FOLHAPRESS – Entrou nesta madrugada na HBO Max a segunda parte do episódio final da segunda temporada de “And Just Like That”, derivado de “Sex and the City”. E só de escrever esta frase inicial já fica claro que estamos falando de uma história que, talvez, esteja se arrastando por tempo demais.
O que, em si, não é nenhum problema. Ninguém fala isso sobre “Star Wars” ou “Os Simpsons”, série que está no ar desde 1989 e não dá nenhum sinal de que esteja ficando sem assunto.
Mas a verdade é que esta temporada prometia mais do que entregou. A volta de Samantha, a personagem mais sexualmente voraz e pessoalmente autocentrada, era um assunto tão quente na trama quanto fora dela.
A informação de que a atriz Kim Cattrall tinha gravado uma cena em uma garagem para o episódio final, que exigiu ser vestida pela figurinista original, Patricia Field, e que o fez sem encontrar nenhuma das outras atrizes do elenco principal, com quem ela é rompida publicamente, fez surgir mil e uma teorias a respeito do que teria acontecido tanto na realidade quanto na série.
Uma das teses mais recentes era que Samantha, a personagem, iria morrer na cena gravada. Parecia verossímil, pelo menos seria um ponto final nesta história. Mas aí, nesta semana, foi divulgada a informação de que “And Just Like That” terá uma terceira temporada, então possivelmente a volta de Samantha tenha sido atrelada à volta da atriz ao elenco.
O que dá para contar, sem estragar as surpresas do roteiro, é que a hipótese descrita acima não se comprova.
A cena com Samantha abre o episódio, todo centrado em um último jantar que Carrie prepara para se despedir do seu apartamento de solteira, aquele com o closet azul, onde ela vive durante as seis temporadas de “Sex and the City”. É para onde ela volta depois da morte do marido, Big, em “And Just Like That” e onde seu atual (e ex) namorado, Aidan, se recusa a pisar.
Para quem conhece os meandros imobiliários de Manhattan, até faz sentido que um apartamento de um quarto, bem localizado, arejado, com luz natural e que não fique em uma parte ultra barulhenta da cidade seja assim tão cultuado.
Mas um apartamento é um apartamento. Pode querer dizer um milhão de coisas para quem passou grande parte da vida adulta nele, mas daí a ser tema central de um episódio final dividido em duas partes que reúne o elenco inteiro, é um tanto esquisito e bastante sem charme.
Que as três amigas de Carrie em Sex and the City” tivessem muitas lembranças ali e quisessem se despedir o que nenhuma delas fez com o próprio apartamento, diga-se até vai. Mas que ligação tem o novo elenco com aquele lugar?
Carrie acabou de comprar um apartamento novo, enorme e incrível, em frente ao exclusivíssimo Gramercy Park e convida as novas amigas, todas ricas e bem-sucedidas, ou duras mas com muito potencial, como a comediante Che Diaz, personagem de Sara Ramirez, e o ex-colega de podcast Jackie Nee, personagem do ator Bobby Lee, para um jantar no antigo, menor e, agora, vendido?
Celebrar o passado não é vergonha para ninguém, lógico, e grande parte do interesse por essa série é em si uma forma de celebrar o passado.
“Sex and the City” foi uma série fenomenal, revolucionária, e assim como o público ainda sente uma ligação muito forte com essas personagens que conheceu 25 anos atrás ou a qualquer momento desde então, já que as seis temporadas de “Sex…” estão no catálogo do canal e, sim, a série continua ótima até hoje assistir a “And Just Like That” é uma maneira de rever a própria vida.
Tinha muita gente que odiava a ideia de Carrie perder a cabeça e qualquer fronteira moral quando o assunto envolvia o Mr. Big, personagem de Chris Noth, com quem ela acabou se casando, e que tinha certeza de que ela seria muito mais feliz com o bom moço da história, o caipirão Aidan, personagem de John Corbett, com quem ela volta a se envolver nesta temporada.
Essa teoria foi botada à prova nesta segunda leva de episódios que se encerra hoje. Aidan continua bonzinho, apaixonado, é divorciado e Deus levou Mr. Big, então Carrie não tem com que se distrair.
O romance maduro dos dois não teve grandes sobressaltos, como de fato é mais comum entre pessoas que já fizeram todas as besteiras da juventude, aprenderam com elas e agora conseguem apreciar um namoro com pausas, ritmo estável e entre pessoas que tem suas próprias vidas e partes dela em que preferem não ter a interferência do outro.
Mas quem disse que o que é bom na vida dá boa televisão? Uma boa trama só para em pé se tiver um bom conflito. E os conflitos criados por Michael Patrick King, que escreveu e dirigiu as duas partes do episódio final, não têm a mínima graça. Pior: não aparecem na série.
O que a gente vê são as explicações dos personagens para as coisas que não vão acontecer. Resumo da ópera: foi morno, brochante, aborrecido. Mas eu não vejo a hora de ver o que vai acontecer na próxima temporada.
AND JUST LIKE THAT… UM NOVO CAPÍTULO DE SEX AND THE CITY (2ª TEMPORADA)
Avaliação Regular
Onde HBO Max
Classificação 16 anos
Elenco Sarah Jessica Parker, Cynthia Nixon e Kristin Davis
Produção EUA, 2023
Criação Darren Star
TETÉ RIBEIRO / Folhapress