G20 Social transforma Boulevard Olímpico do Rio em ‘protestódromo’

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um ato de mulheres, com cerca de 50 pessoas, caminhou pelo Boulevard Olímpico, na zona portuária do Rio de Janeiro, na tarde desta sexta-feira (15), segundo dia de G20 Social. Enquanto isso, um pequeno desfile do Afoxé Filhos de Ghandy provocava alvoroço no Espaço Kobra, galpão que recebe atividades do evento.

A região se tornou desde quinta-feira (14) um mosaico de apresentações e reivindicações com a chegada do G20 Social: lideranças indígenas, membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), movimentos sociais, sindicatos e pequenos agricultores tentam conseguir a atenção dos frequentadores para suas pautas.

O G20 Social é organizado pela Secretaria-Geral da Presidência em parceria com movimentos sociais. É a primeira vez que ele é organizado em paralelo ao encontro das maiores economias do mundo, este ano presidido pelo Brasil. A África do Sul, que vai coordenar os trabalhos do grupo ao fim da Cúpula dos Chefes de Estado, afirmou que pretende manter o evento para a próxima edição.

A expectativa é de que passem 40 mil pessoas pelo Boulevard Olímpico para participar das mais de 200 atividades autogestionadas –organizadas pelas entidades– e para participar dos shows do Festival Aliança Global contra a Fome.

O festival, que acontece a partir da tarde, têm sido marcados por falta de informação. Seguranças e policiais são abordados a todo o tempo por visitantes que perguntam quem serão as atrações e em quais horários subirão ao palco. Não há ao longo do Boulevard informações sobre os shows –as atrações estão disponíveis online.

Os principais eventos vinculados ao G20 Social ocorrem dentro do Museu do Amanhã, como a abertura com a participação da primeira-dama Janja. A maior parte das palestras e debates, porém, ocorre dentro dos antigos armazéns da zona portuária, há anos convertidos em espaço de eventos.

No Armazém 3 são 12 “salas abertas” que dividem o mesmo espaço de cerca de 500 m² sem qualquer divisória. Para que as falas sobre, por exemplo, proteção social em desastres climáticos e discriminação racial na inteligência artificial não se cruzem, a organização adotou o método da “palestra muda”. Os debatedores falam ao microfone, mas a voz é amplificada em fones usados pelos ouvintes, e não por caixas de som. Quem caminha sem participar de alguns debates, ouve apenas o som externo.

O mesmo modelo é usado no Armazém da Utopia, o último do Boulevard Olímpico, onde é organizado o U20, encontro de prefeitos das grandes economias do mundo.

Ao longo do Boulevard há redes e espreguiçadeiras instaladas em estruturas metálicas montadas em alguns pontos. O local tem também tótens com placas solares para carregar celulares.

Também foram instaladas centenas de barraquinhas para venda de artesanato e produtos naturais.

Produtores de castanha-do-pará em Rio Branco, no Acre, Fátima Nascimento e Weverton Oliveira foram convidados pela Secretaria-Geral da Presidência para expor os produtos em uma das barracas.

“No Acre, fazemos parte de uma cooperativa que abastece cerca de 3.800 famílias. Por lá, pleitamos a mudança do nome de castanha-do-pará para castanha-da-Amazônia, que é mais abrangente”, diz Weverton.

“Estamos acostumados a expor as castanhas em feiras brasileiras e internacionais, mas aqui não está vendendo o suficiente. A maior parte das vendas foi para estrangeiros”, afirma Fátima.

Eles dizem que tiveram as passagens custeadas pelo governo e que estão hospedados em uma casa de repouso a cerca de 40 minutos da praça Mauá.

Do outro lado da calçada, sentados na escadaria da sede da Superintendência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, um grupo de trabalhadores rurais de Brumadinho (MG), membros do MST, esperavam o início do segundo dia de shows do festival. Eles estão hospedados em um alojamento no bairro do Maracanã, com outros milhares de membros do MST.

A maioria deles vai embora neste sábado (16), após o último dia de G20 Social.

“Estamos no Rio dar apoio ao evento, mas também mostrar a força do movimento, que volta e meia sofre perseguição. No nosso acampamento Zequinha Nunes, em São Joaquim de Bicas, perto de Brumadinho, estão tentando retomar a terra. Viemos expor isso também”, afirma Reinaldo Silvério.

Araju Guarani, cacique de uma das aldeias do Jaraguá, em São Paulo, trouxe outras 37 pessoas, a maioria jovens indígenas, para acompanhar palestras.

“Viemos com objetivo de formação política, para que eles [os jovens] sejam articulados”, diz Araju. “Quero mostrar para eles que esses espaços ainda não têm representação efetiva dos indígenas. Há várias barracas com produtos à venda e os indígenas estão expondo os seus no chão.”

O G20 Social se encerra neste sábado, quando o ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) vai entregar um documento com as reivindicações dos movimentos sociais ao presidente Lula, que preside a Cúpula dos Chefes de Estado do G20, na segunda (18) e terça (19). O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, também participa do encontro.

YURI EIRAS E ITALO NOGUEIRA / Folhapress

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