Foo Fighters toca no The Town renovado após a morte do baterista Taylor Hawkins

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dezoito meses depois da maior crise vivida pelo Foo Fighters, com a morte do baterista Taylor Hawkins, em março do ano passado, poucas horas antes de um show em Bogotá, na Colômbia, a banda virá ao Brasil de ânimo aparentemente renovado.

Dave Grohl e sua banda acabam de lançar seu 11º álbum de estúdio, “But Here We Are”, e estão em meio a uma turnê mundial que teve shows marcantes, como uma aparição surpresa no megafestival de Glastonbury, na Inglaterra, em que a banda, sob o epíteto de “The ChurnUps”, fez uma apresentação explosiva de uma hora de duração.

O baterista escolhido para substituir Hawkins foi Josh Freese, um veterano que já tocou com Nine Inch Nails, Tool, Sting e Offspring. Grohl, um ás do marketing, resolveu anunciar a entrada de Freese na banda com um divertido filmete.

Na gravação, um ensaio da banda é interrompido pela chegada de três famosos bateristas -Chad Smith, do Red Hot Chili Peppers, Tommy Lee, do Motley Crue, e Danny Carey, do Tool-, até que um quarto baterista, Freese, surge e começa a tocar com o grupo.

Não vai ser fácil para Freese substituir Hawkins, que é um grande amigo de Grohl, adorado pelos fãs do Foo Fighters e que pediu demissão da banda de Alanis Morrisette, uma das maiores vendedoras de discos dos anos 1990, para se aventurar no grupo de Grohl.

Hawkins entrou no Foo Fighters no terceiro LP do grupo, “There Is Nothing Left to Lose”, lançado em 1999, e tocou nos sete álbuns seguintes. Grohl e Hawkins se conheceram em meados dos anos 1990, nos bastidores de um show, e imediatamente se tornaram camaradas.

Grohl ficou impressionado com o talento e a potência de Hawkins na bateria e o convidou para se juntar ao Foo Fighters. “Eu estava torcendo para ele aceitar o convite”, disse Grohl. “Mas, sinceramente, não achava que ele toparia, porque Alanis era a maior artista do mundo na época.” Mas Hawkins nem titubeou.

Não é de hoje que Grohl precisa lidar com o luto para fazer sobreviver o Foo Fighters. Como bem escreveu a crítica Lindsay Zoladz no The New York Times, o grupo é um projeto nascido da tristeza, quando Grohl, arrasado com o suicídio de seu companheiro no grupo Nirvana, Kurt Cobain, gravou sozinho o primeiro disco do Foo Fighters.

“Grohl fez uma transição graciosa de trás da bateria para o centro do palco”, escreveu Zoladz. “Pelas três décadas seguintes, usou seu carisma e disciplina para ajudar o Foo Fighters a sobreviver muito depois do auge do rock alternativo dos anos 1990. O Foo Fighters não só durou mais que o Nirvana, mas Grohl tem feito discos por mais tempo do que durou a vida de Kurt Cobain.”

O disco mais recente do grupo é um louvor a Taylor Hawkins. O luto começa pelo título -“But Here We Are”, ou mas aqui estamos, evidente palavra de ordem que mostra a resiliência do grupo em face à tragédia.

A faixa-título diz “inocência que se esvai/ eu lhe dei meu coração/ mas aqui estamos nós/ eu salvei meu coração/ mas aqui estamos nós”. Em “Rescued”, Grohl canta “tudo aconteceu de repente/ veio do nada/ aconteceu tão rápido/ e depois acabou”.

Mas a faixa com a alusão mais clara a Hawkins é “Rest”. Sobre um violão plangente, Grohl declama “descanse, agora você pode descansar/ descanse, você está seguro agora/ amor e confiança /a vida é só um jogo de /azar/ todo esse tempo fugindo de nós até que nosso tempo acabe”.

Musicalmente, Grohl não é nenhum Kurt Cobain -e nem tenta ser. Se a música do Nirvana tinha algo de enigmática e indecifrável, com as letras pessoais e misteriosas de Cobain, que até hoje suscitam discussões entre fãs, os discos feitos por Grohl com o Foo Fighters são muito mais simples e diretos.

As letras de Grohl tendem muitas vezes ao clichê e a metáforas simplórias, e a banda abusa de fórmulas roqueiras de canções que começam lentas e têm refrãos explosivos.

Grohl começou no punk rock. Uma de suas primeiras bandas, antes de entrar para o Nirvana, foi a Scream, de Washington, que fazia um som muito rápido e agressivo. Apesar das credenciais punk, o gosto de Grohl é eclético, e ele nunca escondeu sua paixão pela música pop e por artistas populares e acessíveis como Elton John e Eagles.

Com o Foo Fighters, Grohl conseguiu aperfeiçoar uma sonoridade que consegue ser radiofônica sem deixar de ser pesada, fazendo uma espécie de “grunge de FM” que é sucesso há mais de três décadas.

É realmente notável como Grohl conseguiu sair do posto de coadjuvante de uma banda icônica, mas fugaz, para virar líder de um grupo que lota estádios em todo o mundo e tem uma carreira de 30 anos. Carismático e dono de um tino comercial extraordinário, Grohl virou uma unanimidade no meio musical, querido por artistas de todos os gêneros.

Nos últimos meses, ele deu até uma canja no show do Guns N’ Roses em Glastonbury, esquecendo as famosas rusgas que o Nirvana teve com Axl Rose na década de 1990. Hoje, “Grohl Paz e Amor” só faz amigos. E milhões.

FOO FIGHTERS NO THE TOWN

Quando Dia 9 de setembro, às 23h

Onde Palco Skyline

ANDRÉ BARCINSKI / Folhapress

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