Flup 2024 põe periferia no centro do mundo ao trazer intelectualidade negra ao Rio

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A próxima Festa Literária das Periferias começa no próximo sábado (11), com uma reunião de vozes intelectuais negras e uma celebração da historiadora, poeta e cineasta Beatriz Nascimento, homenageada desta edição.

Entre suas 13 edições anteriores, a Flup já homenageou Machado de Assis, Esperança Garcia e Carolina Maria de Jesus; e dessa vez terá foco em “uma das intelectuais mais importantes da história deste país”, segundo Julio Ludemir, idealizador e diretor da festa.

Nascimento começou a reinvenção da pessoa negra no espaço cultural, político e histórico brasileiro na década de 1970, em meio à ditadura, trazendo à tona debates que hoje norteiam movimentos negros no Brasil.

O evento de abertura reunirá duas amigas de Nascimento: Conceição Evaristo, que escreveu um de seus poemas mais importantes (“A Noite Não Adormece nos Olhos das Mulheres”) sobre a historiadora, e Helena Theodoro, que escreveu a obra “Negro e Cultura no Brasil” em parceria com ela.

“Esse debate será certamente envolvido por afeto. Estamos falando de três grandes amigas”, afirma o diretor do evento. Para Ludemir, todo o feminismo negro presente na atualidade brasileira foi antecipado “na amizade, na troca de afetos e na cumplicidade dessas três mulheres”.

A agenda anual da Flup será aberta com um debate sobre a intolerância religiosa, tema que perpassa todas as ações do ano. Segundo Ludemir, “existe uma guerra religiosa em curso, em escala mundial, que está reeditando o debate que gerou os imperialismos da sociedade cristã”.

A Flup foi idealizada desde o início com a proposta de ser um grande festival literário dentro da favela. Um elemento importante na agenda deste ano são os diálogos sobre periferias globais, próximas ao encontro do G20, no Rio de Janeiro —a festa continua com sua programação principal de 11 a 17 de novembro, incluindo nomes como Alaíde Costa, Eliana Pittman, Zezé Motta, Dona Onete e Lia de Itamaracá.

Ludemir defende que “este é o século das periferias”, que entende como o maior fenômeno demográfico da contemporaneidade.

“As periferias estão impactando e redesenhando o centro em todos os lugares do mundo. Não existirá centro sem que o centro entenda a periferia. O que o centro sabe fazer com a periferia, por enquanto, é matar. Não é muito diferente do que Israel está fazendo com a Palestina, do que a Polícia Militar do Rio de Janeiro faz com jovens negros.”

A curadora internacional desta edição —uma posição, aliás, recém-inaugurada para ampliar o intercâmbio de conhecimento da Flup com o mundo— é a cineasta francesa Mame-Fatou Niang, fundadora de um centro para estudos negros europeus e atlânticos, na Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos.

Niang, apesar de hoje ter projeção em universidades dos grandes centros ocidentais, é uma mulher negra de origem senegalesa, e, como afirma Ludemir, isso a associa às periferias. “O corpo negro dela chega antes de todos os seus títulos.”

Segundo ele, os temas debatidos no evento se refletem também na sua estrutura. “Tudo na Flup tem representatividade. A equipe da Flup é negra. É uma equipe não binária. É uma equipe de mulheres. Eu sou a exceção e a extinção na Flup”, diz Ludemir, que é um homem branco.

“Tudo começou como um projeto de uma classe média progressista clássica. E daqui a dois, três anos, não vou estar mais comandando a Flup.”

ABERTURA DA AGENDA ANUAL DA FLUP

Quando Sáb. (11), a partir de 12h

Onde Circo Crescer e Viver – r. Carmo Neto, 143, Cidade Nova, Rio de Janeiro

Preço Gratuito

ISADORA LAVIOLA / Folhapress

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