‘Foi questão de sair com roupa e documento’, diz morador de Gramado (RS) sobre rachaduras

HARMONIA, RS (FOLHAPRESS) – As chuvas acima da média que afetam o Rio Grande do Sul desde a última sexta-feira (17) já deixaram milhares de desalojados e desabrigados, causaram danos materiais e trouxeram insegurança em relação ao futuro de suas localidades frente ao risco de desastres.

Em Gramado, cidade turística da serra gaúcha, a população vive momentos de incerteza após o surgimento de rachaduras em três bairros do município, algumas de até 150 metros de comprimento. Nesta quinta-feira (23), um prédio desabou. Ninguém ficou ferido.

Todas as residências do bairro Três Pinheiros foram interditadas preventivamente no domingo (19), assim como 23 moradias em apenas uma rua no bairro Piratini e outros trechos pontuais.

Agora, os moradores desses bairros ficam no aguardo para entender quais serão os próximos passos.

A cidade, um dos maiores polos turísticos do Sul do Brasil, foi atingida por um fenômeno chamado movimento de massa.

A remoção das famílias do bairro Três Pinheiros foi rápida, conta o afiador de cutelaria Eder Leandro Rossa, morador que participou das ações de evacuação.

No sábado, Rossa estava prestando apoio aos afetados pela enchente na região do Vale do Paranhana, próxima a Gramado. Depois de retornar à cidade, começou a receber mensagens sobre as rachaduras no solo e o risco de desabamento do prédio no domingo de manhã.

Ele se mobilizou junto a outros moradores, e logo em seguida a administração municipal emitiu as notificações de risco. “Em menos de uma hora o bloco maior de pessoas a gente conseguiu evacuar. Foi questão de sair com a roupa e o documento, foi rápido para tirar”, diz Rossa.

Ele conta que ainda não havia um estudo técnico aprofundado sobre a situação do terreno, mas havia precedentes de desastres do tipo, em proporção reduzida. Em 2002 houve um desmoronamento grande no local, o que levou à construção de muros de contenção que mitigaram o problema por quase 20 anos.

“Agora se repetiu, em uma escala maior”, diz. “Desde 2002 quando foram feitas as contenções se tinha uma ideia de que já era área segura, e agora se desfez a condição.”

Enquanto a situação não se regulariza, Rossa continua próximo ao bairro integrando uma equipe de moradores locais para cuidar do bairro.

“Desde domingo ao meio dia durmo no meu carro. Ontem [quinta-feira, dia 23], me dei o privilégio de jantar uma comida quente e deitar em uma cama. Estou dormindo no carro, tomando banho com garrafinha d’água, porque não consigo sair daqui, me distanciar do pessoal sabendo que eles precisam de alguma coisa”, conta.

Uma das preocupações agora é, além da questão patrimonial, o suporte emocional às famílias desalojadas.

“Todas as pessoas estão com os nervos à flor da pele. A condição sim é de se romper [as contenções], a gente só não sabe a dimensão, nem quando. Essa tensão de não saber é o que incomoda”, lamenta Rossa. “Quem tinha casa em um dia, no outro já estava procurando algo para alugar. É complicado”.

Cidades alagadas

Além dos estragos em Gramado, outras cidades sofreram com os impactos da chuva que atingem o Rio Grande do Sul.

De acordo com as últimas informações da Defesa Civil gaúcha, o estado ainda tem 24,1 mil desalojados e 3.837 cidadãos em abrigos públicos, distribuídos nos 194 municípios que reportaram algum tipo de dano. 40 cidades já decretaram situação de emergência até as 12h desta sexta-feira, e o governo espera que o número aumente assim que outras prefeituras terminarem de enviar a documentação necessária.

Em Eldorado do Sul, cidade vizinha a Porto Alegre, aproximadamente 10 mil pessoas foram afetadas direta ou indiretamente pela enxurrada do rio Jacuí, com 700 desabrigados acolhidos em dois ginásios.

Em São Sebastião do Caí, o nível do rio Caí atingiu 16 metros de sábado para domingo, a maior marca registrada nos 148 anos de existência da cidade. Mais de 80% dos moradores foram atingidos pela água, com 1,3 mil habitantes resgatados pelos bombeiros. A enchente do rio Caí foi a terceira de grande porte no ano, e cidades da região como Alto Feliz, Harmonia, Tupandi e Vale Real também decretaram situação de emergência.

Moradores caminham em rua alagada em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul Lucio Tavora/Xinhua mulheres caminham em rua alagada ****

CARLOS VILLELA / Folhapress

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