RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Flamengo espera confirmar em setembro a compra do terreno do Gasômetro, no Rio de Janeiro, e planeja o início das obras de seu estádio no primeiro semestre de 2025.
O espaço em São Cristóvão pertencia ao Fundo de Investimento Imobiliário da Caixa Econômica Federal e foi desapropriado pelo prefeito Eduardo Paes (PSD) em decreto publicado no Diário Oficial do município na segunda-feira (24).
Localizada no centro do Rio de Janeiro, bem perto da principal rodoviária da cidade e do acesso à ponte Rio-Niterói, a área tem 86.592 metros quadrados, segundo cálculo da Caixa.
O edital de licitação vai estipular como obrigatoriedade ao novo proprietário a implementação de equipamento específico no caso, arenas esportivas, o que amarra o leilão a favor do Flamengo. A previsão do clube e da prefeitura é que o edital seja publicado até o fim de julho e que a compra seja confirmada até setembro.
O Flamengo mostrou interesse no terreno no ano passado, realizou encontros com diretores da Caixa, mas jamais conseguiu avançar nas negociações o desejo pelo espaço começou a ser divulgado pelo clube a partir de março para causar comoção popular.
O projeto passou, então, a ser encabeçado por Paes, que, em vídeos publicados na redes sociais, pedia à Caixa flexibilização na negociação, e pelo deputado federal Pedro Paulo (PSD), considerado outro padrinho político da proposta.
Pedro Paulo é o favorito no entorno de Paes para ocupar a posição de vice em sua chapa, que concorrerá à reeleição em outubro.
“Finalmente a gente conseguiu ter uma convergência entendendo que o estádio é algo que, além de realizar um sonho da torcida do Flamengo, é importante para a cidade. Pode ser uma nova âncora de desenvolvimento da região”, afirmou o deputado.
Cacau Cotta, diretor de relações externas do Flamengo e pré-candidato a vereador pelo MDB, disse que o projeto só andou quando o “prefeito entrou de sola”.
“As conversas anteriores ao Carnaval eram conversas de gabinete. Mas, quando a gente sentiu que a Caixa não cederia, tornamos público para ver se a pressão popular junto com a prefeitura poderia convencer”, disse Cotta. “Não apostaram na caneta do prefeito.”
A Caixa tinha a expectativa de negociar com o mercado imobiliário. A previsão do banco era que o terreno do Gasômetro pudesse ser desmembrado e vendido em quatro partes para construção de empreendimentos residenciais de até 37 pavimentos.
Uma área em frente ao Gasômetro foi comprada pela prefeitura para a construção do terminal Gentileza, conexão entre ônibus, VLT e BRT, inaugurado em março. O estádio, se de fato construído, ficará diante do maior eixo de transporte da cidade.
A prefeitura estabeleceu com o Flamengo um projeto de melhoria viária e reformulação dos passeios públicos e do sistema de transporte. As partes também trataram da criação de um centro de convenções e um estacionamento acoplado a um prédio comercial.
Especialistas em mobilidade urbana, no entanto, afirmam que um estádio na região vai gerar problemas graves.
“Aquela área de São Cristóvão é importante não só para o Rio mas para toda a região metropolitana. Já há ali equipamentos geradores de fluxo”, afirmou Themis Aragão, professora de arquitetura de urbanismo do Ibmec e pesquisadora do Observatório das Metrópoles.
“O terminal Gentileza e a rodoviária são espaços de circulação de ônibus, com transporte de média e pequena capacidade. Não dão vazão para um estádio com 40 mil ou mais pessoas chegando e saindo no mesmo horário. É diferente do Maracanã e do Nilton Santos, que possuem estação de metrô e trem ao lado.”
A área onde o Flamengo pretende construir o novo estádio abrigou por quase cem anos a central de armazenamento de gás do Rio de Janeiro. O Gasômetro foi desativado em 2006, por conta da substituição do gás manufaturado pelo gás natural.
O terreno tem formato retangular. Por isso, o Flamengo planeja um estádio quadrado, como boa parte das novas arenas, não olímpico e circular como o Maracanã. Membros da diretoria visitaram o espaço nesta semana. Eles avaliaram que o terreno plano e a pouca estrutura que sobrou do Gasômetro podem facilitar o avanço da obra.
Pela dimensão do local, a primeira análise do clube aponta para a construção de um estádio menor em largura e maior em altura. Uma das possibilidades é construir dois ou mais anéis de arquibancada. O clube deseja uma capacidade máxima entre 80 mil e 90 mil pessoas. A previsão é que as obras demorem ao menos quatro anos.
Nas redes sociais, parte da torcida demonstra preocupação com o encarecimento do preço dos ingressos.
“A criação de setor popular está sendo exaustivamente debatida. Temos na diretoria defensores disso, entre eles eu”, disse Cacau Cotta.
O clube espera desembolsar entre R$ 150 milhões e R$ 160 milhões pelo terreno e afirma ter este dinheiro em caixa. No orçamento de 2023, o Flamengo apresentou receita recorrente acima de R$ 1 bilhão, sem contar a negociação de atletas. O clube carioca estima um patrimônio líquido de R$ 696 milhões ao fim de 2024.
No início deste mês, o consórcio formado por Flamengo e Fluminense foi declarado o vencedor da licitação para a administração do Maracanã por 20 anos. A dupla Fla-Flu já administrava o estádio provisoriamente desde 2019, quando o então governador Wilson Witzel rompeu o contrato com a Odebrecht.
O Flamengo entende que, após a inauguração da própria arena, o uso do Maracanã será eventual. O estádio deverá ser mantido com shows e jogos do Fluminense.
YURI EIRAS / Folhapress