Fuzil com munição de gel vira febre na periferia de SP e coloca PM em alerta

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Grupos formados por adultos e crianças têm se encontrado na periferia da zona sul de São Paulo para uma brincadeira no estilo paintball de rua. Munidos de peças de plástico colorido que remetem a fuzis, metralhadores e pistolas, eles se enfrentam entre a noite e a madrugada em disputas com balas de gel como munição.

Eventos do tipo em ruas e vielas no entorno da avenida Cupecê, nos bairros de Americanópolis, Cidade Ademar e Vila Clara, já foram registrados em vídeos.

Nos comentários nas redes sociais, há quem defenda a brincadeira. Moradores dos locais onde ocorrem as disputas, por outro lado, se queixam da algazarra e de tiros contra animais e pessoas não envolvidas na brincadeira. Há relatos, por exemplo, de tiros disparados de dentro de carros contra pessoas em pontos de ônibus.

O arsenal é vendido em sites na internet ou em lojas nos próprios bairros, por valores que partem da casa dos R$ 100 e passam de R$ 200, no caso de peças com silenciador ou a depender da quantidade de munição, por exemplo. Na rua 25 de Março, tradicional reduto do comércio popular no centro da capital, também é possível encontrar essas armas de brinquedo.

As peças são eletrônicas, recarregáveis por meio de cabo USB, e emitem som e luz. Em tese, as balas explodem assim que atingem o alvo, sem causar ferimentos.

A Polícia Militar afirma que nesta terça-feira (10) deteve 18 pessoas envolvidas em uma dessas disputas, após uma confusão no Jardim São Luis, na zona sul. De acordo com a SSP (Secretaria da Segurança Pública), um homem foi atingido no olho e precisou de atendimento médico. A pasta afirmou ainda que entre os detidos estavam seis menores de idade, que compareceram à delegacia com os pais ou responsáveis.

A brincadeira já estava na mira da PM. Antes do episódio desta terça, ao menos quatro boletins de ocorrência foram registrados, e dez armas foram apreendidas. Todos os casos foram encaminhados para o 98° DP (Jardim Miriam). O desfecho foi semelhante em todos os casos, com o envio das peças para perícia do Instituto de Criminalística.

A SSP afirma que as apreensões ocorrem de acordo com o Estatuto do Desarmamento.

“A fabricação e comercialização de réplicas e objetos que podem ser confundidos com armas de fogo é vedada. O seu uso pode gerar inúmeros transtornos, desde acidente de trânsito e ferimentos, além de poder ser usado para a prática de crimes”.

No último dia 1°, uma bebê de sete meses, que estava no colo da mãe, ficou ferida na testa após ser atingida por uma munição de gel. A tia da menina contou à Folha que meninos em posse das armas teriam passado por uma rua em Cidade Ademar e iniciado o tiroteio.

A criança chorou bastante, e no ponto atingido restou uma marca e vermelhidão. Aborrecida, a mãe da criança teria tentando conversar com os garotos, que não gostaram da queixa e a ofenderam.

As apreensões por parte da PM ocorreram de diversas formas, conforme mostram os boletins de ocorrência.

Somente neste mês foram registrados outros dois casos. Em uma ocorrência no dia 3, segundo o BO, policiais militares estavam em patrulhamento na região de Interlagos quando foram acionados para verificar um grupo de pessoas que estava em posse de objetos que pareciam ser armas de fogo abordando motoristas e pedestres.

Cinco pessoas entre 14 e 24 anos foram encontradas pelos PMs com quatro das armas de brinquedo que disparam balas de gel, além de dois óculos de proteção. Nenhuma das supostas vítimas de roubo ou lesão corporal foi localizada.

No mês de agosto foram registrados outros dois boletins de ocorrência. No dia 28, um jovem de 18 anos e um adolescente de 14 foram levados até a delegacia por portarem duas armas com munição de gel. Na ocasião, os policiais foram acionados por pessoas que relataram um roubo de moto na rua Doutor Lauro Parente.

“Esse tipo de brincadeira pode ensejar vários problemas, acidente de trânsito, ferimentos, mal-entendido. Quem vê pode pensar que é um arrastão, por exemplo”, disse o capitão Felipe Neves, do Centro de Comunicação Social da Polícia Militar.

PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress

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