Fusão Arezzo e Soma começou em bate-papo no Copacabana Palace há três anos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Era abril de 2021 e o Grupo Soma, dono das grifes cariocas Animale e Farm, havia acabado de comprar a Hering por R$ 5,14 bilhões. Venceu a rival Arezzo&Co. na disputa, que havia oferecido R$ 3,2 bilhões para ficar com a empresa fundada em 1880 em Blumenau (SC), por dois irmãos imigrantes alemães.

Na época, Roberto Jatahy, presidente do Soma, ficou preocupado com a possibilidade de Alexandre Birman, presidente da Arezzo, ter guardado algum ressentimento do episódio.

“Mas eu recebi um convite dele para batermos um papo no [hotel] Copacabana Palace. Fui e a partir dali começamos a pensar juntos um projeto que acabou virando a fusão das duas empresas”, disse Jatahy nesta segunda-feira (5), durante coletiva de imprensa para anunciar a união entre Soma e Arezzo, fechada neste domingo (4).

A reta final das negociações se intensificou nos últimos 10 dias e, neste domingo (4), quando os últimos detalhes foram acertados, a reunião durou mais de 10 horas.

Guilherme Benchimol, fundador da XP Investimentos, que fez a assessoria financeira das empresas na operação, será um dos sete membros do conselho, cujo chairman ainda não foi definido.

A empresa resultante da fusão -que deve ganhar um novo nome até junho, quando será realizada a assembleia de acionistas- será a maior companhia de moda da América Latina em número de marcas. Serão 34 grifes envolvendo roupas, sapatos e acessórios para o público feminino, masculino e infantil. Ao todo, a nova empresa soma oito fábricas (quatro de calçados e quatro de vestuário) e sete centros de distribuição.

Com faturamento anual estimado em R$ 12 bilhões, lucro líquido de R$ 753 milhões, Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 1,53 bilhão, e dívida líquida de R$ 1,3 bilhão, a nova gigante varejista soma 2.057 lojas (sendo 559 próprias) e presença em 22 mil pontos multimarcas. São 22 mil funcionários e a sua base consolidada de clientes ativos, a maioria da classe média alta, soma 11 milhões.

“Ter todas essas marcas não é um desafio ou um problema, é um trunfo”, disse Alexandre Birman à Folha, quando questionado sobre a possibilidade de haver alguma canibalização entre marcas, que atendem um mesmo público consumidor de produtos premium de moda.

“Nós já temos diversas marcas dentro da Arezzo&Co. e sempre crescemos. Com a Soma, não será diferente, pelo contrário, as possibilidades de crescimento são muito maiores”, disse.

Um exemplo é o desenvolvimento de calçados Hering. Ou a venda de sapatos da Schutz nas lojas da Animale.

“Qualquer crescimento de 5% a partir deste cross-selling [venda cruzada] será bem-vindo, vai cumprir o papel de gerar sinergias”, disse Rafael Sachete, principal executivo de finanças da Arezzo&Co.

De acordo com Birman, a intenção da fusão não é “sair fazendo cortes de todo lado”. A nova empresa contratou a consultoria Bain & Company para estudar o potencial de sinergias, cujo valor estimado não revelado.

“Não temos pressa: este ano será de estruturação, vamos consolidar a fusão. A partir do ano que vem, veremos o crescimento acontecer”, disse Birman, reforçando que não pretende descontinuar nenhuma das 34 marcas. “Vamos criar mais.”

O acordo de acionistas fechado no domingo tem duração de 10 anos. O conselho de administração será formado por sete membros: cada uma das empresas vai indicar três membros, um deles independente. O presidente do conselho será escolhido em unanimidade por Soma e Arezzo.

Birman será o presidente da nova companhia, que passa a ser dividida em quatro grandes unidades de negócios: calçados e acessórios, vestuário feminino, vestuário democrático e vestuário masculino.

Com exceção de calçados e acessórios, que será comandada por Luciana Wodzik (prata da casa, que começou na Arezzo como “modelo de calce”), as demais áreas de negócios serão comandadas pelos principais executivos das respectivas marcas.

É assim que Roberto Jatahy ficará com a divisão de vestuário feminino; Thiago Hering com a de vestuário democrático; e Rony Meisler (fundador da Reserva, comprada pela Arezzo em dezembro de 2020) será o responsável pela unidade de vestuário masculino.

“O rio corre para o mar” disse Jatahy. “A gente tem complementaridade bacana e em algum momento iríamos nos unir.”

DANIELE MADUREIRA / Folhapress

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