Galípolo faz aceno a Campos Neto e diz que só taxa neutra de juros não é solução

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Indicado pelo governo Lula (PT) para ocupar uma cadeira na diretoria do Banco Central, o economista Gabriel Galípolo afirmou nesta terça-feira (4) em sabatina no Senado que só uma “taxa de juros neutra” de 4,5% ao ano não é “solução para crescer”, e fez acenos ao presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.

“O crescimento do Brasil não depende só de uma questão externa. Como bem colocou o diretor-presidente do Banco Central, Roberto Campos, se a gente seguir com premissas de um crescimento potencial de 1,5%, 1,6%, e uma taxa de juros neutra de 4,5%, por mais sofisticado que sejam modelos e os economistas que tratam dos modelos, a relação dívida-PIB não vai apresentar um bom comportamento”, disse.

“Como também disse o presidente Roberto Campos, a única solução é crescer. E, para crescer, é preciso seguir com agenda econômica que vem sendo enfrentada agora mesmo em conjunto pelo Executivo, Legislativo e Judiciário”, completou Galípolo.

Nome de confiança de Lula, Galípolo precisará se equilibrar entre a autonomia legal do BC e a missão creditada a ele de abrir caminho para o corte da Selic —um apelo do presidente ecoado por membros do governo e por quadros do PT desde o início da gestão.

A leitura petista é que o juro alto prejudica a atividade econômica, cuja retomada é vista como crucial para a consolidação de apoio popular e político ao governo Lula.

O secretário foi escolhido para assumir a diretoria de Política Monetária, uma das mais importantes da autarquia depois da presidência —ocupada hoje por Roberto Campos Neto, indicado pela administração de Jair Bolsonaro (PL).

Além de Galípolo, Lula também indicou Ailton de Aquino Santos, servidor de carreira do BC, para comandar a área de Fiscalização.

Os dois nomes precisam ser confirmados pelo Senado Federal, após sabatina, mas a expectativa é que não haja obstáculos.

Interlocutores do governo afirmam que a indicação de Galípolo é uma maneira de “marcar território” dentro do BC, que hoje tem a diretoria composta integralmente por nomes escolhidos por Bolsonaro. A postura rígida do colegiado em defesa da manutenção dos juros em 13,75% ao ano tem sido um terreno fértil para críticas fomentadas pelo governo.

Futuramente, a aposta é que ele seja o escolhido de Lula para suceder Campos Neto, cujo mandato na presidência do BC termina em dezembro de 2024.

O relator da indicação de Galípolo na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), senador Otto Alencar (PSD-BA), um dos principais aliados do presidente da República no Senado, afirmou que o economista deve “diminuir o conservadorismo do Banco Central”.

No passado recente, Galípolo já defendeu ideias consideradas menos ortodoxas para a condução da política econômica. Em 2022, ele assinou um documento junto com outros nove especialistas com propostas na linha da Teoria Monetária Moderna. Um dos coautores era André Lara Resende, expoente no Brasil da chamada MMT, na sigla em inglês.

Apesar das expectativas em torno da atuação do indicado no BC, Haddad disse que Galípolo não é filiado ao PT e não vai representar o pensamento do partido no colegiado.

Os dois nomes sendo sabatinados pelo Senado são os primeiros a serem indicados pela atual gestão de Lula para o BC. Pelo cronograma, os próximos mandatos a expirar são de Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, e de Mauricio Moura, diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta —ambos em 31 de dezembro deste ano.

Em dezembro do ano que vem, terminam os mandatos de Campos Neto, do diretor de Regulação, Otavio Damaso, e da diretora de Administração, Carolina de Assis Barros.

A lei também de autonomia do BC, aprovada em 2021, determina mandatos fixos de quatro anos ao presidente e aos diretores da autarquia, que podem ser renovados apenas uma vez e não são coincidentes com o do presidente da República.

THAÍSA OLIVEIRA E FÁBIO PUPO / Folhapress

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