Gloria Gaynor, no Rock in Rio, diz que a disco music nunca morreu para os fãs

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma noite antes de dar entrevista, Gloria Gaynor fez uma mousse de maracujá para os convidados do jantar em sua casa. Foi uma das iguarias que ela conheceu em uma de suas sete visitas ao Brasil, desde 1995 até o ano passado, para um evento fechado.

Nesta semana, ela se apresenta no país para o público pela primeira vez desde 2012. Com shows no Rock in Rio, nesta sexta-feira, em São Paulo, no sábado, e em Curitiba, na segunda, a dona do hit “I Will Survive”, que se tornou um dos hinos do orgulho gay, atrai seu público cativo mais uma vez do alto de seus 81 anos.

“Tenho certeza que as pessoas vão estar muito animadas e ansiosas pelos shows, como eu estarei também”, diz Gaynor. “Minhas expectativas são as de ver o que eu sempre encontrei no Brasil: um público animado, acolhedor e caloroso.”

A cantora teve um sucesso estrondoso nos anos 1970 durante a explosão disco. Além de “I Will Survive” em 1975, ela também emplacou nas paradas americanas “Let Me Know (I Have a Right)”, em 1979, “I Am What I Am”, em 1983, e uma versão de “Never Can Say Goodbye”, originalmente gravada pelo Jackson 5, em 1974.

Gaynor comenta que, para ela, a disco music sofreu na época com o estereótipo de ter sido ligada às drogas e ao sexo. “Mas isso não tinha nada a ver com a música –o que as pessoas faziam enquanto ouviam a música não tinha nada a ver com a música.”

A cantora se casaria com o seu agente na época, Linwood Simon. Foi um relacionamento de 26 anos que, segundo ela, a limitou em diversos aspectos de sua vida –Gaynor sempre quis ter filhos, Simon não. Em relação à sua carreira, marido e mulher também tinham fortes discordâncias. Quando Gaynor se divorciou, em 2005, foi um recomeço pessoal e profissional.

Essas escolhas levaram a cantora a gravar o álbum gospel “Testimony”, de 2019. “Eu sempre quis fazer música de Deus, mesmo que não exclusivamente”, diz a artista sobre o trabalho, que levou o prêmio de melhor disco gospel raiz no Grammy de 2020.

Para o ano que vem, ela planeja um EP que voltará à música secular, com temas “contemporâneos, como relacionamentos e a vida em geral” e, claro, suas amadas batidas disco. O recuo da cantora segue uma tendência do retorno à disco music que rola desde o final da década passada, com discos como “Renaissance” de Beyoncé e “Future Nostalgia” de Dua Lipa.

“Eu não fiquei surpresa”, falou Gaynor. “As pessoas sempre me diziam que a disco music tinha morrido e eu dizia: ‘não, a disco music está viva e bem no coração de amantes de música no mundo inteiro’.”

O show de Gaynor acontece também em meio a uma onda de turnês de reunião no Brasil e fora, em que artistas queridos do público há anos retornam aos palcos para apresentar hits de décadas passadas.

No Rock in Rio, apesar dos dias com shows de artistas jovens para públicos jovens como Travis Scott e Shawn Mendes, artistas como Cyndi Lauper, que não vem ao país há 12 anos, Deep Purple e Journey também fizeram e farão apresentações no festival.

Em novembro deste ano, o Brasil terá apresentações do Kool and the Gang, também um destaque da disco music dos anos 1970. Para Gaynor, isto atesta o poder de permanência do disco. “Uma música que une pessoas de todas as idades, raças, crenças e nacionalidades.”

A cantora diz que o público de seus shows sempre foram formadas por pessoas dos oito aos 80 anos, apesar de a predominância de fãs de longa data.

Talvez a maior turnê de reunião em muitos anos, a volta do Oasis foi alimentada principalmente pelos fãs originais dos anos 1990, mas a renovação do público, que espalha memes dos irmãos Gallagher pelo X –e são, em sua maioria, meninas adolescentes– é expressiva.

Num momento em que o mercado de shows e festivais está muito aquecido, todas as gerações parecem querer ouvir suas canções preferidas ao vivo. Para Gaynor, isso tem uma razão clara: “É um jeito de liberar as tensões do dia e só relaxar, e perceber que a vida ainda vale a pena.”

AMANDA CAVALCANTI / Folhapress

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