SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Festa Literária Internacional de Paraty divulgou nesta quarta-feira a lista dos autores confirmados em sua edição de 2023, com um elenco de amplo domínio feminino, destaque para artistas brasileiras e poucas estrelas de fora.
Dos 38 nomes anunciados, 28 são mulheres, algo que se alinha à homenagem a Patrícia Galvão, a Pagu, uma das mais relevantes ativistas e intelectuais do século 20.
“Nós não fizemos um levantamento para que isso acontecesse nem vemos a necessidade de enfrentar um silenciamento. Foi um movimento natural, pela força da identificação da homenageada com a obra produzida por mulheres”, afirma a editora Fernanda Bastos, que divide a curadoria com a professora Milena Britto.
“A Flip teve uma história com pouca participação feminina”, continua Britto. “Isso é fato, mas esse não é o nosso fato.”
O outro grande homenageado da edição será o escritor e tradutor Augusto de Campos, biógrafo de Pagu e talvez o mais relevante poeta brasileiro vivo, celebrado como “artista em destaque” nesta edição.
O mais provável é que o autor de 92 anos não esteja presente em Paraty, assim como aconteceu em 2022, quando a Flip passou a celebrar um artista vivo na figura de Claudia Andujar.
Entre os 13 escritores internacionais confirmados na festa, que acontece de 22 a 26 de novembro em Paraty, ainda não haviam sido divulgados os nomes de Akwaeke Emezi, que nasceu na Nigéria, escreveu o elogiado “A Morte de Vivek Oji” e se identifica como pessoa não binária; e Alana Portero, celebrada escritora trans espanhola que terá seu “Maus Costumes” lançado pela Record.
Os outros autores estrangeiros mais proeminentes já haviam sido confirmados, como é o caso da equatoriana Mónica Ojeda, de “Mandíbula”, do ucraniano Ilia Kaminski, de “República Surda”, e da americana Christina Sharpe, de “No Vestígio” que virá com sua companheira, a poeta Dionne Brand, também referência no pensamento negro e autora de “Um Mapa para a Porta do Não Retorno”.
No geral, contudo, será uma festa de poucos convidados arrasa-quarteirão, com apostas em autores menos conhecidos do público. É a mesma toada do programa do ano passado, que teve a exceção notável de Annie Ernaux como sua estrela mais vistosa a francesa ganhou o Nobel de Literatura poucas semanas depois de ter sua vinda a Paraty confirmada.
“Muitas vozes que são desconhecidas nacionalmente fazem um trabalho sólido que interfere muito no lugar de onde estão falando”, afirma Britto, lembrando como Augusto de Campos fala em uma autoria “à margem da margem”.
No ano passado, quando ela e Bastos dividiram a curadoria com o professor Pedro Meira Monteiro, havia 12 escritores estrangeiros num total de 43 convidados. Agora, haverá 13 nomes de fora do Brasil para uma escala de 38 autores listados até agora.
Os escritores nacionais concentram figuras populares como Itamar Vieira Junior, colunista da Folha de S.Paulo; Natalia Timerman, autora de “Copo Vazio” cujo novo “As Pequenas Chances” também tem circulado bastante entre leitores; e a ex-deputada Manuela D’Ávila, que foi candidata à Vice-Presidência na chapa petista em 2018, ao lado de Fernando Haddad.
Na lista de novidades há ainda veteranas da intelectualidade brasileira como a dramaturga Leda Maria Martins e a ensaísta Flora Süssekind; poetas consolidadas como Angélica Freitas, Bruna Beber e Marília Garcia; e autores que têm despontado na cena literária, como José Henrique Bortoluci, de “O que É Meu”, e Luiza Romão, vencedora do Jabuti do ano passado por “Também Guardamos Pedras Aqui”.
Veja a seguir a lista completa dos autores do programa principal da Flip, ainda sem a divisão exata dos dias e mesas em que se apresentarão. Também não há informação, por enquanto, sobre a venda de ingressos, que deve começar em algumas semanas.
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INTERNACIONAIS:
● Akwaeke Emezi (Nigéria, EUA)
● Alana Portero (Espanha)
● Christina Sharpe (EUA)
● David Jackson (EUA)
● Dionne Brand (Trinidad e Tobago, Canadá)
● Ilia Kaminski (Ucrânia, EUA)
● Kelefa Sanneh (Inglaterra, EUA)
● Laura Wittner (Argentina)
● Manuel Multimucuio (Moçambique)
● Marion Aubert (França)
● Mónica Ojeda (Equador)
● Nora Krug (Alemanha)
● Sinéad Gleeson (Irlanda)
NACIONAIS:
● Adriana Armony (Rio de Janeiro, RJ)
● Angélica Freitas (Porto Alegre, RS)
● Bruna Beber (Duque de Caxias, RJ)
● Carla Akotirene (Salvador, BA)
● Denise Carrascosa (Salvador, BA)
● Eliane Marques (Sant’Ana do Livramento, RS)
● Felipe Charbel (Rio de Janeiro, RJ)
● Flora Süssekind (Rio de Janeiro, RJ)
● Glicéria Tupinambá (Terra Indígena Tupinambá de Olivença)
● Gustavo Caboco (Território Wapichana)
● Itamar Vieira Junior (Salvador, BA)
● Joice Berth (São Paulo, SP)
● Jorge Augusto (Salvador, BA)
● José Henrique Bortoluci (Jaú, SP)
● Leda Cartum (São Paulo, SP)
● Leda Maria Martins (Rio de Janeiro, RJ)
● Lubi Prates (São Paulo, SP)
● Luiza Romão (Ribeirão Preto, SP)
● Manuela DÁvila (Porto Alegre, RS)
● Maria Dolores Rodriguez (Feira de Santana, BA)
● Marília Garcia (Rio de Janeiro, RJ)
● Miriam Esposito (Paraty, RJ)
● Natalia Timerman (São Paulo, SP)
● Socorro Acioli (Fortaleza, CE)
● Tatiana Pequeno (Niterói, RJ)
WALTER PORTO / Folhapress