dos anos 1960 à rebeldia das garotas que insistiam em jogar bola.

Alternando momentos tensos das partidas, depoimentos bem selecionados das ex-jogadoras e imagens do México de cinco décadas atrás, a montagem tende a manter o interesse dos espectadores ao longo de uma hora e meia, sejam ou não aficionados por futebol.

A crítica exposta em “Copa de 71” é implacável: o futebol feminino poderia ter iniciado uma trajetória bem-sucedida àquela altura, o que não ocorreu. Mas o documentário reconhece uma evolução posterior na popularidade e na profissionalização –não pela sensatez deles, mas pela persistência delas.

NAIEF HADDAD / Folhapress

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