Flip tem atrito com editoras independentes por mudança de mapa e taxa

PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – A Festa Literária Internacional de Paraty começou com um atrito entre o evento e as editoras independentes que compraram espaços para comercializar seus livros. Os editores foram surpreendidos com o fato de seus estandes estarem em um local mais afastado do que o combinado. Para chegar até lá, é preciso cruzar a ponte que sai do centro histórico, dobrar à direita, passar pelo chamado Palco do Areal e ainda atravessar um espaço com comerciantes.

Em nota, a Flip diz que o projeto da Praça Aberta –onde ficam as editoras independentes, o palco do Areal e os comerciantes– “foi elaborado para que todos os atores que ocupam esse espaço pudessem realizar suas atividades da melhor maneira possível”.

“O diálogo com múltiplos atores sempre foi fundamental na construção da Flip. Há mais de 20 anos, a Flip produz arquiteturas de temporalidade intermediária, fruto de pesquisa e interpretação daquilo que emerge a cada ano”, diz a nota.

Os editores julgaram que a nova área fica escondida, na comparação com o ano passado, quando o público precisava passar pelos estandes deles antes de chegar ao Palco do Areal e ao espaço da Festa Literária Pirata das Editoras Independentes, a Flipei, que não acontece desta vez.

O grupo de 30 editoras pagou até R$ 3.000 por um estande que, segundo eles, ficaria onde está o Palco do Areal. “Descobrimos a mudança quando chegamos. Foi na base do susto”, diz João Varella, da Lote 42. “Vendemos 20% menos do que em 2022, quando ocupamos o espaço que hoje é do Areal. Só que, neste ano, investimos mais em decoração, então o resultado está 40% pior.”

Wallison Gontijo, da Impressões de Minas, era outro a protestar nesta quinta-feira (11). “A Flip é uma festa em que a prioridade são os livros, então as coisas precisam vir para adornar os livros, e não o contrário”, afirma.

A primeira a disparar o alerta tinha sido a editora Chris Fuscaldo, da Garota FM Books, em uma mensagem aos colegas. “O mapa enviado esta semana mostra apenas a área das editoras, mas não mostra que essa área é a última coisa da Flip, e que depois da gente nem Flipei tem mais”, escreveu. “Não acho nem um pouco justo nos cobrar por essa localização.”

A venda de livros é um conflito na Flip. Afinal, a festa literária tem uma livraria oficial, a Travessa, que paga ao evento, além de um valor fixo pelo direito a um espaço próprio, uma participação nas suas vendas.

Uma fonte com conhecimento das negociações diz que o valor pode chegar à casa das centenas de milhares de reais. Dessa forma, a venda de livros por editores independentes e casas parceiras acaba criando uma concorrência para a Travessa.

Neste ano, a Flip teve um atrito com os participantes paralelos ao tentar proibir a venda de livros fora da livraria oficial. Mas acabou voltando atrás e decidiu cobrar uma taxa mínima de R$ 1.000 por um selo Livraria da Flip.

Segundo diz a Associação Casa Azul, responsável pela festa, o selo oficializa o compromisso de cada casa com “meio ambiente, responsabilidade social e gestão participativa do território” da cidade.

É uma ação que “visa conscientizar os parceiros em relação ao impacto causado pelos resíduos durante os dias da festa, amenizando a sobrecarga na infraestrutura do sensível território de Paraty”, diz uma nota enviada à reportagem.

De acordo com a Flip, a proposta foi negociada com a prefeitura e o Iphan, responsável pelo patrimônio histórico do centro de Paraty. A taxa de R$ 1.000 está sendo destinada a uma ONG, o Instituto Colibri, que atua com coleta seletiva na cidade fluminense.

“Cobrar a taxa em si não é errado. Quando participamos da Feira da USP temos que pagar”, diz Simone Paulino, editora da Nós e uma das organizadoras da Casa Paratodos. “O problema foi a forma como isso foi colocado, sem a delicadeza e o respeito que as casas parceiras merecem.”

MAURÍCIO MEIRELES / Folhapress

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