SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Se tem uma coisa que povo adora ler quando agarra uma biografia de estrelas do rock são as histórias sobre drogas. Difícil um livro ir mais direto ao ponto do que esse “Eu Fui Traficante do Keith Richards”, de Tony Sanchez.
Fotógrafo oficial dos Rolling Stones no final da década de 1960 e assistente pessoal do guitarrista Richards por oito anos na década de 1970, Spanish Tony como era conhecido, por ser filho de espanhóis descreve, em cerca de 440 páginas, o seu dia a dia com a banda nesses anos em que lançou os discos mais importantes de sua carreira.
Ou melhor, descreve seu dia a dia com os guitarristas Brian Jones e Keith Richards e o vocalista Mick Jagger, uma vez que o baixista Bill Wyman, o baterista Charlie Watts e o guitarrista Mick Taylor merecem apenas algumas linhas.
Testemunhamos, assim, a dinâmica do núcleo duro dos Rolling Stones, suas intrigas e crueldades, maquinações contra um e contra outro, enquanto o quinteto se tornava provavelmente a maior banda de rock do mundo.
Os primeiros capítulos da obra se detêm na queda de Brian Jones, a quem Spanish Tony reserva uma calorosa simpatia. Outrora líder do grupo, virtuose na guitarra, Jones foi mais uma das vítimas das drogas, tornando-se um junkie, incapaz de tocar em certas ocasiões.
Outro problema para a queda foi que Jones não desenvolveu talentos para a composição, enquanto assistia à evolução de Jagger e Richards na assinatura de dezenas de canções, cada vez melhores, a partir de “(I Can’t Get No) Satisfaction”, de 1965.
Sanchez escreve: “Chegamos ao estúdio, onde já estavam Keith e Anita ambos deixando cruelmente óbvio o quanto estavam curtindo um ao outro [Anita Pallenberg havia deixado Jones por Richards]. Mick, irritado com a falta de interesse de Brian pela psicodelia, ignorava as sugestões musicais dele e deixava de lado as músicas que Brian havia composto. Eu os vi pedir a Brian que fizesse um ‘overdubbing’ de uma seção de guitarra em alguma coisa que já haviam trabalhado. Assim que ele ficou fechado no estúdio à prova de som, caíram na gargalhada, porque não estavam gravando.”
O fotógrafo, que morreu em 2000, não passou incólume aos seus anos trabalhando com a banda. Logo está cheirando cocaína todos os dias e se vicia em heroína, apesar de resistir por um bom tempo a injetá-la nas veias, preferindo cheirar a droga.
E é nesse momento que Spanish Tony se torna um fornecedor de drogas para os Stones. Mas, ao contrário do nome do livro, ele afirma em diversos capítulos que não era o traficante de Keith Richards. Isso porque ele não ganhava dinheiro com isso. Ia buscar nas ruas, às vezes a mando do guitarrista, que lhe dava o dinheiro, às vezes para si mesmo.
Na verdade, a primeira edição do livro, de 1979, chamava-se “Up and Down with the Rolling Stones” para cima e para baixo com os Rolling Stones, como informa José Júlio do Espírito Santo no prefácio. Mais tarde foi rebatizado como “I Was Keith Richards’ Drug Dealer”, como nessa edição.
Impressiona, capítulo após capítulo, o número de carros de luxo que Richards destruiu, e simplesmente deixou para trás, com a cabeça cheio de álcool e ilícitos. Quase matou a esposa e o filho em duas dessas ocasiões, mas por sorte nada aconteceu. E ele sempre saiu andando.
No geral, Richards é descrito como um homem 24 horas em busca de drogas. Tony não se detém nas composições ou detalhes de gravações, mas conta tintim por tintim todas as brigas em que ele meteu, as humilhações que ele impôs aos outros e a sujeira literal de sua vida com Anita Pallenberg, modelo alemã-italiana que não consegue parar com a heroína nem mesmo grávida dos filhos de Richards.
Mesmo assim, o vilão da obra é Mick Jagger, ridicularizado em certos momentos como um playboy novo rico cuja ambição coloca em risco a vida das pessoas. É o caso do concerto grátis de Altamont, o show em São Francisco que pôs um fim no sonho hippie, e cujas mortes Sanchez atribui a uma tentativa de Jagger em rivalizar com a multidão de quase meio milhão de pessoas vista em Woodstock pouco mais de três meses antes.
Jagger, no entanto, não é apresentando como um personagem unidimensional, sendo capaz de uma ou outra gentileza através das páginas. Uma delas, segundo Spanish Tony, foi não ter dado bola para o caso que o fotógrafo conta ter tido com sua mulher, a também cantora Marianne Faithfull. É o circo do rock’n’roll em um de seus relatos mais viscerais.
EU FUI TRAFICANTE DO KEITH RICHARDS
Quando Lançamento em 29 de julho. Em pré-venda no site da editora, com 20% de desconto
Preço R$ 90 (448 págs.)
Autoria Tony Sanchez
Editora Sapopemba
Tradução Letícia Lopes Ferreira
IVAN FINOTTI / Folhapress