BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Um dia depois de tomar posse, o governo de Javier Milei decidiu adiar o anúncio de um pacote de medidas econômicas que era esperado nesta segunda (11) para terça (12) e limitar a venda de dólares enquanto a nova equipe do Banco Central da Argentina não assume.
Quem quiser comprar dólares na cotação oficial mais barata, o que só uma pequena parte da população pode fazer, precisará de autorização prévia do órgão financeiro, ligado à Presidência. A regra afeta ainda os importadores argentinos, que também usam a cotação oficial.
“A medida foi tomada para dar tempo ao Poder Executivo para cumprir os trâmites administrativos para a formação das novas autoridades, e anunciar e implementar as políticas que serão levadas adiante”, divulgou o BC em nota, no que foi interpretado pela imprensa local como um “feriado cambial”. O novo presidente, Santiago Bausili, ainda não assumiu.
O órgão afirmou que, durante a transição, “as operações do mercado de câmbio serão analisadas e processadas com base em sua prioridade”.
Esse tipo de medida já ocorreu em outros governos e, desta vez, segundo o jornal La Nación, não afeta as operações financeiras, que continuam ocorrendo normalmente.
Ainda não está claro, porém, como os argentinos pagarão seus cartões de crédito, cuja cotação não está definida.
“Há gente que está tentando pagar o cartão de crédito e não está conseguindo, porque não sabem o quanto valem os dólares pagos no cartão”, diz o economista e consultor argentino Franco Jular.
Segundo ele, o Banco Central está estudando adiar o vencimento das faturas ou permitir o pagamento apenas em dólares, mas isso dependeria de uma decisão dos bancos.
O mercado aguarda o pacote fiscal que deve ser divulgado nesta terça pelo ministro da Economia, Luis Caputo, como anunciou o novo porta-voz do governo, o economista Manuel Adorni.
Ao sair da primeira reunião de gabinete de Milei com seus ministros, ele anunciou que será feita uma revisão dos contratos de todos os funcionários federais, em cada um dos ministérios e em universidades, para encontrar possíveis “contratações irregulares”.
O porta-voz também afirmou que se começará a exigir 100% de presença desses empregados. Mais cedo, ele repetiu o mantra que o novo presidente adotou para preparar a população para fortes cortes de gastos: “Não há dinheiro, não é só uma frase feita”, disse.
“Vamos respeitar estritamente o equilíbrio fiscal. Essa lógica de gastar mais do que se tem acabou”, afirmou, respondendo também que não tinha como fazer previsões para o mercado e o dólar para esta segunda porque “há algo que vamos terminar, ou tentar terminar, que é a futurologia”.
A cotação “blue” da moeda americana, que na prática rege os preços na Argentina, ficou estável no dia seguinte à posse, flutuando em torno de 990 pesos.
O país vizinho convive com diversas cotações diferentes porque o governo controla a compra e venda de dólares. O objetivo é preservar suas escassas reservas da divisa, causadas por décadas de endividamento externo.
Milei foi eleito prometendo retirar essas restrições, o que ele estima que vá demorar até o meio do próximo ano. Antes, ele quer resolver a dívida interna do BC, relacionada a ações chamadas de “Leliqs”, que ele menciona com frequência. Se não fizer isso, afirma, o país entrará em uma espiral ainda maior de inflação.
Durante a campanha eleitoral, o ultraliberal também afirmou que transformaria os dólares na moeda corrente do país e depois fecharia o Banco Central. Mas, depois que foi eleito, ele baixou o tom sobre essas propostas e nomeou um ministro da Economia que é conhecidamente contra a dolarização.
JÚLIA BARBON / Folhapress