BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A área de segurança pública do governo estadual do Pará tem apresentado a sua fatura para o Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Lula (PT) conforme se aproxima a realização da COP30, a conferência climática da ONU (Organização das Nações Unidas). O evento ocorre em novembro, em Belém.
Só em abril, o governo recebeu da gestão Helder Barbalho (MDB) pedidos de apoio envolvendo a doação de carros descaracterizados e drones, recursos para bancar a diária de bombeiros e adiantamento de entrega de lanchas previstas para ações pelos rios da região.
Conforme informações obtidas pela reportagem, a Polícia Civil pediu a doação de sete carros seminovos “com ar-condicionado e automático”, todos descaracterizados, para simular padrão civil, “em perfeitas condições operacionais e no padrão das autoridades presentes no evento”.
Segundo a corporação, a doação ajudará a “reduzir a sobrecarga sobre a frota atual, que se encontra limitada e com desgaste natural em razão do uso intensivo”.
A solicitação também inclui quatro drones com tecnologia de visão noturna ou por calor. “Esses equipamentos irão auxiliar nas buscas, levantamentos e investigações das principais áreas do evento da COP30 e proximidades”, afirmou a Polícia Civil.
Um segundo pedido foi enviado pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará, que solicitou ao Ministério da Justiça repasse de R$ 7,2 milhões para viabilizar o pagamento de diárias de até 120 bombeiros por dia, que seriam mobilizados nas regiões mais afetadas pelos incêndios.
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Pará, houve aumento de 85,66% na área queimada no estado em 2024 sobre o ano anterior, com mais de 56 mil focos de calor registrados.
“Considerando a necessidade de garantir uma resposta eficaz durante a COP30, torna-se imprescindível o reforço de recursos financeiros e humanos, por meio da ampliação do custeio de diárias disponibilizadas pela Operação Protetor do Bioma”, afirma.
As demandas que chegaram à pasta comandada por Ricardo Lewandowski também incluem a antecipação de cronograma para entrega de lanchas já adquiridas e que serão usadas pelo Grupamento Fluvial de Segurança Pública do Pará. Não é especificado um número de equipamentos ou prazo.
A despeito dos gastos com segurança, o governo federal tem se incomodado com a questão dos preços de hospedagem no Pará. Como informou a Folha de S.Paulo, o governo Lula quer fechar um acordo com a rede hoteleira estadual para que as empresas respeitem uma faixa de variação de preços de hospedagens durante a COP30, baseada no que é praticado durante o Círio de Nazaré, evento religioso que é celebrado em outubro.
As autoridades já monitoram valores de passagens aéreas, tema que deve ser objeto de negociações com empresas do setor, também levando em conta a realidade do mercado na festa religiosa. Em 2024, mais de 2 milhões de pessoas acompanharam o Círio em Belém.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, a quase seis meses da COP30, Belém registra um déficit de 13.985 leitos em relação à meta usada pelos governos federal e do Pará para receber os visitantes do evento.
A capacidade da capital paraense para acomodar os participantes é uma das principais preocupações dos organizadores desde que Belém foi anunciada como sede da conferência. Os temores têm levado a mudanças na programação, como a antecipação da reunião de líderes do evento para o começo de novembro, para reduzir a pressão na rede hoteleira.
O governo federal assinou um contrato com a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) para ampliar a hospedagem em Belém por meio de navios e, assim, tentar reduzir o déficit de leitos na capital paraense durante o evento.
Por meio de nota, o gabinete da Secretaria Nacional de Segurança Pública do ministério informou que “os processos estão em análise técnica”.
Seis dias depois de receber um pedido de posicionamento, a Secretaria de Segurança Pública do Pará declarou, após a publicação desta reportagem, que “nenhuma solicitação de equipamentos e veículos está relacionada à COP30”. Ocorre que, como a Folha de S.Paulo deixou claro à própria secretaria e informa neste texto, todos os pedidos são explícitos em vincular cada uma das solicitações à realização da COP30.
Segundo a Segup, seus pedidos para reforçar as ações de segurança no Pará “fazem parte da contrapartida da Secretaria Nacional de Segurança Pública em razão da manutenção de agentes de segurança do Pará que atuam na Força Nacional de Segurança Pública, como ocorre em todos os estados da federação”.
“A Segup informa ainda que o custeio de diárias é prática do Ministério da Justiça para o Corpo de Bombeiros de todos os estados que atuam em incêndios florestais, incluindo áreas federais”, declarou.
ANDRÉ BORGES / Folhapress
