Governo avalia desidratar COP30 em Belém e transferir reuniões para RJ ou SP

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo Lula (PT) avalia retirar de Belém parte da COP30, a cúpula global do clima da ONU, e transferir uma série de reuniões e eventos da conferência para outras cidades do Brasil.

A avaliação de uma ala dos auxiliares de Lula é que a capacidade hoteleira e a infraestrutura necessárias na capital do Pará dificilmente ficarão prontas até novembro do próximo ano para receber um evento da magnitude da COP.

São esperados milhares de delegados e outros participantes dos 195 países signatários.

Diante disso, a possibilidade em discussão por auxiliares de Lula é concentrar em Belém só uma parte da COP30, principalmente as agendas dos chefes de Estado e das principais autoridades. Os demais eventos seriam levados para outras cidades.

Segundo pessoas com conhecimento do tema disseram à reportagem, estão em discussão como sedes paralelas Rio de Janeiro e São Paulo, metrópoles com infraestrutura mais consolidada e com histórico de sediar grandes eventos.

Procurado, o Itamaraty afirmou que “mantém o planejamento de que a cidade de Belém será sede da COP30” e que continua trabalhando “em conjunto com o governo do Pará para assegurar o êxito do evento”. O governo do Pará não se manifestou.

O Rio vai receber no final deste ano a cúpula do G20, grupo das maiores economias do mundo. A cidade também hospedou a Cúpula da Terra de 1992 e a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), em 2012.

Pelo desenho discutido, reuniões técnicas e fóruns paralelos à COP30, que envolvem representantes empresariais e do terceiro setor, ocorreriam no Rio ou em São Paulo. Ou seja, essas cidades albergariam o grosso dos delegados e demais participantes do evento climático.

Segundo disseram à reportagem pessoas com conhecimento das tratativas, a possibilidade de “fatiar” a COP ainda não foi levada a Lula.

As dificuldades logísticas e de infraestrutura de Belém são levantadas desde que Lula apresentou a candidatura da cidade para sediar o encontro global do clima da ONU, ainda no primeiro ano de governo, em 2023.

Um dos principais obstáculos é a capacidade hoteleira.

De acordo com pessoas a par das conversas, Belém tem hoje cerca de 14 mil leitos de hotel. A afluência de representantes estrangeiros à cidade criaria uma demanda de aproximadamente 80 mil leitos, segundo esses mesmos interlocutores. Caso o Brasil não estabeleça limite para o tamanho das delegações, a necessidade total poderia ultrapassar 100 mil leitos.

Foram estudadas possibilidades para expandir a capacidade da cidade de receber visitantes, como o uso de embarcações ou mesmo um sistema pelo qual moradores da cidade colocariam suas casas e apartamentos para alugar em esquema de Airbnb.

O diagnóstico de parte do governo federal, no entanto, é que dificilmente a expansão dará conta da demanda necessária para as dimensões da COP.

Em nota enviada à reportagem, o Ministério das Relações Exteriores disse que o planejamento de Belém como sede está mantido “conforme determinação do presidente Lula de que a conferência seja realizada na região amazônica”.

“O ministério continua a trabalhar em conjunto com o governo do Pará para assegurar o êxito do evento. Para o ministro Mauro Vieira, a oportunidade inédita de levar a COP para a Amazônia brasileira tem contado, na preparação, com todo o respaldo do governador do Pará, Helder Barbalho”.

A gestão do governador Helder Barbalho (MDB) vem afirmando nos bastidores que existem apenas insinuações de que parte da COP pode deixar a capital Belém. Interlocutores no estado afirmam que não houve nenhuma sinalização ou comunicação oficial do governo Lula de que pode haver mudanças nos planos para a conferência.

Esses auxiliares do governador insistem que o Pará segue com seus preparativos para receber os eventos da conferência na sua integralidade.

O governo paraense segue apostando na alternativa de navios cruzeiros que ficariam ancorados na região portuária, uma área nobre da capital paraense. Na segunda-feira (18), a vice-governadora, Hana Ghassan, participou de um evento do setor, recebendo o maior transatlântico da temporada.

Também vê como solução a recuperação de imóveis degradados do governo federal, como um prédio do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) que pegou fogo recentemente.

Mesmo neste caso há entraves. Interlocutores da gestão Helder dizem que o estado ainda aguarda uma solução definitiva de Brasília para a recuperação desse imóvel, mais especificamente do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviço Público.

Aliados de Helder também citam um componente político nos questionamentos sobre a capacidade de sediar o evento completo. Citam que o governador vem ganhando destaque, em particular com a COP30, a ponto de ser apontado como possível vice de Lula nas eleições de 2026.

Na próxima semana, a cidade de Belém estará em destaque, por causa da visita do presidente francês Emmanuel Macron. O líder europeu será recepcionado por Lula na capital paraense. Os dois presidentes depois terão compromissos juntos em Itaguaí (RJ) e em Brasília (DF).

RENATO MACHADO E RICARDO DELLA COLETTA / Folhapress

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