Galeria Flexa abre no Rio para pôr grandes artistas em diálogo com os mais jovens

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O barulho de furadeiras é constante, a movimentação nos andares do prédio, interminável, e o chão está repleto de obras de arte à espera de serem penduradas. Um dia antes da abertura da nova galeria Flexa, no Rio de Janeiro, a impressão é a de que a exposição inaugural do espaço no bairro do Leblon não estará pronta a tempo.

Neste cenário de ansiedade, Luisa Duarte, curadora e crítica independente e agora diretora artística e sócia da nova galeria, para por 30 minutos para tomar uma Coca zero. É do interesse das galerias terem em seus quadros pesquisadores como ela, afirma Duarte, para valorizar seus times de artistas representados, isto é, ajudar a reconhecer uma obra quando ela sai da galeria e vai para a parede de um museu ou bienal.

Aberta no último sábado na arborizada e riquíssima Dias Ferreira, uma rua com pedintes em cada esquina, a Flexa passou a ser conhecida no mercado como a Almeida e Dale carioca, por só existir graças à participação de Antonio Almeida e Carlos Dale, sócios da casa que leva seus sobrenomes em São Paulo.

A dupla está por trás não apenas da mais poderosa galeria de mercado secundário do país –isto é, que revende obras de artistas consagrados– mas também de um império sem precedentes no negócio da arte brasileiro. De uns anos para cá, eles vêm comprando participações em galerias importantes, como as paulistanas Millan e Leme, e expandindo seus negócios para outras regiões do Brasil, com a abertura da galeria Cerrado, em Goiânia, por exemplo.

É neste contexto de muita influência e negócios graúdos que surge a Flexa, também dedicada, como a Almeida e Dale, a revender obras de grandes nomes da arte, parte das quais têm cifras na casa dos milhões de reais. Fazem parte do acervo agora compartilhado entre as empresas nomes como Rubem Valentim, Di Cavalcanti, Ismael Nery e Ione Saldanha, para mencionar alguns.

Mas, ao contrário do que possa parecer, a Flexa não é uma Almeida e Dale perto do mar, porque os três sócios majoritários da nova galeria são figuras influentes na cena de artes plásticas carioca e se comprometeram a dar uma cara própria, local, à nova empreitada.

Além de Duarte, responsável pelo programa expositivo, a casa tem à frente Pedro Buarque de Hollanda, filho do colecionador e galerista Luiz Buarque de Hollanda e ex-conselheiro do MAR, o Museu de Arte do Rio, e Maria Ferro, formada em história da arte na Central Saint Martins de Londres e que assume como diretora comercial. Almeida e Dale, que não são sócios majoritários, emprestam seu poder, acervo e conexões à Flexa.

Buarque de Hollanda diz que jamais toparia virar galerista aos 58 anos e com a vida em ordem se não fosse pela insistência dos sócios da Almeida e Dale. A Flexa “começa com um acervo muito grande e já sai de uma base consistente”, ele afirma, citando o vasto acervo e a rede de contatos e colecionadores que a galeria paulistana proporciona. A Flexa, acrescenta, “pode expandir e melhorar a cena artística do Rio de Janeiro como um todo”.

Localizada onde ficava a galeria Lurixs, a sede da Flexa passou por uma reforma assinada pelo estúdio de arquitetura paulistano Vão, o mesmo responsável pela expografia da Bienal de São Paulo do ano passado. O prédio é um retângulo branco com pequenos cortes na fachada para a entrada de luz, e dentro há três andares de espaços expositivos, com dimensões variadas, além de salas para os escritórios e o acervo.

As exposições vão procurar criar conexões entre grandes artistas –afinal, a Flexa trabalha com o mercado secundário– e nomes mais jovens, pinçados de outras galerias para mostras específicas ou até talentos ainda sem representação no mercado, de acordo com Duarte, a diretora de programação. O desafio, ela diz, “é justamente como trabalhar o secundário de uma maneira nova, em diálogo com o contemporâneo”.

Uma amostra de sua proposta é a exposição de abertura, “Rio: a Medida da Terra”, em cartaz até o final de julho, que aborda aspectos diversos da cidade, como a paisagem, a violência e o carnaval. Vemos lado a lado, por exemplo, uma imensa pintura de Adriana Varejão da Baía de Guanabara, feita em 2012, próxima à uma vista das belezas naturais da cidade de quase 200 anos antes, num quadro de Henry Chamberlain de 1818.

Ou então dois desenhos inéditos de Tunga, um monstro da arte brasileira, retratando o morro da Urca próximos a um amontoado de pedras de Ana Clara Tito, jovem que estará no Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo. De um lado, a ilustração quase infantil de Tunga, o verde das árvores e o amarelo do sol escorrendo pela tela, e de outro a dureza da paisagem de concreto e ferro retorcido.

RIO: A MEDIDA DA TERRA

Quando: Até 30 de julho. De segunda a Sexta, das 10h às 19h; sábado, das 11h às 17h

Onde: Galeria Flexa – r. Dias Ferreira, 214, Rio de Janeiro

Preço: Grátis

O jornalista viajou a convite da galeria Flexa.

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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