O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, negaram os relatos de tortura e ameaças contra moradores de Guarujá, no litoral paulista, e disseram que todas as mortes em uma megaoperação de segurança na região ocorreram de forma proporcional. O estado confirmou oito mortes na operação.
Eles elogiaram o trabalho dos policiais e afirmaram que nenhum relato do tipo foi repassado ao governo.
A Ouvidoria das Polícias identificou dez mortes decorrentes de intervenção policial em Guarujá, no litoral paulista, desde sexta-feira (28) –quando teve início uma megaoperação das forças de segurança na Baixada Santista. A ação é uma resposta à morte de um soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, força de elite da PM paulista), na mesma cidade, na última quinta (27), em um crime que gerou comoção entre policiais. O número pode chegar a 12, segundo o ouvidor.
Derrite questionou a qualidade dos dados da ouvidoria, que são baseados em boletins de ocorrência registrados nos últimos quatro dias. O governo confirma oito mortes. “Nós reagimos com essa violência na mesma proporção com que eles atacam as polícias”, disse o secretário.
Já Tarcísio disse que está “extremamente satisfeito com a ação policial, extremamente triste porque nada vai trazer de volta um pai de família”, em referência ao soldado Patrick Reis, da Rota.
A operação na Baixada Santista deve prosseguir por mais um mês, mesmo após a prisão do suspeito de matar o policial.
Moradores de Guarujá relataram que policiais militares torturaram e mataram ao menos um homem e prometeram assassinar 60 pessoas em comunidades da cidade. A ouvidoria abriu um procedimento para investigar as denúncias.
Os relatos envolvem, por exemplo, o caso do vendedor ambulante Felipe Vieira Nunes, 30, que foi morto com nove tiros na noite de sexta-feira. O corpo foi entregue ao IML (Instituto Médico Legal) sem identificação, com marcas de queimadura de cigarros, um hematoma na cabeça e um corte no braço, segundo familiares.
Moradores da favela da Vila Baiana dizem ter ouvido os gritos de Nunes durante a tortura. A ouvidoria também investiga a morte a tiros de um homem de 46 anos que era esquizofrênico e relatos de invasões de casas por policiais mascarados.
A Operação Escudo, que vai durar um mês, envolve agentes de todos os 15 batalhões de operação especiais do estado. São cerca de 3.000 PMs, além de pelotões do Choque e do efetivo local.
SUSPEITO DE MATAR SOLDADO SE ENTREGOU
O suspeito de ter matado o policial é Ericson David da Silva, que se entregou em uma delegacia do Guarujá na noite de domingo acompanhado de seu advogado. A polícia não confirmou a sua idade.
Segundo Derrite, a arma do crime (uma pistola 9 mm) não foi apreendida. A polícia já procurava por ele, porém, com base em depoimento de outros três presos na operação de busca pelo grupo responsável pela morte.
Investigadores chegaram aos suspeitos por meio de uma nota fiscal encontrada no local do crime, pela compra de um croissant, e pela análise de imagens de câmeras de segurança no local, segundo Derrite.
O secretário disse que o autor dos disparos foi orientado por seu advogado a gravar, antes de se entregar, um vídeo em que pede o fim das mortes pelos policiais na região e diz que não tem “nada a ver” com o caso. Derrite diz que o suspeito mentiu no vídeo e que as autoridades têm áudios que comprovariam essa orientação do advogado.
POLICIAL FOI MORTO DURANTE PATRULHAMENTO
Durante um patrulhamento de rotina na quinta-feira na comunidade Vila Zilda, em Guarujá, o soldado Patrick Bastos Reis foi baleado quando a viatura estava deixava o local, já sob tiros, segundo o boletim da ocorrência.
Reis foi atingido na axila, chegou a ser socorrido, mas não resistiu. O cabo Marin, que participava do patrulhamento, foi baleado na mão esquerda.
Reis ingressou na PM em 7 de dezembro de 2017 e, segundo a corporação, “exerceu suas funções com grande dedicação e zelo com o que lhe era confiado, sendo um profissional dedicado, amigo e exemplar”.
O policial deixou a mulher e um filho de dois anos.
TULIO KRUSE / Folhapress