Gestão Tarcísio acionou operação policial na cracolândia dois dias antes de mudança

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Equipes das polícias Civil e Militar que atuam na região central de São Paulo foram comunicadas pela gestão do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), na última quinta-feira (6), de que participariam de uma operação policial na cracolândia durante o fim de semana.

Dois dias depois após o comunicado, a aglomeração de usuários de drogas que ocupava ruas da Santa Ifigênia foi escoltada por carros da polícia e da GCM (Guarda Civil Metropolitana) para a área sob o viaduto Governador Orestes Quércia, no Bom Retiro. Horas depois os dependentes químicos fizeram o caminho inverso e voltaram para a rua Conselheiro Nébias, um dos pontos ocupados pela cracolândia antes da tentativa de mudança.

A operação foi organizada para que as equipes fossem distribuídas em locais para evitar a reocupação pelos usuários de pontos já recuperados, como o entorno da praça Júlio Prestes, endereço da cracolândia por mais de 30 anos e hoje ocupado por torres residenciais.

A iniciativa coincidiu com a conclusão dos primeiros seis meses da gestão Tarcísio. Um documento em PDF assinado pelo secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, e intitulado “Principais conquistas em seis meses” foi elaborado pela equipe de comunicação da pasta nesta semana.

Entre as “principais conquistas”, aparecem dados de queda de índices de criminalidade na região central e uma foto com dois policiais na rua Guaianases vazia. A via se tornou um dos principais pontos de aglomeração de usuários de drogas desde a dispersão da cracolândia em maio do ano passado.

O tema cracolândia foi definido como prioridade pelo governador que denominou o vice-governador Felicio Ramuth (PSD) para gerenciar as ações nesse âmbito e fazer a ponte entre as secretarias municipais e estaduais. Ramuth foi procurado pela reportagem para comentar a tentativa frustrada de mudar a cracolândia de endereço, mas não atendeu aos pedidos de entrevista.

A reportagem apurou que o viaduto foi escolhido por causa da proximidade com o complexo Prates, equipamento municipal que presta atendimentos médicos e de assistência social a moradores de rua e dependentes químicos.

O serviço dispõe de leitos de acolhimento e de atendimento ambulatorial contra dependência química. Havia a expectativa de que a proximidade dos usuários com o complexo Prates estimulasse os frequentadores da cracolândia a buscar tratamento.

Outro endereço próximo do viaduto, o terreno do antigo Detran, na altura do número 900 da avenida do Estado, também foi discutido em reuniões semanais entre representantes da prefeitura e do governo do estado como uma possibilidade para direcionar o fluxo de usuários de drogas. A ideia não foi adiante porque a prefeitura defendeu que o terreno tem projeto de abrigar uma unidade da Vila Reencontro para acolher pessoas em situação de rua.

Questionado sobre a tentativa de mudança de local da cracolândia, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) negou envolvimento da administração municipal. Segundo ele, a aglomeração de dependentes químicos tem dinâmica própria e decidiu rumar por si própria para debaixo do viaduto no Bom Retiro.

“Apesar de vocês insistirem em falar que a GCM conduz aquele grupo de pessoas para algum local, a gente só faz o acompanhamento. Eles têm uma dinâmica própria. Se não fosse assim, eles não teriam ido para outro local, né?”, disse Nunes ao ser questionado sobre o assunto na segunda (10), durante evento na zona leste.

A gestão Nunes foi procurada novamente nesta terça-feira (11) para comentar a ação policial programada para o dia em que houve a tentativa de mudança e manteve o mesmo posicionamento.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública disse que, no sábado, foi deflagrada “ação de preservação da ordem pública, após um grupo de dependentes químicos iniciar um deslocamento entre os bairros da Santa Ifigênia e Campos Elíseos”. Segundo a pasta, parte do grupo se dividiu entre as proximidades da ponte Orestes Quércia e a outra parte retornou à região central.

Sobre o material elaborado pela equipe de comunicação, a secretaria afirmou ser de uso interno e que não foi distribuído.

A dispersão de usuários de drogas pelo centro da cidade tem sido um problema para as gestões municipal e estadual há mais de um ano, quando uma ação policial expulsou dependentes químicos e traficantes da praça Princesa Isabel, endereço da cracolândia por cerca de três meses após dispersão do entorno da praça Julio Prestes.

Nesta terça-feira (11), houve confronto entre usuários de drogas e policiais após um ônibus e uma viatura da PM terem sido depredados na praça Júlio de Mesquita, próximo à cracolândia que hoje se concentra entre as ruas dos Gusmões e Conselheiro Nébias.

MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress

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