Governo do PT volta a fazer o que não deu certo, e isso assusta, diz pesquisador

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O pesquisador Sérgio Lazzarini publicou dois livros destrinchando equívocos das relações entre Estado e empresas nos governos anteriores do PT: “Capitalismo de Laços” e “Reinventando o Capitalismo de Estado”.

Nesta segunda-feira (22), ele sentiu um certo “déjà vu” ao acompanhar o anúncio de que o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diz que vai incentivar R$ 300 bilhões na reindustrialização do Brasil, com apoio do BNDES.

“Estamos vendo coisas que já foram feitas e não deram certo, e assusta não considerarem a experiência do passado”, afirmou.

Pesquisador sênior da Cátedra Chafi Haddad de Administração do Insper e professor da Ivey Business School, da Western University, no Canadá, Lazzarini afirma que o governo perde a oportunidade de estabelecer critérios e governança para os investimentos públicos.

PERGUNTA – O governo anunciou nesta segunda um pacote de R$ 300 bilhões, até 2026, a maior parte em financiamentos, para reerguer a indústria. Qual a sua avaliação?

SÉRGIO LAZZARINI – Tem várias coisas complicadas nesse anúncio. Estamos vendo outra vez coisas que já foram feitas e não deram certo, e assusta não considerarem a experiência do passado.

A indústria brasileira é muito acostumada a ter linha de financiamento, mas estamos vendo mais um daqueles pacotes que, de novo, não tem métricas. Tem metas. Mas não está claro, outra vez, o que acontece se essas metas não foram atingidas.

La atrás, não bateram as metas de política industrial. Nós vimos isso principalmente no Lula 2 e no Dilma 1.

Parece que estamos perdendo a oportunidade de ter uma governança mais clara para o investimento público. Vamos lembrar que o ministério da Simone Tebet [Planejamento e Orçamento] tem uma área de monitoramento e avaliação, que está com o colega Sérgio Firpo [secretário de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas e Assuntos Econômicos e professor do Insper]. Onde entrou esse pessoal no bojo desse debate? Onde está o histórico de avaliação de créditos similares no passado?

P. – Também foram reservados R$ 8 bilhões para o BNDES voltar a ter participação acionária em empresas. O que lhe parece esse movimento?

SL – Precisam explicar melhor. Para que comprar ação de empresa outra vez? É grande empresa de novo?

Há vários estudos sobre esse tipo de aquisições, inclusive os meus, mostrando que grande empresa não precisa disso.

No caso do BNDES, tem outra coisa ocorrendo.

Ainda não explicaram todos os mecanismos de financiamento, mas já dá para ver que estão flexibilizando outra vez as formas de financiamento do BNDES. Vai poder emitir títulos e vai poder mudar a taxa de juros, mas com uma governança ainda frágil. Sinceramente, não sei como isso pode dar certo.

Então, o que parece é que ignoram a evidência do passado, não engatam a estrutura de monitoramento e avaliação que o próprio governo tem hoje e falta credibilidade para o cumprimento das metas.

P. – Também foi dito no anúncio que a transição energética precisa dos recursos do Estado. Isso é uma verdade?

SL – Na transição energética, alguém precisa pagar mais por um período, para gerar ganho de longo prazo. Os governos, de forma geral, estão apoiando a transição e muitos estão atrelando uma nova industrialização à economia verde.

Mas num país como o Brasil, com o histórico que tem, fazer algo assim sem metas claras, com flexibilização nos financiamentos e afrouxamento fiscal, é complicadíssimo.

ALEXA SALOMÃO / Folhapress

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