SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Correr 42 maratonas em 42 dias em 42 cidades na França, sem pausas. Esse é o desafio lançado pelo coach e conferencista Philippe Moreau, 62.
O francês é um dos embaixadores da ONG Team for the Planet, e a saga ultramaratonista -na qual vai correr uma distância total de 1.764 km- tem como objetivo jogar luz à mudança climática e à urgência de ações em defesa do meio ambiente em um mundo com cada vez mais efeitos do aquecimento global no nosso cotidiano.
“O livro Guia do Mochileiro das Galáxias [de Douglas Adams] diz que o número 42 é a resposta universal para todos nossos problemas. Então pensei nesse número mágico, 42: eu posso correr 42 maratonas, cuja distância são 42 km, em 42 dias, para chamar a atenção das pessoas a agir, se movimentar, se engajar”, disse Moreau à reportagem por telefone, entre uma corrida e outra.
O périplo teve início no dia 2 de maio, na cidade de Dinan, na região da Bretanha, e termina no dia 12 de junho, em Caen, na Normandia. Após completada cada “prova”, será feita uma conferência sobre os objetivos da organização e como as pessoas podem ajudar o planeta.
“E a ideia das maratonas é principalmente atrair pessoas para a conferência à noite, em cada etapa, para falar sobre a organização Team for the Planet, porque ela existe, qual a importância de se juntar a nós.”
Até agora, a Team for the Planet já angariou 30 milhões de euros (cerca de R$ 174 mi) para o combate ao aquecimento global de mais de 120 mil acionistas. A organização é responsável por receber doações -de pessoas físicas ou empresas- e investir no apoio a instituições que desejam criar ações contra os efeitos da crise climática.
“Eu nunca falo de aquecimento global: falo de desequilíbrio climático, porque o que estamos vendo não é um caso isolado de calor intenso, ou chuvas. Na verdade, estamos desregulados. Veja as enchentes recentes aí no Brasil [no Rio Grande do Sul]. Estamos destruindo o nosso planeta. E a urgência dessa devastação, desse estrago, é a mudança climática”, avalia Moreau, que se classifica como um corredor amador, não um atleta profissional.
O consultor reforça que a organização Team for the Planet é uma ação coletiva em que o menor dos apoiadores pode ajudar com apenas um euro. Atualmente, o maior acionista da associação investiu 5 milhões de euros (cerca de R$ 29 mi).
“É uma solução entre muitas outras, mas é uma solução extremamente eficaz para, como cidadãos, integrar um coletivo com muito pouco dinheiro. E fazer com que as pessoas se movimentem”, diz.
Ele lembra, porém, que ações civis são apenas uma das mudanças necessárias. “Governantes, quaisquer que sejam, estão anos-luz de entender o que está acontecendo [no planeta]. Todos eles têm outras urgências que consideram mais prioritárias, desafios geopolíticos, necessidades econômicas. Eles não entendem que, se não pararem por um instante para se importar com esse problema ambiental, todos os outros problemas não terão mais importância”, afirma.
No caso do consultor, desafios já fazem parte do seu cotidiano. Moreau atravessou o chamado Vale da Morte, nos Estados Unidos, correu na Antártida, no Ártico e, recentemente, atravessou a Austrália correndo 100 km por dia em 40 dias.
Questionado sobre o cansaço do novo desafio, ele dá uma risada e não nega.
“Claro que sim, preciso ser honesto. À noite, depois de terminar a maratona, que já é desgastante, tiro uma soneca de mais ou menos 15 minutos para me sentir mais disposto para a palestra. E, depois disso, eu realmente tenho apreciado voltar para a minha cama para uma boa noite de sono”, diz, rindo.
“E, no dia seguinte, começamos tudo de novo, porque não tenho nenhum dia de folga”, afirma, pensativo, e completa: “mas o planeta também não”.
ANA BOTTALLO / Folhapress