FORTALEZA, CE (FOLHAPRESS) – O segundo turno da eleição pela Prefeitura de Fortaleza chega à reta final em uma disputa acirrada com claro reflexo da polarização entre o PT de Lula e o PL de Jair Bolsonaro.
André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT), que se enfrentam neste domingo (27), representam campos ideológicos distintos em um embate que ganhou forte peso no xadrez político.
Diante do desempenho nacional fraco no primeiro turno, Fortaleza, quarta capital mais populosa do Brasil e maior cidade do Nordeste, passou a ser a principal aposta do PT. Há ainda a avaliação de que esse segundo turno pode representar uma espécie de ensaio para 2026.
Para a direita, ganhar significaria um avanço estratégico em uma região historicamente ligada à esquerda. A capital cearense é comandada pelo campo político de Lula desde 2005.
No primeiro turno, Fernandes saiu na frente, com 40,2% dos votos válidos ante 34,3% do petista.
As pesquisas recentes mostram um empate técnico. No levantamento da Quaest divulgado na quarta (23), o petista apareceu com 44% das intenções de voto, ante 42% de Fernandes. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Leitão se filiou ao PT em dezembro, após trajetória política no PDT, e durante a campanha investiu nas imagens de seus padrinhos políticos: Lula e os também petistas Camilo Santana, ministro da Educação e ex-governador do Ceará, e Elmano de Freitas, atual governador do estado, .
Nos jingles, peças publicitárias e nos debates, o petista fez referências ao “time do Evandro” e afirmou que Fortaleza seria beneficiada pelo diálogo com as esferas estadual e federal.
Do outro lado, Fernandes foi acusado por adversários de esconder Bolsonaro, diante da rejeição dele no estado, e adotou tom moderado, diferente da postura que tem como deputado da ala bolsonarista na Câmara.
Ele lançou como mote de campanha a frase “coragem para mudar”, com foco na modernização da capital, e aposta na renovação, projetando-se como um nome “contra o sistema”.
Bolsonaro esteve uma vez em Fortaleza para participar de atividade de campanha do aliado. Nas redes sociais, nos debates e nas peças publicitárias, Fernandes evitou citar nominalmente o padrinho político, mesmo quando questionado por adversários. Nessas ocasiões, afirmava que o candidato era ele, e não o ex-presidente.
Por outro lado, exibiu apoio de outras figuras do bolsonarismo. Gravou vídeo ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e recebeu o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) em dois atos.
Na noite de quinta (24), Nikolas participou de caminhada ao lado de Fernandes e disse que a disputa na capital cearense representa a mudança do Brasil.
“Fortaleza tem a oportunidade de dar um recado para todo o Brasil de que vocês querem algo diferente e novo. A eleição daqui está sendo falada em todo o Brasil”, disse. “Fortaleza vai eleger pela primeira vez um jovem de direita, conservador e que defende a família”.
Fernandes conseguiu apoio público do ex-PM Capitão Wagner (União Brasil), quarto colocado no primeiro turno, e de uma ala do PDT, que se manteve neutro após o prefeito José Sarto (PDT) terminar em terceiro lugar.
Uma dessas lideranças foi o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT), que declarou apoio ao bolsonarista e participou de agendas ao lado do ex-adversário. O ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), que teve atuação tímida na campanha de Sarto, não se posicionou publicamente, mas descartou apoiar Leitão, afirmando que não seria “puxadinho do PT”.
Já Lula esteve duas vezes em Fortaleza: participou da convenção que lançou oficialmente a candidatura de Leitão, em 3 de agosto, e de um comício do candidato petista no dia 11 de outubro.
Leitão também contou com outras duas figuras da esquerda neste segundo turno: o prefeito do Recife, João Campos (PSB), e o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), participaram de atividades do petista, separadamente.
Uma vitória do petista na cidade fortaleceria as lideranças que atuaram na campanha, sobretudo Camilo.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), que atua na campanha de Leitão, disse à Folha que o resultado da eleição em Fortaleza “diz muito para o nosso projeto nacional”.
“O estado se projeta cada vez mais na relação com o PT e com o próprio governo. O simbolismo dessa vitória interdita a entrada do bolsonarismo no Nordeste, na principal capital, e é uma ponta de lança para nosso projeto de reeleição a nível estadual e federal”, diz.
VICTORIA AZEVEDO / Folhapress