SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Criminosos têm usado a imagem de famosos para divulgar um jogo falso usado para aplicar golpes. O material promete dinheiro fácil a usuários, em troca de um pagamento inicial e dados pessoais.
Para isso, os golpistas recorrem a inteligência artificial para criar vídeos protagonizados pelos famosos, os chamados deepfakes. Circulam conteúdos com voz e imagem do atacante Neymar, da cantora Anitta e dos influenciadores Carlinhos Maia e Virgínia Fonseca.
À suposta recomendação das celebridades, os estelionatários adicionam imagens do popular jogo Subway Surfers, com edições grosseiras para indicar falsos ganhos em moeda brasileira, o real.
No jogo original, a moeda é fictícia e não há pagamento pelo desempenho do usuário. O Subway Surfers conta com mais de 1 bilhão de downloads apenas na Play Store, do Google -a Apple não divulga informações sobre demanda de aplicativos.
A reportagem encontrou 88 publicações fraudulentas na biblioteca de anúncios da Meta -dona de Facebook, Instagram e WhatsApp. Nesses casos, as redes sociais recebem dinheiro para aumentar o alcance dos conteúdos usados em golpes.
Além de fotos de famosos, há imagens de cédulas de real, churrasco e bebidas para exaltar o dinheiro supostamente ganho com o Subway Money.
Grande parte desses anúncios leva a um site chamado Royal Bet, que traz imagens de outros jogos populares, como Fruit Ninja, Super Mario e Angry Birds. Esse portal pede dados do usuário, com a promessa de usar o CPF para enviar dinheiro via Pix.
No endereço virtual, há promessas de transferência de R$ 500 e até iPhones.
Quem faz o cadastro, de fato, consegue acesso a uma versão pirata do Subway Surfers, mas, para liberar os supostos prêmios, o site Royal Bet cobra entre R$ 30 e R$ 100, segundo investigação da empresa de cibersegurança Kaspersky.
Em comentários nas redes sociais, diversos usuários afirmam que não conseguiram recuperar os valores que supostamente tinham em suas contas no Subway Money.
O G1, que revelou o golpe com destaque a um deepfake do âncora da TV Globo Cesar Tralli, diz ter encontrado mais de 700 conteúdos citando Subway Money na biblioteca de anúncios da Meta.
A Folha mostrou em outubro que golpes com deepfakes de famosos já circulavam no exterior e também usavam imagens de pessoas comuns para enganar amigos da vítima.
Newsletter Folha Mercado Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes. *** Publicar anúncios para enganar o público e usar inteligência artificial em vídeos e áudios sem informar a audiência são duas práticas que violam as normas da Meta para anunciantes. Existem, porém, propagandas do jogo falso que datam de 6 de dezembro, como um deepfake do funkeiro Mc Ryan SP recomendando o game.
No Google, a busca por Subway Surfers exibe anúncios do jogo fraudulento Subway Money antes do próprio site oficial do game para celular.
Publicações sobre o Subway Money também circulam no X, ex-Twitter, e no TikTok.
Na rede social de vídeos curtos, há publicações de novembro ainda online, embora o uso de deepfakes para enganar o público configure violação das normas da plataforma para uso de inteligência artificial.
No X, três usuários reclamam de ter perdido dinheiro com o golpe.
À Folha a Meta afirma que “atividades que tenham como objetivo enganar, fraudar ou explorar terceiros não são permitidas nas plataformas da holding, que está sempre aprimorando a sua tecnologia para combater atividades suspeitas”.
A empresa recomenda que as pessoas denunciem quaisquer conteúdos que acreditem ir contra os padrões da comunidade do Facebook, das diretrizes da comunidade do Instagram e os padrões de publicidade da Meta por meio dos próprios aplicativos.
Em nota enviada à reportagem, o TikTok diz que não permite a promoção de jogos de azar ou tentativas de fraudes ou enganar membros da comunidade. “Quando identificados, esses conteúdos são removidos da plataforma.”
O TikTok também afirmou que avaliará se vídeos sobre o Subway Money enviados pela Folha violam as diretrizes da plataforma.
Procurados pela Folha de S.Paulo, X e Google não responderam até a publicação desta reportagem.
PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress