BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O encontro dos chefes de Estado e de governo na COP30, a conferência de clima da ONU (Organização das Nações Unidas) marcada para Belém no final de 2025, pode acontecer alguns dias antes do início de outras etapas do evento, para desafogar a rede hoteleira da cidade.
Segundo projeções feitas por organizadores do encontro, a antecipação reduziria quase pela metade o número de pessoas presentes simultaneamente na capital paraense, de 50 mil para 30 mil.
Além disso, também diminuiria a pressão por acomodações de luxo, chamadas de classes A e B.
As dificuldades logísticas fizeram o governo Lula (PT) cogitar fatiar a reunião e passar parte dos compromissos para cidades como Rio de Janeiro ou São Paulo.
A ideia, no entanto, não está na mesa neste momento, conforme disseram sob reserva três pessoas envolvidas diretamente nas negociações, em diferentes instâncias.
Neste momento, diz uma delas, o foco é fazer com que seja possível sediar o evento em Belém. Uma série de propostas já foram apresentadas ao presidente Lula.
Como mostrou a Folha em maio, a organização da COP30 aposta em aluguéis de Airbnb, acomodações provisórias, retrofits de hotéis e prédios antigos e navios de cruzeiros para dar conta do déficit de leitos da cidade, sobretudo os de alto luxo.
Também está prevista a ampliação de áreas VIPs da base aérea de Belém, para receber aeronaves de presidentes como Vladimir Putin (Rússia), Xi Jiping (China) ou o Air Force One dos Estados Unidos –país que vive incerteza política na disputa entre Donald Trump e Joe Biden pela Casa Branca.
A COP28, de 2023, em Dubai, foi a maior da história em número de pessoas, com cerca de 85 mil credenciados, e registrou um recorde de 154 chefes de Estado e de governo. O evento nos Emirados Árabes foi considerado de outra escala em relação a edições anteriores, principalmente pela infraestrutura e capacidade logística do local.
O patamar não deve se repetir em Belém, mas os organizadores ainda aguardam a conferência do Azerbaijão, a COP29, que acontecerá no final deste ano, para ter uma estimativa mais precisa de números. A expectativa é de que a COP neste ano reúna cerca de 60 mil pessoas e que este número caia para Belém.
As projeções atuais para a conferência de 2025 giram em torno de 140 autoridades do mais alto escalão –chefes de Estado, de governo e outros líderes mundiais. A maior dificuldade é onde hospedar esse público e suas comitivas, que exigem acomodações de categoria A, com maior conforto, luxo e segurança.
Com a reunião de chefes de Estado e de governo –que trazem junto grandes delegações– acontecendo concomitantemente com as agendas ambientais da COP, o pico estimado de visitantes simultaneamente em Belém é de cerca de 50 mil.
Antecipando o encontro das maiores autoridades do planeta em dois ou três dias, esse número cairia para 30 mil. A redução também aconteceria no número de leitos de alto padrão, de 20 mil no primeiro cenário para algo em torno de 11 mil ou 12 mil no segundo.
Normalmente, os líderes já se reúnem nos primeiros dias das COPs do clima. A diferença proposta para Belém está em um intervalo maior entre essa fase do evento e as demais, centradas na participação da sociedade civil e de diplomatas nas negociações.
A estratégia de antecipar o encontro foi colocada na mesa recentemente, segundo disse à Folha um membro do alto escalão das negociações, que pediu para não ser identificado.
Outro plano é que sejam iniciadas apenas as empreitadas que ficarão prontas antes do evento, para evitar o que houve, por exemplo, na Copa de 2014 ou nas Olimpíadas do Rio-2016 –que aconteceram com uma série de obras inacabadas.
Para alocar o público das categorias A e B, uma das estratégias será reformar pelo menos três prédios antigos da cidade para transformá-los em acomodações, com suítes de alto padrão, somando mais 700 espaços desse tipo.
O antigo prédio da Receita Federal, que pegou fogo, será reformado para isso, além de dois galpões da região do chamado Porto do Futuro que serão cedidos à rede Vila Galé –há a possibilidade de que um terceiro também entre nesse processo.
Os hotéis já existentes também devem passar por reformas para modernização e construção de suítes presidenciais.
O leito do rio Guajará será aprofundado para que possam ser atracados os cruzeiros, onde se espera que caibam cerca de 4.000 leitos A e B, além de navios menores, de expedição, que também entram nessa categoria.
Um dos argumentos dos organizadores é que esse tipo de acomodação também é positiva em termos de segurança –já que é muito difícil entrar e sair de um cruzeiro sem passar pelos sistemas de controle.
Nas projeções atuais, a cidade tem pouco menos de 2.000 casas em condomínios de luxo que poderiam servir de hospedagem de alto padrão. A expectativa é chegar a até 6.000.
Também serão utilizadas estruturas provisórias, inclusive para leitos A e B, adaptação de estruturas militares e escolas, e está em debate a possibilidade de construção de um hotel flutuante.
Hoje a cidade de Belém tem capacidade para receber 18 mil pessoas, com 2.700 leitos A e B. Pelo plano mais recente, a capacidade cresceria para em torno de 30 mil e 13 mil, respectivamente.
O objetivo é que a estrutura de hospedagem já esteja pronta para o Círio de Nazaré, celebração religiosa que acontece no segundo domingo de outubro na capital paraense e chega a reunir 2 milhões de pessoas –mas sem a exigência tão grande de leitos de luxo.
JOÃO GABRIEL / Folhapress