SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira (23) que a questão fiscal é a principal fonte de preocupação no país e destacou que há discrepâncias entre as estimativas do mercado para os resultados das contas públicas e as metas projetadas pelo governo.
Em uma palestra no Encontro Anual Endeavor 2023, Campos Neto ressaltou que ainda assim é importante que o governo acredite no marco fiscal que elaborou.
“No capítulo do Brasil, a maior preocupação é com o fiscal. Existe uma diferença muito grande entre o que o mercado acredita que vai ser o número fiscal e o que o governo tem prometido ou tentado fazer.”
Para ele, o arcabouço fiscal foi muito importante e uma grande luta com uma divisão mesmo dentro do governo. “O ministro Fernando Haddad teve um grande sucesso e foi muito persistente, a gente tem dito que é importante persistir na meta, o arcabouço deu trabalho enorme para ser construído, então é importante que o governo acredite nele.”
Ele complementou que, mesmo entendendo que é difícil atingir a meta, no mercado as pessoas não esperam que ela seja atingida, mas elas esperam um esforço.
“Mesmo com o arcabouço, a despesa do Brasil ainda é bem maior do que a média do mundo emergente. Quando a gente olha em termos de espaço de gasto fiscal, tem pouco espaço para aumentar a carga fiscal.”
Ele também voltou a mencionar a preocupação com a trajetória da dívida fiscal nas maiores economias do mundo, sobretudo nos Estados Unidos e que o aumento recente da dívida pública americana somado ao nível elevado dos juros aumentou o custo de rolagem.
O presidente do BC também destacou que a pandemia levou a um programa de enfrentamento robusto dos países, de forma coordenada os BCs baixaram juros para o mínimo, com um avanço do programa fiscal.
Ele ressaltou que não há um vetor “óbvio” de desinflação para os próximos meses. “Tem uma desinflação, em vários lugares e caindo também no Brasil. A gente vê que o núcleo da inflação está caindo, e se pergunta de onde virá a desinflação daqui para frente.”
Segundo Campos Neto, no Brasil, o processo de desinflação é benigno. “A desinflação é lenta e precisamos terminar o trabalho, a gente teve um crescimento revisado para cima algumas vezes. Isso leva a gente a ter a humildade de pensar que o crescimento estrutural do Brasil talvez tenha crescido.”
O presidente do BC também aproveitou o encontro para falar sobre implementações tecnológicas, como o Pix (sistema de pagamentos e transferências instantâneos) e o Drex (projeto de moeda digital).
Ele comentou, ainda, uma fala anterior em que havia dito que o open finance vai permitir o compartilhamento de informações financeiras e deve acabar com a necessidade de o usuário ter aplicativos de diferentes bancos.
“Em algum momento, talvez daqui a um ano e meio, dois anos, você não vai ter mais um app do Itaú, ou do Bradesco, ou do Santander, você vai ter um app que a gente chama de agregador. E aquele app vai, por meio do open finance, integrar tudo nas suas contas”, disse, no último dia 10, em evento em Chicago.
“Outro dia falei uma coisa que gerou uma controvérsia danada, mas na verdade quis dizer que se você tem conta em 4 ou 5 bancos para comparar dados, vai puxar para um aplicativo só, é natural. A gente começa a ver essa briga por superapps, para ver qual vai centralizar a informação de todos os bancos. Essa briga é entre privados, não tem nada a ver com o BC”, comentou agora.
DOUGLAS GAVRAS / Folhapress