‘Five Nights at Freddy’s’ garante duas horas de tédio no cinema

FOLHAPRESS – No ano em que os videogames tomaram Hollywood de assalto, a adaptação “Five Nights at Freddy’s: O Pesadelo Sem Fim” mostra que talvez fosse melhor se cada turma continuasse no seu próprio canto.

O filme é baseado em um jogo de terror de 2014 do desenvolvedor indie Scott Cawthon. Ele chegou em momento oportuno e ganhou a internet nos anos seguintes, com youtubers gravando com frequência seus próprios sustos em troca de milhões de visualizações.

Cena do filme “Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim”, de Emma Tammi Patti Perret/Divulgação Cena do filme “Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim”, de Emma Tammi **** Nele, o jogador é um segurança noturno de um restaurante infantil dos Estados Unidos conhecido por ter robôs de animais antropomorfizados.

Como mostra um recorte de jornal no início, as responsabilidades do trabalho são monitorar as câmeras e garantir a segurança dos equipamentos e desses animatrônicos. “Não nos responsabilizamos por lesões ou desmembramentos”, diz o anúncio.

Não sabemos quem é o segurança e quais são suas motivações. Tampouco sabíamos, ao aceitar o emprego, que esses mascotes têm vida própria e assassinaram os seguranças anteriores. O objetivo, portanto, é sobreviver às tais cinco noites do título.

Embora os gráficos e as mecânicas fossem simples, o jogo fez disso um atrativo, criando uma atmosfera sombria na qual o medo está sempre à espreita e não há muito o que fazer para evitá-lo.

O jogo inteiro acontece numa sala de segurança ladeada por duas portas. Dela, é necessário monitorar as várias câmeras do restaurante, sempre de olho nos robôs, para evitar que se aproximem e te matem. Há, no entanto, duas restrições –a bateria e a quantidade de objetos que podem ser usados ao mesmo tempo.

Esses elementos combinados com a possibilidade de tomar um susto a qualquer momento fizeram de um jogo indie uma franquia milionária. E aí vem o filme.

Enquanto as mecânicas do primeiro jogo dialogam com a própria natureza cinematográfica –a observação constante, o perigo oculto contido numa imagem–, o filme sequer se lembra disso e transforma o terror e a paranoia em um drama familiar insosso.

Em “Five Nights at Freddy’s: Pesadelo Sem Fim”, Mike Schmidt (Josh Hutcherson, da franquia “Jogos Vorazes”) é um segurança de shopping atormentado desde a infância pelo desaparecimento de seu irmão mais novo. Ele mora com a irmã ainda mais nova, Abby, por quem se tornou responsável depois da morte de seus pais.

Emocionalmente instável, Mike se mete em uma briga e é demitido. Para não perder a guarda de Abby, cobiçada pela tia, ele precisa mostrar que é um homem direito e aceita um bico oferecido por Steve Raglan (Matthew Lillard, de “Pânico”).

O trabalho é na pizzaria Freddy’s, abandonada e associada pelos adultos da cidade à infância nos anos 1980. O segurança será responsável por impedir a entrada de invasores. Andando pelo local, se depara com os animatrônicos. Sabotagem

Além de lidar com a quantidade crescente de coisas estranhas acontecendo no Freddy’s, Mike também se preocupa com Abby, seus desenhos estranhos e amigos imaginários. Os dois núcleos então se conectam e fazem do filme uma história de redenção do segurança –ele não pode errar com a irmã como fez com o irmão.

E os bonecos assassinos?

Se o drama já não funciona, o que pode até ser considerado dispensável em alguns filmes de terror, as cenas na pizzaria, onde haveria mais espaço para momentos inspirados, também recaem em uma encenação genérica e pouco memorável.

Até existe um humor involuntário pelo ridículo da coisa toda, mas nem isso a diretora Emma Tammi e os roteiristas –entre os quais, o próprio Scott Cawthon– souberam aproveitar.

Os sustos e a violência, discreta por conta da classificação indicativa, não causam o mesmo impacto que no jogo. Se este conseguia evocar “Janela Indiscreta” e “Atividade Paranormal” através de suas mecânicas, o filme só transmite indiferença.

“Five Nights At Freddy’s: O Pesadelo Sem Fim” erra, principalmente, ao se basear mais nos efeitos do sucesso do primeiro jogo –como suas sequências e as várias adaptações literárias que expandiram esse universo– do que nos elementos criativos que permitiram esse mesmo sucesso há quase uma década.

FIVE NIGHTS AT FREDDY’S: O PESADELO SEM FIM

Avaliação: ruim

Onde: nos cinemas

Classificação: 14 anos

Elenco: Josh Hutcherson, Elizabeth Lail e Piper Rubio

Produção: Estados Unidos, 2023

Direção: Emma Tammi

GUSTAVO SOARES / Folhapress

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