SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Foliões ouvidos pela reportagem do UOL admitiram o receio com a escalada da violência no centro de São Paulo, mas elogiaram a reocupação das ruas da região por meio de blocos e festas populares e pediram mais políticas públicas ao local, tido por alguns como “abandonado, degradado e violento”.
A capital paulista iniciou o período de pré-Carnaval, com o desfile de blocos pelo centro, neste sábado (3). Atrações como Unides do Grande Mel, Coletivo SPandeiro e Eletro Afro Muriçoca Soul ignoraram a “má-fama” da região e arrastaram foliões.
O centro da capital paulista tem preocupado moradores e autoridades devido ao aumento no número de ocorrências. República, Consolação e Bela Vista puxaram o ranking dos locais da cidade com mais roubos ou furtos de celular, no 1º semestre de 2023. A Cracolândia também tem se espalhado.
Ao UOL, Otávio Júlio, mercadólogo de 24 anos, contou que chegou cedo para o desfile. “Pra mim, é a melhor época do ano, época em que você coloca aquele look extravagante, que você se joga, que você brinca”, disse, entusiasmado, resumindo o seu sentimento sobre o período de Carnaval.
Ele explica que sempre curtiu os blocos no centro de São Paulo, porque considera que os melhores saem daí. Mas há ressalvas. “A gente sabe que a região é perigosa, um lugar onde é preciso ter cuidado e estar preparado”, pontua. “As minhas dicas de segurança são: utilizem todas as ferramentas tecnológicas possíveis em seu celular. Se possível, desinstale o app do banco. Saque dinheiro físico, pega um doleira e não esqueça de prender o zipper de sua doleira”, acrescenta, na sequência.
Eduardo Carrício, 34, trabalha com vendas e mora na região central há 9 anos. É daqueles que não perdem o Carnaval por nada na vida, embora saiba dos desafios que é morar e se divertir no local. “Eu já frequento o Carnaval de rua de São Paulo há bastante tempo. Então você aprende algumas coisas, sabe um pouco como se proteger. Sinto medo? Sim. Dependendo do horário e de onde você está, rola uma insegurança. Mas você já vem preparado, com alguns cuidados -uma doleira, não ir sozinho na rua detrás ou sair com amigos na hora de ir embora-, para não estragar a sua festa.”
A chilena Andréa Campos, 54 anos, veio com um grupo de cinco amigas oriundas de Viña del Mar (Chile). Está há três dias no Brasil. É a sua primeira vez no país e também num bloco de Carnaval. “Estamos gostando bastante. É bonito. Nunca havíamos algo parecido”, afirma ela sorridente. Insisto na questão sobre a violência: “Nos disseram para termos cuidados, como bolsa segura e o uso de celular”.
Apesar do temor, foliões acreditam que a ocupação das ruas através de festas e da cultura podem ajudar na recuperação do centro de São Paulo. “A gente fica sempre um pouco apreensiva e toma alguns cuidados, mas é muito gostoso também ocupar as ruas de um outro jeito. Vale a pena”, avalia Cleo Magalhães, 36 anos, professora de educação infantil.
“É muito importante de estar aqui para reocuparmos o centro e dar movimento a ele. É preciso mais políticas públicas para ocupá-lo. Eu acho que é fundamental para a cidade ter cultura, acesso livre no centro da cidade”, afirma Mateus Rezende, 27, analista de sistema.
GILVAN MARQUES / Folhapress