SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo de Israel voltou a avançar contra o jornal mais antigo do país, o Haaretz, neste domingo (24), quando proibiu funcionários públicos e de empresas estatais de falar com o diário e suspendeu a veiculação de anúncios publicitários governamentais nele.
Segundo o ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, a medida foi aprovada de forma unânime por todas as pastas do governo -inclusive pelo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu. “Defendemos a imprensa livre e a liberdade de expressão, mas também a liberdade do governo de decidir não financiar incitações contra o Estado de Israel”, disse Karhi em um comunicado.
De centro-esquerda, o Haaretz se tornou um dos veículos israelenses que mais contestam a atual coalizão no poder -a mais à direita da história do país-, além de um dos principais defensores de um cessar-fogo para a libertação dos reféns no contexto da guerra Israel-Hamas. Seus editoriais críticos e sua tradição de publicar investigações que expõem irregularidades e abusos cometidos pela gestão têm colocado o jornal em rota de colisão com as autoridades.
Em declaração publicada ainda no domingo, o veículo chamou a decisão do governo de oportunista e afirmou que ela foi a votação sem um parecer jurídico do escritório da Procuradoria-Geral, como seria a praxe.
“A resolução […] é mais um passo na jornada de Netanyahu para desmantelar a democracia israelense”, disse o jornal, comparando o premiê aos autocráticos líderes da Hungria, Rússia e Turquia -respectivamente, Viktor Orbán, Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdogan. “O Haaretz não recuará nem se transformará em um panfleto governamental que publica mensagens aprovadas pelo governo e seu líder”.
O ministro Karhi já tinha capitaneado uma ofensiva contra o Haaretz antes. No ano passado, tentou encerrar todas as assinaturas do jornal que órgãos do Estado mantinham, além de suspender anúncios do governo.
Ele argumentou que um dos estopins para avançar novamente contra o jornal foram as declarações que o editor, Amos Schocken, fez em Londres no final de outubro.
Na ocasião, Schocken acusou o governo de Tel Aviv de “impôr um regime de apartheid cruel contra a população palestina” e disse estar lutando a favor dos “guerreiros palestinos pela liberdade, que Israel chama de terroristas”. Ele depois se retratou em relação à última declaração, dizendo que não se referia aos integrantes do Hamas.
A gestão de Netanyahu vem intensificando a repressão contra a imprensa durante o conflito na Faixa de Gaza. O próprio Haaretz publicou um texto com tarjas que ocultavam parte de seu conteúdo depois que ele foi censurado pelo governo –a reportagem tratava da prisão arbitrária de palestinos na Cisjordânia ocupada.
O exemplo mais emblemático dessa perseguição foi, no entanto, o da emissora qatari Al Jazeera, cuja cobertura da guerra é considerada pró-Palestina por Tel Aviv.
Em maio, a rede teve suas operações em Israel forçosamente suspensas sob a justificativa de que seu funcionamento ameaçava a segurança nacional. Policiais fecharam os escritórios da rede, apreenderam seus equipamentos e tiraram do ar seu site e seus canais a cabo e via satélite.
Redação / Folhapress