SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Liceu Pasteur de São Paulo, colégio fundado há 101 anos por intelectuais e empresários com o apoio do governo da França, terá, a partir do próximo ano, mais inglês do que francês no currículo. Essa é umas das várias mudanças definidas a partir de um acordo assinado entre a instituição e o Anglo.
Tradicionalmente conhecido pelo ensino franco-brasileiro, o colégio, pelo qual já passaram alunos famosos, como a cantora Rita Lee e o maestro João Carlos Martins, terá outro nome, Liceu Pasteur Start Anglo. Na prática, será uma nova escola, 100% gerida pelo Anglo, e seu lançamento acontece nesta terça-feira (27), em um coquetel na sede, um prédio histórico projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, em uma área de cerca de 19 mil m2 na rua Mairinque, na Vila Mariana (zona sul de São Paulo).
Será uma escola-modelo da Start Anglo Bilingual School, nova marca de franquias da Somos Educação, grupo do qual o Anglo faz parte. A proposta é se posicionar no mercado como um mix de “ensino forte” (centrado no conteúdo, como o Anglo é conhecido), com educação integral (horário estendido com atividades ligadas ao desenvolvimento sociemocional e aos esportes) e ensino bilíngue inglês-português.
É o segundo colégio com a nova marca -o pioneiro é o Start Anglo Rio Preto (em São José do Rio Preto, SP), do qual a Somos Educação detém 51% das ações. Esses serão os únicos operados pela própria Somos, segundo Guilherme Mélega, CEO do grupo. Ele diz que há outros 30 contratos já assinados para o lançamento de novas escolas nos próximos anos, mas todas serão franquias.
Embora a Start Anglo seja bilíngue português-inglês, o novo Liceu Pasteur está se vendendo ao mercado como trilíngue, adicionando o francês, a fim de manter a tradição do colégio. A carga de inglês, no entanto, será bem maior do que a de francês.
Além das aulas de língua inglesa, o currículo terá outras oito outras disciplinas e atividades ministradas em inglês, como matemática financeira e literatura inglesa. Já o francês ficará nas duas aulas semanais de língua francesa.
Juliana Diniz, diretora de novos negócios da Start Anglo Bilingual School, afirma que a cultura francesa será explorada, de alguma maneira, em todas as matérias do novo Liceu Pasteur e que há planos de criar atividades em francês, como um acampamento, a exemplo do “summer camp” (acampamento de verão), esse já previsto, em inglês.
Com o Anglo à frente de toda a operação, a gestão sairá das mãos da Fundação Liceu Pasteur, presidida pelo ex-prefeito de São Paulo e atual secretário de governo do estado, Gilberto Kassab. Ex-aluno do colégio, ele assumiu o cargo em 2009, ano da morte de seu pai, o médico Pedro Kassab, diretor da fundação e do colégio por mais de 50 anos. Cláudio Kassab, irmão de Gilberto e atual diretor do Liceu Pasteur, deixará a função. O novo diretor será Vinícius de Paula, professor de história do Anglo.
O contrato com o Anglo tem duração de dez anos e prevê que a Fundação Liceu Pasteur receba um aluguel pelo prédio e royalties pelo uso da marca. Segundo Mélega, representantes da fundação farão parte de um comitê pedagógico consultivo.
Ainda não há definição sobre quantos professores e demais funcionários do Liceu Pasteur serão contratados pelo novo colégio. “Queremos que seja o máximo possível, mas isso também dependerá das matrículas, de quantas turmas teremos”, diz o CEO.
As matrículas serão abertas em setembro, do 1º ao 9º ano do fundamental. No ensino médio, a escola seguirá como Anglo tradicional, em horário regular, como já é atualmente -no início de 2024, a unidade do Anglo Sergipe, de Higienópolis migrou para o prédio do Liceu Pasteur, com ensino médio e cursinho (cerca de 250 alunos).
O cursinho será ainda será mantido no local, com entrada separada da educação básica. Em médio prazo, segundo Juliana Diniz, deverá ser transferido para outro prédio.
Como o Liceu Pasteur Start Anglo tem uma proposta curricular muito diferente tanto do Anglo quanto do Liceu Pasteur, a ideia é fazer uma transição e abrir o ensino médio apenas em 2026, para que os alunos já tenham cursado o 9º ano no novo colégio.
ANTIGO COLÉGIO SE SEPAROU DE LICEU FRANCÊS EM MEIO A CRISE
O contrato com o Anglo é uma tentativa de salvar o tradicional colégio de uma crise que teve início nos anos 2000, com a queda do número de alunos -de cerca de 1.500, naquela época, para apenas 128 matriculados atualmente. Essa derrocada fez com que a Fundação Liceu Pasteur se separasse, em 2023, justamente o ano de seu centenário, da parte “francesa” da instituição, responsável pela administração da outra unidade do colégio, o Liceu Francês, localizado na rua Vergueiro, também na Vila Mariana.
Enquanto o Liceu Pasteur tem um currículo brasileiro com forte carga de francês, a outra unidade é uma escola francesa, com diploma válido no Brasil e na França. Com 1.250 alunos, quase sua capacidade máxima, o Liceu Francês estava, na prática, pagando as contas do lado brasileiro, inclusive com subsídio de Paris.
Diante da crise, o Liceu Pasteur estava com dificuldades para realizar reformas e a manutenção do prédio e de toda a área externa, que tem quadras e piscina. O Anglo já deu início neste ano a um projeto de revitalização da sede, que é tombada.
A capacidade do colégio atualmente é de cerca de 1.200 alunos, e a expectativa da Somos Educação é de que, para o próximo ano, haja captação de 400 novas matrículas. A mensalidade média será de R$ 4.500, com horário das 8h às 16h. Aos 120 alunos do Liceu Pasteur foi oferecido um desconto até a formação deles, de 25%.
LAURA MATTOS / Folhapress