NANTERRE, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Gabriel Araújo foi o nadador mais aplaudido quando os oito finalistas chegaram para o balizamento na piscina da Arena La Défense, para a disputa dos 150 m medley, categoria SM3, neste domingo (1º).
No entanto, o nadador era o único representante na final com a classificação S2, ou SM2 o M acompanha o S (de “swimming”) nas provas medley. A prova dos 150 m medley acontece em três estilos: começa com costas, passa para o peito e termina com o nado livre.
As classificações S1 e S2 são para atletas com deficiência física severa (como problemas severos de coordenação em todos os membros, alto grau de perda de função). Os nadadores S3 e S4 possuem deficiência física significativa (amputações de todos os membros, problemas de coordenação moderados a severos).
Pode parecer sutil, mas faz diferença entre paratletas de alto rendimento.
“Na verdade, eu que era o invasor. Então, eu vim para incomodar e deixar o pessoal nervoso. A energia [da torcida] ajudou bastante, dá uma confiança extra para a prova dos 200 m [que ocorrerá nesta segunda, 2]”, disse, sempre sorridente.
Ao fim da prova, Gabrielzinho obteve honroso quarto lugar, com o tempo de 3min14s02. A marca é o novo recorde mundial da categoria SM2. Porém o vencedor foi o alemão Alexander Topf (SM3), com 3min00s16, à frente dos australianos Ahmed Kelly (3min02s16) e Grant Patterson (3min06s94), pouco mais de sete segundos à frente do brasileiro.
Gabrielzinho superou em quase um segundo a própria marca, conquistada na eliminatória (3min15s06). “Esperava o recorde mundial da manhã, foi para isso que eu vim. Mas agora de tarde, de novo, não esperava, não. Então foi surpreendente”, comemorou.
O mineiro explicou que, após colocar o recorde no bolso, na classificatória, pensou até em não competir na final “para descansar”, mas quis aproveitar para nadar “entre os melhores”. “Sabia que o pessoal ia fazer muito mais força [na decisão]”, completou.
A mistura de classes pode parecer injusta para o espectador que está se deparando com a competição pela primeira vez, mas é comum no paradesporto. Gabriel nasceu com focomelia, doença congênita que impede a formação normal de braços e pernas.
Nos Jogos Parapan-americanos de Santiago, Gabrielzinho nadou os 150 m medley na categoria S2. Nas Paralimpíadas, porém, ficou fora de sua classe.
Na sexta (6), o brasileiro também vai nadar fora da categoria, nos 50 m livre, categoria S3, novamente com poucas expectativas de pódio. “Vou só para incomodar, mas é para finalizar [as Paralimpíadas] com chave de ouro”.
Antes, já nesta segunda (2), ele volta à classe S2 para a disputa dos 200 m livre, sua prova preferida, na qual defende o título. “Vou amassar”, avisou.
BRONZE NO MEDLEY FEMININO
Também nos 150 m medley, mas na disputa feminina categoria SM4, a brasileira Lídia Cruz conquistou a medalha de bronze na Arena La Défense.
“Essa medalha representa muito esforço, muita dor, muita batalha nesses três anos”, disse a fluminense de Duque de Caxias, emocionada, após a conquista.
Lídia, que completará 26 anos na quarta-feira (4), tem mielomeningocele, uma má-formação na coluna que afeta os membros inferiores.
Curiosamente, a vitoriosa da prova foi a alemã Tanja Scholz, única competidora SM3 da final. Ou seja, deveria ter uma desvantagem em relação à classe SM4. “Ela foi surreal”, afirmou a brasileira.
Na prova que encerrou o programa do dia na natação paralímpica, o Brasil conquistou mais um bronze no 4 x 100 m livre misto, com Arthur Xavier Ribeiro, Gabriel Bandeira, Beatriz Carneiro e Ana Karolina Soares. A disputa foi vencida pelo quarteto britânico, com a Austrália em segundo lugar.
SANDRO MACEDO / Folhapress