WASHINGTON, EUA E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo Joe Biden consultou a equipe do presidente eleito Donald Trump nos últimos dias antes de seguir com o acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo armado libanês Hezbollah anunciado nesta terça-feira (26).
De acordo com pessoas envolvidas na negociação, os assessores de Trump demonstraram respaldo à ação, por entenderem que seria benéfica tanto para o Líbano como para a segurança nacional dos Estados Unidos.
Segundo um integrante do alto escalão do governo, que falou em reserva, qualquer movimento que seja feito daqui até o dia 20 de janeiro passará pela consulta ao time do republicano. Isso porque restam apenas 55 dias para o fim da gestão atual e caberá a Trump continuar com os tratos firmados agora.
Um dos argumentos dados pelo governo Biden para seguir com o acordo imediatamente foi o de que isso pouparia vidas.
Este integrante do alto escalão do governo americano afirmou ainda que a gestão viu uma janela de oportunidade com uma mudança no comportamento tanto de Israel como do Líbano. O funcionário de Biden afirmou que os EUA não tratam com o Hezbollah diretamente, mas sim com o governo em Beirute, que prometeu se responsabilizar pelo que ocorresse no país.
O interlocutor disse também esperar que nenhuma das partes viole os acordos para implementar o cessar fogo e que nenhum dos países precise usar o direito de defesa caso haja uma quebra do trato.
Ao anunciar o cessar-fogo, Biden disse que Israel precisa agora transformar a série de vitórias que obteve na guerra contra os grupos apoiados pelo Irã em uma estratégia coerente “capaz de assegurar a segurança [de Tel Aviv] a longo prazo e avançar os objetivos de paz e prosperidade na região”.
A fala é uma crítica sutil à postura do governo Binyamin Netanyahu, que é acusado de promover uma guerra na Faixa de Gaza há mais de um ano sem um objetivo estratégico claro, aumentando assim o sofrimento dos palestinos e isolando o país diplomaticamente. Mais de 44 mil pessoas já foram mortas em ataques israelenses contra o território desde 7 de outubro de 2023.
No último dia 5, data das eleições presidenciais americanas, Netanyahu chegou a demitir seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, por discordâncias na condução da guerra -Gallant dizia que o objetivo do premiê de encerrar a guerra apenas quando o Hamas fosse completamente eliminado era irreal.
Ainda assim, o apoio militar e diplomático de Biden ao aliado no Oriente Médio nunca foi colocado em questão, com os EUA inclusive atuando para barrar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo um cessar-fogo em Gaza no último dia 20.
Em discurso nesta terça na Casa Branca, em Washington, Biden confirmou um cessar-fogo de dois meses no outro front da guerra. A trégua entre Israel e o Hezbollah terá início às 4h da manhã de quarta-feira (27) no horário local (23h desta terça no horário de Brasília) e representa, segundo o presidente americano, um arranjo permanente, colocando fim aos confrontos entre Tel Aviv e o grupo apoiado pelo Irã.
“O que sobrou do Hezbollah e de outras organizações terroristas não serão capazes de ameaçar a segurança de Israel novamente”, disse Biden. O acordo prevê ainda a retirada dos soldados israelenses do sul do Líbano ao longo de um período de 60 dias.
O local deverá ser ocupado pelo exército libanês com o objetivo de impedir o retorno do Hezbollah, que usou a região para lançar foguetes contra Israel. Beirute afirmou que suas Forças Armadas devem enviar 5 mil soldados ao sul do país assim que os militares israelenses se retirarem.
Na fala, Biden defendeu ainda a conclusão do acordo de normalização diplomática entre Israel e o outro grande aliado americano na região, a Arábia Saudita. Essa negociação, que teve início durante o primeiro mandato de Trump, era vista na época como uma garantia sólida da segurança de Israel no Oriente Médio e significava, ao mesmo tempo, que os países árabes estavam dispostos a reconhecer Tel Aviv antes da criação de um Estado palestino.
Segundo alguns analistas, a iminência da conclusão do acordo com Riad pesou na decisão do Hamas de lançar o ataque terrorista que matou 1.200 israelenses e sequestrou outras centenas em 7 de outubro de 2023, dando início ao conflito atual.
Biden disse ainda que, no período que lhe resta no cargo antes de entregar a Casa Branca para Trump, vai trabalhar por um cessar-fogo em Gaza.
Netanyahu, por sua vez, disse que seu país responderá a qualquer violação da trégua por parte do Hezbollah. “Israel manterá completa liberdade de ação. Continuaremos juntos até a vitória.” O premiê disse ainda que o grupo armado libanês sofreu um retrocesso de décadas.
JULIA CHAIB E VICTOR LACOMBE / Folhapress