Fundador de grupo de sobreviventes das bombas atômicas viveu até os 100 em São Paulo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Anunciada nesta sexta-feira (11) como vencedora do Nobel da Paz de 2024, a organização Nihon Hidankyo luta pela extinção de armas nucleares e reúne sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. No Brasil, um ativista contra o emprego desse armamento e que estava em Hiroshima em 6 de agosto de 1945 era Takashi Morita, que morreu em agosto deste ano, aos 100 anos.

Em 1984, ele fundou a Associação Hibakusha Brasil pela Paz. O grupo chegou a reunir 270 sobreviventes no Brasil. Hibakusha significa, em japonês, vítima da bomba atômica.

“Encerrou uma longa jornada de cem anos. Agradecemos muito a todos que deram forças para a divulgação de como é cruel a bomba atômica, como é inútil a guerra”, disse à época de sua morte a filha, Yasuko Saito.

Em 1º de março, um dia antes de completar cem anos, ele foi homenageado em evento na Etec Santo Amaro, que em 2019 foi batizada com seu nome.

Morita, que vivia em São Paulo desde 1956, estava acompanhado de familiares e outros dois sobreviventes da bomba nuclear. Ele recebeu flores, bolo e outros presentes dos alunos. Dedicou a vida para denunciar os horrores da guerra e promover a cultura de paz. Fazia palestras e participava de eventos sobre essa temática.

“Depois da bomba vi focos de incêndio por todos os lados”, contou ele à Folha em março. Era um jovem de 21 anos e sofreu um ferimento grave no pescoço. “Como eu era militar, depois da explosão fiquei trabalhando durante três dias até não aguentar mais. Tentava ajudar as pessoas que estavam feridas e agonizando. Quando estava esgotado, acabei transferido para um hospital improvisado em uma escola.”

Em 2017, Morita lançou a autobiografia “A Última Mensagem de Hiroshima: O que Vi e Como Sobrevivi à Bomba Atômica” (Universo dos Livros). Sua história também será contada em um filme de curta-metragem intitulado “Alma Errante – Hibakusha”, dirigido por Joel Yamaji.

Durante a Segunda Guerra, ele foi convocado para o Exército e se deparou com a brutalidade com que novatos eram formados para que fossem soldados sem misericórdia.

Por isso, se esforçou para ser aprovado como “kempei”, um policial militar de elite. Quando a bomba caiu sobre Hiroshima, ele estava com dois “kempeis” e 12 auxiliares. O epicentro da explosão foi a 1,3 km de onde estavam. Foram lançados por cerca de dez metros. De seu grupo, apenas cinco sobreviveram. No mesmo instante, já passou a socorrer os feridos.

A parte da família de Morita que morava nos Estados Unidos também sofreu com a guerra. Irmãos, cunhadas e sobrinhos foram levados a campos de concentração para japoneses, que funcionaram no país de 1942 a 1948 em locais afastados dos grandes centros.

“Para sucumbirmos à guerra, basta ocorrer um ato de vingança mais destrutivo que o outro, em um ciclo sem fim. Para derrotarmos a guerra, é preciso o perdão, além do amor”, dizia ele.

Redação / Folhapress

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