Fusão de Arezzo e Soma criaria o maior grupo de moda do Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As varejistas de moda Arezzo&Co e Grupo Soma estão novamente à mesa para negociar uma fusão, conforme anunciado ao mercado na última quarta-feira (31).

Caso se concretize, a junção das rivais criaria o maior grupo de moda do país, com faturamento estimado em R$ 12 bilhões. A Renner, atual líder do setor, fatura R$ 11,7 bilhões ao ano.

Ainda que não haja um acordo vinculante por ora, a notícia animou os investidores, com as ações de ambas as empresas registrando fortes ganhos no pregão de quarta-feira.

Segundo a Arezzo, a nova empresa seria comandada por Alexandre Birman, atual CEO da calçadista, e Roberto Jatahy, executivo do Soma, seguiria na liderança das marcas já controladas pelo grupo: Farm, Hering, Animale, NV, Maria Filó, Cris Barros, Foxton e Fórmula.

A Arezzo&Co, além da grife homônima de calçados femininos, também é dona da Brizza, Schutz, Alexandre Birman, Anacapri, Alme, Vans, ZZ Mall, TROC, Carol Bassi, Reserva e Baw.

“É uma fusão que reforça a tese de que um grupo com portfólio de marcas complementares focado no mercado premium é capaz de tornar-se uma verdadeira ‘house of brands’ com maior poder de precificação e proteção contra a inflação do que a maioria dos concorrentes”, diz Sophia Prado, sócia da Fortezza Partners, assessoria especializada em operações de fusões e aquisições.

A ideia de criar uma “house of brands” -jargão do setor para quando há várias marcas fortes sob um mesmo guarda-chuva- não é nova. As empresas chegaram a discutir uma fusão em 2021, com proposta encabeçada pela Arezzo. O negócio, porém, esbarrou na diferença de valor de mercado entre as duas: o Grupo Soma valia R$ 12 bilhões na Bolsa de Valores, R$ 4 bilhões a mais do que a calçadista à época.

Hoje, a situação é a inversa: Arezzo vale R$ 6,5 bilhões e Soma, R$ 5,5 bilhões. Além disso, agora as tratativas foram costuradas diretamente por Birman e Jatahy, o que eliminou a intermediação de instituições financeiras.

As rivais também protagonizaram uma disputa pela Cia Hering em 2021, hoje sob tutela do Soma. À época, a Arezzo teve sua proposta de compra recusada em unanimidade pelo conselho de administração da Hering.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Fabio Hering, então CEO da empresa que leva o nome da família, afirmou que o processo foi “mal conduzido” e “não foi bacana”. Duas semanas depois, foi anunciada a venda da companhia para o Grupo Soma.

Atualmente, ambas se beneficiariam de uma junção de forças, especialmente por terem portfólios complementares no mercado de alta renda. Fora que o setor enfrenta um cenário de incertezas com a entrada de marcas asiáticas no mercado brasileiro e com a taxa de juros em dois dígitos, o que tende a diminuir o consumo.

A estimativa de analistas é que as sinergias cheguem a até R$ 4,5 bilhões. “O mercado se precipita em tentar precificar a sinergia, que, na minha opinião, será mais estrutural do que em geração de valor”, afirma Enrico Cozzolino, sócio e chefe de análise da Levante Investimentos.

A operação criaria uma companhia com 34 marcas, com mais de 2.000 lojas -das quais 73% são franquadas-, 22 mil funcionários e presença em 21 mil shoppings.

Na quarta, após a notícia da possível fusão, as ações de ambas as empresas dispararam. Arezzo fechou em alta de 12,09% e Soma, de 16,81%.

Nesta quinta, porém, muitos investidores aproveitam a valorização da véspera para realizar lucros. A ação do Grupo Soma caiu 1,64%, a R$ 7,79 cada uma, e Arezzo subiu 0,41%, a R$ 62,85.

“O mercado, após a euforia inicial, avalia que a possível fusão não será tão simples e poderá apresentar um custo maior do que o esperado. Outra pergunta que fica é sobre como os centros de distribuição das empresas serão gerenciados”, afirma Nilson Marcelo, analista quantitativo da CM Capital.

Segundo especialistas, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), porém, não deve ser uma das travas, pois o mercado de moda no Brasil é muito pulverizado.

TAMARA NASSIF E JÚLIA MOURA / Folhapress

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