Governadores e prefeitos têm histórico mais pé-quente na eleição de São Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O histórico das dez eleições para a Prefeitura de São Paulo realizadas desde a redemocratização do país, em 1985, mostra que governadores e os próprios prefeitos tiveram melhor resultado até aqui seja como padrinhos políticos dos candidatos, seja buscando a recondução.

Em metade dessas disputas, ao menos o governador do estado ou o prefeito saíram vitoriosos —em alguns casos, ambos—, sendo que o presidente da República só em uma ocasião emplacou seu candidato na prefeitura da maior cidade do país.

A nacionalização da disputa deve se repetir em outubro. Guilherme Boulos (PSOL) é o candidato do presidente Lula (PT). Já o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição, conta com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Se o histórico emite sinais mais simpáticos a Nunes, a última pesquisa do Datafolha, de março, trouxe números mais favoráveis a Boulos.

De acordo com o instituto, o apoio de Bolsonaro levava 63% dos eleitores de São Paulo a não votar de jeito nenhum no candidato indicado por ele, contra 42% de Lula —a pesquisa trouxe Boulos (30%) e Nunes (29%) empatados na liderança da disputa.

No caso de Tarcísio, seu apoio afastaria o voto de 44% dos entrevistados, atrairia com certeza 17% e faria outros 35% talvez votarem em seu candidato.

O fato é que nas três primeiras eleições paulistanas após o fim da ditadura militar nem presidente nem governador nem prefeito se deram bem.

Em 1985, a primeira, o fiasco coube ao PMDB (hoje MDB), partido do prefeito, Mário Covas, do governador, Franco Montoro, e do presidente, José Sarney —o PSDB só seria criado em 1988.

Todos estavam ao lado de Fernando Henrique Cardoso (PMDB), que era o favorito e protagonizou a famosa cena de se sentar à cadeira de prefeito antes da hora, foto que estampou a capa da Folha no dia da eleição, 15 de novembro de 1988.

Deu Jânio Quadros (PTB), o ex-presidente da República excêntrico que depois “desinfetou” a cadeira sob o argumento de que “nádegas indevidas a usaram”.

Em 1988 foi a vez de Jânio integrar a trinca do fracasso em São Paulo —ele como prefeito, Orestes Quércia como governador (PMDB) e, outra vez, Sarney na Presidência. Os três apoiavam a candidatura de João Oswaldo Leiva (PMDB), que ficou em terceiro.

O cenário era de hiperinflação e Quércia não mediu as palavras para culpar Sarney pelo fracasso do PMDB em São Paulo e em outras regiões do país.

Venceu a disputa a prefeita Luiza Erundina (PT), mesmo em um ambiente de machismo bem mais acentuado do que o atual. Jânio, por exemplo, afirmava não admitir ser sucedido por nenhuma mulher: “Mulher eu gosto com criança no colo ou preparando tutu de feijão”.

Em 1992, Erundina deu início ao histórico de fracassos do PT na tentativa de continuar no poder no mandato subsequente.

Ela apoiava Eduardo Suplicy (PT), que perdeu para Paulo Maluf (PDS, hoje PP). Após 14 anos e cinco tentativas eleitorais frustradas, o ex-prefeito e ex-governador biônico conseguia chegar ao poder por meio do voto popular.

O governador Antonio Fleury Filho (PMDB) apoiou Aloysio Nunes Ferreira, do mesmo partido, mas ele ficou em terceiro. O presidente Itamar Franco (PMDB), que havia acabado de assumir o cargo com o afastamento de Fernando Collor de Mello, não se envolveu na disputa.

Foi em 1996 que pela primeira vez um padrinho político conseguiu emplacar seu candidato. Maluf elegeu Celso Pitta (PPB, hoje PP), seu então secretário de Finanças.

O governador Mario Covas (PSDB) e o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) apoiaram a candidatura de José Serra (PSDB), mas o tucano ficou em terceiro.

A conturbada gestão Pitta, que chegou ao final com altíssima impopularidade e rompido com Maluf, acabou sendo um importante fator a barrar a volta de seu ex-padrinho, que acabou derrotado em 2000 por Marta Suplicy (PT).

Os tucanos repetiram em 2000 o desempenho de quatro anos antes. Covas e FHC apoiaram dessa vez Geraldo Alckmin (PSDB), que, assim como Serra, terminou em terceiro.

Em 2004, na primeira disputa municipal de São Paulo em que o prefeito tentou a reeleição, Marta acabou derrotada por Serra, que contou com apoio do então governador Alckmin.

Lula, que apoiou a recondução de Marta, estava em seu primeiro mandato como presidente.

O vice de Serra, Gilberto Kassab (PFL, hoje União Brasil), assumiu a prefeitura após o tucano renunciar para disputar e vencer o governo do estado em 2006.

Com isso, Kassab disputou a reeleição em 2008 e ganhou com o fundamental apoio de Serra, então no Palácio dos Bandeirantes. O tucano fez corpo mole para o candidato oficial do seu partido, Alckmin, que nem para o segundo turno foi.

Marta também foi derrotada, embora contasse novamente com o apoio de Lula.

O ano de 2012 marcou a primeira e única vez até agora que um presidente da República emplacou seu candidato na Prefeitura de São Paulo.

Fernando Haddad (PT) derrotou Serra contando com Dilma Rousseff (PT), mas fundamentalmente por ter o apoio naquela ocasião do ex-presidente Lula, que deixou seu segundo mandato com 83% de aprovação popular, de acordo com o Datafolha.

O próprio Haddad chegou a ironizar afirmando ser o “segundo poste” de Lula. O primeiro era Dilma.

Nessa disputa, Serra tinha amparo de Alckmin no governo do estado e Kassab na prefeitura.

Quatro anos depois, e já após o impacto tanto dos megaprotestos de rua de 2013 como do impeachment de Dilma, em 2016, Haddad patrocinou o terceiro fiasco do PT na tentativa de emplacar um mandato consecutivo no comando de São Paulo.

Ele perdeu a reeleição para João Doria (PSDB), à época alavancado por Alckmin no governo do estado. O presidente Michel Temer (MDB), com baixíssima popularidade, viu Marta, então a candidata do seu partido, ficar em quarto lugar, o pior resultado obtido por ela na cidade.

A última eleição municipal de São Paulo foi vencida por Bruno Covas (PSDB), em 2000.

Ele havia assumido a prefeitura após Doria renunciar para disputar e vencer o governo do estado. O então presidente Jair Bolsonaro (sem partido) apoiou Celso Russomanno (Republicanos), que ficou em quarto e puxou a fila de uma série de fracassos eleitorais dos candidatos do presidente naquele ano.

Covas morreu em 2021, vítima de câncer. Nunes, seu vice, assumiu a vaga.

RANIER BRAGON / Folhapress

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