BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O professor de economia Paulo Picchetti e o servidor Rodrigo Alves Teixeira são os escolhidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ocupar as duas cadeiras que ficarão vagas na diretoria do Banco Central na virada do ano.
Eles vão substituir Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos) e Mauricio Moura (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta), cujos mandatos terminam no dia 31 de dezembro.
O anúncio foi feito pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) em entrevista a jornalistas na manhã desta segunda-feira (30) na sede da pasta, em Brasília. Participou também da coletiva o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan.
Picchetti é especialista em econometria, análise de ciclos econômicos e índices de preços temas relacionados à missão do Banco Central de assegurar a estabilidade de preços da economia. Hoje, é professor na Escola de Economia de São Paulo, ligada à FGV (Fundação Getulio Vargas).
Ele já foi coordenador de índice de preços na Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e atua hoje em função similar na FGV Ibre, onde coordena o IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor – Semanal). Por isso, é reconhecido por pares como autoridade no tema.
Além disso, Picchetti cursou o mestrado em economia na USP no mesmo período em que o ministro Fernando Haddad (Fazenda), no início dos anos 1990. Ele também tem doutorado em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.
Já Teixeira é servidor de carreira do BC e atua hoje como secretário especial adjunto de Análise Governamental na Casa Civil. Ele é professor do departamento de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
A possível indicação de Teixeira não foi bem recebida por parte dos servidores do BC, segundo relatos ouvidos pela Folha de S.Paulo. Na visão desse grupo, ele trabalhou durante pouco tempo na instituição. Há um sentimento de desprestígio e um certo desconforto por parte de alguns funcionários, que entendem que ele não é, de fato, um nome com 20 anos de casa.
Outro fator de insatisfação é a perda de representatividade caso se confirme a indicação de dois homens para a cúpula do BC. Com a saída de Guardado, se outra mulher não for nomeada, restaria apenas Carolina de Assis (Administração) entre os nove membros do colegiado da autoridade monetária em 2024.
Segundo a lei da autonomia da autoridade monetária, aprovada em 2021, cabe ao presidente da República a indicação dos nomes para a cúpula do BC. Posteriormente, os indicados passam por sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal. Os escolhidos são, então, levados ao plenário para aprovação.
Na semana passada, Haddad disse que os nomes já tinham recebido aval de Lula e o anúncio dos indicados deveria ocorrer em breve. Havia expectativa de que a escolha fosse divulgada pelo presidente nesta sexta-feira (27) em café com jornalistas no Palácio do Planalto.
O petista, contudo, disse na ocasião não ter pressa para fazer indicações para cargos, entre elas as dos novos diretores do BC. Segundo Lula, elas “vão acontecer no momento em que devem acontecer.”
“Eu vou indicar alguém que eu acho que seja uma pessoa que possa ser indicada. Da mesma forma que vamos indicar pessoas para o BC, que o Haddad vai indicar essas pessoas, nós vamos discutir e indicar pessoas que tenham ampla competência para exercer a função que vai exercer”, afirmou.
Depois da declaração de Lula, Haddad se reuniu na tarde de sexta com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, em São Paulo para tratar de “assuntos governamentais”.
Apesar da fala do presidente, o governo quer dar celeridade às indicações para que os escolhidos passem pela sabatina ainda em 2023, antes do recesso do Congresso Nacional.
A ideia é assegurar que os novos integrantes participem do primeiro encontro do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC em 2024, agendado para os dias 30 e 31 de janeiro.
Com a indicação, a autoridade monetária passará a contar com quatro diretores designados por Lula entre os nove componentes do colegiado do BC. Os dois primeiros foram Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, e Ailton Aquino que hoje chefia a área de Fiscalização.
Os novatos chegarão à autarquia com a missão de colaborar para a redução dos juros, como pleiteada pelo governo petista, em meio a um ambiente de deterioração do cenário externo que tem levado os economistas a discutirem a possibilidade de frear o relaxamento da política monetária.
NATHALIA GARCIA / Folhapress