RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A gestão do economista Marcio Pochmann, presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), subiu o tom contra reclamações de servidores que cobram maior diálogo e criticam medidas adotadas na instituição.
Em novo comunicado, a direção da casa afirmou, na noite de segunda (23), “refutar com firmeza as infundadas acusações de comportamento autoritário”.
Foi a segunda nota publicada no mesmo dia com a assinatura da presidência do instituto, o que reflete a crise interna do principal órgão de estatísticas do país.
A tensão aumentou na sexta (20), quando a entidade sindical que representa os servidores do IBGE, a Assibge, agendou um protesto contra o que chamou de “medidas autoritárias” de Pochmann. A manifestação deve ocorrer na próxima quinta (26), no Rio de Janeiro.
A Assibge diz que a atual gestão criou uma fundação pública de direito privado, a IBGE+, sem consultar os trabalhadores do instituto. Há quem considere a nova organização uma espécie de “IBGE paralelo”.
O comunicado da presidência do órgão, que lista ações adotadas desde o ano passado, afirma que “a direção do IBGE não pode senão refutar com firmeza as infundadas acusações de comportamento autoritário”.
“O que se impõe hoje ao IBGE e seu corpo de servidores não é uma vontade discricionária da atual gestão, mas sim a realidade, e o compromisso com a causa pública e republicana”, acrescenta o texto. A manifestação foi publicada na agência de notícias do instituto.
O estatuto da Fundação IBGE+ prevê, por exemplo, a possibilidade de parcerias, acordos, contratos e convênios com órgãos públicos ou privados, nacionais ou estrangeiros.
Também aponta, entre outros objetivos, dar apoio e incentivo à pesquisa estatística e geográfica, ao ensino e à disseminação de informações.
Entre os servidores, ainda há dúvidas sobre as tarefas que poderão ser desenvolvidas pela IBGE+. A Assibge diz temer a possibilidade de arrecadação junto ao setor privado no futuro.
Ao defender o projeto, a gestão Pochmann cita as atuais restrições de verba. De acordo com a presidência, o instituto tem hoje mais de 90% do orçamento comprometido com folha salarial e benefícios e gasta menos de 5% diretamente em suas pesquisas.
“A Fundação IBGE+ permitirá o recebimento de recursos para atender a pesquisas ou projetos desenvolvidos com ministérios, bancos públicos e autarquias, antes impossível devido a dependência de ‘orçamento'”, diz.
O comunicado ainda aborda outros pontos que geraram reclamações de servidores, como mudanças no regime de trabalho e possível transferência de funcionários para um prédio do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) no Horto, zona sul do Rio. O endereço é considerado de difícil acesso via transporte público.
A gestão Pochmann afirma que, em contato com a Secretaria do Patrimônio da União, buscou instalações que pudessem atender ao objetivo de reduzir “custos exorbitantes” de aluguel.
A presidência argumenta que, com a desocupação de imóvel na avenida Chile, no centro do Rio, usará recursos para melhoria de prédios próprios.
A nota destaca dois deles: a sede do instituto e o local que abriga o CDDI (Centro de Documentação e Disseminação de Informações), ambos na capital fluminense.
O comando do IBGE diz ter “na mesa” a opção de uso da unidade do Serpro, o que ainda precisa ser concretizado.
Segundo a gestão Pochmann, o instituto “iniciou ações” junto à Prefeitura do Rio para poder realizar, com suas vans, o transporte de servidores entre a estação de metrô do Leblon, também na zona sul, e o possível endereço de trabalho.
A presidência defende o retorno a jornadas presenciais pelo menos dois dias da semana no IBGE. A medida, segundo a gestão Pochmann, seria necessária para a recepção dos quase mil novos servidores que devem ingressar no órgão a partir do CNU (Concurso Nacional Unificado).
As críticas da Assibge ao economista se somaram a recentes cartas de técnicos de pelo menos duas diretorias do instituto (Pesquisas e Geociências). Nos textos, os pesquisadores se queixaram de falta de consulta nos processos decisórios.
Uma outra manifestação que chegava a pedir a saída de Pochmann também circulou na semana passada. A Assibge afirma desconhecer a autoria do texto, que trazia a assinatura genérica “servidores do IBGE”.
“A atual gestão está em constante diálogo com os canais adequados para cada uma das áreas e temas colocados, e espera que os servidores atuais e novos lutem pela instituição e sua modernização”, diz a presidência.
“Que também busquem trazer de volta o protagonismo em remuneração, instalações e investimentos em pesquisas, que são maiores que demandas individuais de grupos ou áreas que não são mais importantes do que a maioria dos ibgeanos e ibgeanas, nem mais imprescindíveis, pois todos são iguais”, acrescenta.
LEONARDO VIECELI / Folhapress