SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dos 20 clubes que estão atualmente na Série A do Campeonato Brasileiro, apenas os 8 que fazem parte da Libra têm até o momento contrato para a concessão de seus direitos de transmissão à TV Globo a partir de 2025.
A ausência de um acordo com as demais equipes da competição representa um risco para a manutenção do modelo de negócios do Premiere.
Atualmente, o serviço de “pay-per-view” do Grupo Globo tem como pilar a oferta de 361 das 380 partidas do campeonato -não há acordo do Athletico Paranaense com o Premiere-, com aproximadamente metade dos jogos exibidos exclusivamente -geralmente, são cinco por rodada.
Mantido o cenário que no momento se desenha para 2025, o Premiere só teria a garantia de um jogo exclusivo a cada duas rodadas. A situação dependeria do cruzamento dos times e de quais deles seriam os mandantes a cada jornada, porém, de qualquer maneira, seria uma queda brusca.
A questão é ligada à Lei do Mandante, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em 2021. Ela mudou a regra definida na Lei Pelé e estabeleceu que é a emissora detentora do contrato com a equipe mandante aquela que tem o direito de transmissão.
Hoje estão na Libra -e têm acerto com a Globo- os seguintes clubes da primeira divisão nacional: Atlético-MG, Bahia, Flamengo, Grêmio, Vitória, Palmeiras, Red Bull Bragantino e São Paulo. Outras 11 formam a Liga Forte União, que ainda não tem acordo de TV. Já o Corinthians tem negociado de forma independente.
Em nota enviada à reportagem por seu departamento de comunicação, a emissora carioca afirmou: “Em qualquer cenário, queremos garantir que a Globo continuará a levar a maior e melhor oferta do futebol brasileiro ao torcedor”.
“É através de uma oferta consistente de jogos -exclusivos ou não- que ele [Premiere] gera valor para o torcedor como uma experiência ampla e exclusiva para o fã do esporte, especialmente em um ambiente de fragmentação de direitos. Ainda estamos em negociações, e é cedo para detalhar como se dará essa oferta”, acrescentou.
A redução de partidas teria um significativo impacto nas receitas repassadas aos clubes -oriundas dos assinantes do canal. Em 2023, com os 20 clubes no serviço, o faturamento da plataforma foi de R$ 840 milhões, dos quais os clubes dividiram R$ 302 milhões. Com menos times, seria inevitável uma queda nesse tipo de arrecadação.
No acordo celebrado entre Globo e Libra, com duração de cinco anos (2025 a 2029), incluindo direitos de transmissão em TV aberta e fechada, está previsto o pagamento de R$ 1,3 bilhão por ano, num total de R$ 6 bilhões pelas cinco temporadas.
Além desses valores, é descrito um repasse para os clubes de acordo com o faturamento do Premiere, que não está especificado no contrato justamente porque a emissora ainda não consegue prevê-lo. As partes tratam esse pagamento como um valor extra.
A emissora carioca, contudo, confirma que há conversas em andamento para “negociar direitos adicionais aos já adquiridos junto a Libra”.
Fazem parte do bloco da Liga Forte União e estão atualmente na elite do brasileiro 11 clubes: Atlético-GO, Athletico-PR, Criciúma, Cruzeiro, Cuiabá, Juventude, Fluminense, Fortaleza, Botafogo, Internacional e Vasco.
As tratativas envolvendo os direitos de transmissão do grupo são intermediadas pela Livemode, uma agência de marketing e produtora.
A empresa tem adotado uma tática diferente para negociar as propriedades comerciais do bloco. Em vez de comercializar todos os direitos com um único grupo como a Libra fez, tem como ideia criar pacotes de jogos para oferecer a emissoras e plataformas de “streaming”.
No entendimento do grupo, dessa forma, seria possível arrecadar valores mais altos do que os alcançados pelo modelo adotado pela concorrente. Até o momento, nenhum pacote foi comercializado.
“O foco da LFU é a maximização das receitas dos jogos envolvendo seus clubes como mandantes, além da valorização de longo prazo do produto. O PPV [‘pay-per-view’] é uma das opções e será comparado com as demais pela LFU para se chegar à melhor solução”, afirmou o bloco de clubes em nota.
Além dos direitos para o Premiere, a Globo manifestou ao grupo interesse em negociar as partidas para a TV aberta. Record e SBT também estão nessa disputa.
Ao todo, o pacote de TV aberta, que inclui transmissões gratuitas pela internet, tem 38 jogos por edição do campeonato, ou seja, um jogo por rodada do Brasileiro.
Citando questões de confidencialidade, a LFU informou que não pode dar detalhes de suas negociações, mas afirmou que tem tratativas em diferentes estágios.
“Estamos avançando nas negociações e animados com o grande interesse dos grupos de mídia nacionais e globais pelo Brasileiro. Existem conversas em estágios bem avançados de negociação e outras em estágio intermediário. Alguns desses grupos já compram direitos esportivos, e outros enxergam o Brasileiro como porta de entrada no Brasil.”
A LFU explica, ainda, que negocia três pacotes com grupos de jogos diferentes. “Um pacote pensado para plataformas abertas e outros dois pacotes pensados para plataformas fechadas. Os jogos em cada pacote serão exclusivos, sem a possibilidade de sublicenciamento.”
Em paralelo à negociação com a Liga Forte União, a Globo tem tratativas com o Corinthians, clube que não se associou até o momento a nenhum dos dois blocos.
O presidente alvinegro, Augusto Melo, afirmou recentemente, em entrevista à TV Bandeirantes, que sua agremiação está perto de alcançar um acordo com a Globo. “Já chegamos mais ou menos a um denominador”, disse o dirigente.
Questionada pela reportagem especificamente sobre essa negociação, a Globo afirmou que está feliz com “a confiança e o interesse dos clubes em manter a parceria”.
Já a Libra, também procurada pela reportagem, evitou dar detalhes do acerto que tem com a emissora carioca. “Em respeito às negociações da Liga Forte União ainda em andamento, a Libra entende que não cabe emitir opinião sobre cenários hipotéticos neste momento, bem como não comentará cláusulas específicas do contrato de transmissão do Campeonato Brasileiro da Série A já assinado por seus clubes membros.”
A entidade ressaltou ainda que, em seu estatuto, continuará tendo como norte a criação de uma liga nacional que envolva os 40 clubes da Série A e da Série B do Campeonato Brasileiro.
LUCIANO TRINDADE / Folhapress