Fortaleza vive ataques entre 4 favoritos e tem até chuva de ovos em disputa parelha

FORTALEZA, CE (FOLHAPRESS) – Não teve cadeirada nem soco na cara, mas a disputa pela Prefeitura de Fortaleza, a mais parelha entre as principais capitais, chega à reta final em alta voltagem, com troca de posições nas pesquisas, crescimento de acusações e um acirramento nas ruas que teve até chuva de ovos sobre um dos concorrentes.

Quatro candidatos seguem com chances de ir ao segundo turno na quarta cidade mais populosa do país.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta (25), André Fernandes (PL) tem 27% das intenções de voto, Evandro Leitão (PT), 25%, Capitão Wagner (União Brasil), 17%, e José Sarto (PDT), prefeito que tenta a reeleição, 15%. A margem de erro do levantamento, contratado pelo jornal O Povo, é de três pontos para mais ou para menos.

Outros institutos mostram uma disputa ainda mais embolada –em agregadores de pesquisas, a diferença entre o primeiro e o quarto colocados tem sido de menos de dez pontos.

Wagner começou a corrida liderando com folga. No primeira Datafolha, no fim de junho, tinha 32%, seguido de longe por Sarto (19%), André (14%) e Evandro (8%). A novidade das últimas semanas foi o crescimento de André, que assumiu a liderança numérica em meados deste mês, e de Evandro, cuja subida é proporcionalmente a maior.

Apesar de a troca de fogo ser generalizada, como mostra a guerra de jingles entre André e Sarto (o primeiro fez “É Culpa do Sarto”, adaptada pelo segundo para mostrar suas realizações), os ataques mais constantes e virulentos ocorrem entre os candidatos do mesmo espectro ideológico: os dois alinhados à direita (André e Wagner) se digladiam, e o mesmo se dá entre os esquerdistas Evandro e Sarto.

Líder de um motim da PM cearense ocorrido na passagem de 2011 para 2012, Wagner depois se elegeu vereador, deputado estadual e deputado federal. Foi segundo colocado em três das últimas eleições (para prefeito de Fortaleza, em 2016 e 2020, chegou ao segundo turno; para governador, em 2022, caiu no primeiro turno, vencido pelo petista Elmano de Freitas).

A perda de eleitores para André, um ex-youtuber bolsonarista que foi o deputado federal mais votado do Ceará em 2022, fez Wagner transformar o candidato do PL de ex-aliado em alvo preferencial, usando boa parte de suas peças de campanha e entrevistas para fustigá-lo.

O ex-PM levou à TV vídeos de André adolescente cheirando um pó branco e esfaqueando um papelão em que está escrito “minha namorada”. Eram “desafios” ou “brincadeiras” do então youtuber (o pó branco era sal), mas a edição eliminou o contexto. André, hoje com 26 anos, diz que eram “bobagens de adolescente” e se declarou decepcionado com o ex-aliado. “É como se eu estivesse sendo apunhalado pelas costas.”

Wagner também tem exposto as posições de extrema direita do rival, como votos contrários ao projeto de lei que ampliou a pena para feminicídio e ao que impõe igualdade salarial entre mulheres e homens.

“O sonho do PT é enfrentar o candidato do PL e nacionalizar o debate”, diz Wagner, para quem o governo cearense estimulou a cisão na direita para aumentar suas chances de vitória. “Querem fazer isso para que no segundo turno seja fácil desmontar a candidatura de um jovem que infelizmente não tem a menor condição de governar a cidade.”

O racha na esquerda era mais esperado, desde o rompimento da aliança estadual entre o PT do ex-governador e atual ministro da Educação, Camilo Santana, e o PDT de Ciro Gomes. Na briga, o senador Cid Gomes, irmão de Ciro, trocou o PDT pelo PSB –e apoia Evandro Leitão.

Deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, Evandro foi outro que, na cisão, deixou o PDT e se filiou ao PT –a ex-prefeita Luizianne Lins também pleiteou a candidatura, mas perdeu nas prévias e não tem feito campanha para o novo correligionário.

Enquanto Evandro vem subindo nas pesquisas, Sarto tenta conter sua queda registrada pelo Datafolha investindo contra o petista recém-convertido, principalmente explorando os altos índices de crimes violentos registrados no Ceará, governado pelo PT. Embora a segurança seja da alçada estadual, é um tema onipresente na campanha em Fortaleza.

Evandro, por sua vez, gruda em Sarto a criação da taxa do lixo, sancionada pelo prefeito em 2023 e naturalmente impopular entre os eleitores.

“São quatro candidaturas fortes, não menosprezo absolutamente nenhuma, tenho muita humildade. Mas, apesar de os números demonstrarem proximidade, a campanha que mais cresce é a minha: comecei com 3%, 4% e estou com mais 20%”, afirma Evandro, que ressalta o apoio do presidente Lula, do ministro Camilo Santana e do governador Elmano de Freitas –que em 2022, à maneira dele, começou atrás e cresceu ao longo da campanha.

Em carreata no último dia 17, Evandro foi alvo de uma chuva de ovos. O candidato não se manifestou, mas, nos bastidores, seus aliados atribuem a ação a partidários de Sarto.

Em parte decorrente do racha na esquerda, outra novidade desta campanha é, na verdade, uma ausência: o sumiço de Ciro Gomes. Principal liderança política de expressão nacional do Ceará há até poucos anos, o pedetista virou agora um padrinho tóxico. Apoia Sarto, mas praticamente não aparece na campanha.

Em debate promovido pelo grupo de comunicação O Otimista no dia 16, acompanhado do estúdio pela reportagem, o nome de Ciro não foi pronunciado nenhuma vez. O debate durou mais de quatro horas.

Para Evandro, “os resultados das eleições de 2022 respondem por si”. Ciro teve apenas 3% dos votos e terminou em quarto, atrás de Lula, Jair Bolsonaro e Simone Tebet. Foi disparado o pior desempenho dele entre as suas quatro disputas à Presidência (em 1998 teve 10,9%; em 2002, 11,9%; e em 2018, 12,4%) e a única vez em que não foi o mais votado no Ceará.

Embora observe que Ciro, “pela inteligência e pela experiência que tem”, está contribuindo com o seu programa de governo, Sarto relativiza a importância do aliado: “Eu tenho luz própria. Fui eleito prefeito com o apoio de parceiros que partilham o mesmo projeto, mas eu não tenho chefe político”.

Indagado se Ciro estaria morto politicamente, o prefeito afirmou: “De forma nenhuma. Vou lembrar do que dizia Maluf: a política é o único ambiente em que se morre e se ressuscita várias vezes”.

FABIO VICTOR / Folhapress

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