Governo Lula cobra fidelidade de aliados após reforma e em meio a instabilidade na base

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os principais auxiliares do presidente Lula (PT) realizaram na semana passada uma reunião de coordenação com os ministros indicados por partidos aliados para cobrar fidelidade da base e definir estratégias na relação da gestão petista com o Congresso Nacional.

O Palácio do Planalto ainda tenta se fortalecer no Legislativo praticamente um mês depois de ter aberto as portas da Esplanada dos Ministérios para dois indicados do centrão: os ministros André Fufuca (PP), do Esporte, e Silvio Costa Filho (Republicanos), de Portos e Aeroportos.

O ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), responsável pela articulação política de Lula, promoveu a reunião e criou um grupo de WhatsApp exclusivo para os integrantes do governo indicados por siglas aliadas. Esses ministros exercem influência sobre as bancadas na Câmara, e o Planalto quer vê-los mobilizados para fazer a agenda de Lula no Congresso avançar.

Ainda nesse esforço de integração, a ideia é que haja reuniões mensais para afinar o discurso, após um primeiro semestre em que houve rebeliões encampadas pelos próprios partidos que apoiam Lula.

Mesmo após as nomeações de Fufuca e Costa Filho, as semanas não foram de tranquilidade para Lula no Parlamento. Houve declarações desencontradas do petista e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre trocas no comando da Caixa Econômica Federal.

O Planalto ainda assiste preocupado à obstrução liderada pela bancada ruralista na Câmara e a queda de braço entre o Congresso e ao STF (Supremo Tribunal Federal) –parlamentares acusam o tribunal de extrapolar suas competências.

Há a avaliação no núcleo duro do governo de que Lira segue com forte influência sobre os deputados. Por isso, é importante que os próprios ministros consigam reagir quando necessário a eventuais investidas de Lira, com a meta de blindar a pauta de Lula.

Lula oficializou a primeira grande reforma ministerial de seu governo em 6 de setembro, após cerca de dois meses de arrastadas negociações.

Para oficializar as mudanças, o presidente demitiu Ana Moser (Esporte) para acomodar Fufuca e realocar Márcio França (PSB) do Ministério de Portos e Aeroportos para a nova pasta das Micro e Pequenas Empresas.

O Palácio do Planalto buscou compor com partidos do centrão que na gestão passada estiveram aliados com Jair Bolsonaro (PL). O PP e o Republicanos têm 49 e 41 deputados, respectivamente.

Segundo pessoas presentes na reunião da semana passada, a ideia foi balizar os ministros sobre as prioridades para o segundo semestre.

Participaram do jantar ao menos 14 ministros: além dos novatos Fufuca e Costa Filho, os ministros de Minas Energia, Alexandre Silveira (PSD), das Cidades, Jader Filho (MDB), da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos (PC do B), da Integração, Waldez Góes (União Brasil), das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), da Pesca, André de Paula (PSD), e Márcio França.

Padilha estava acompanhado dos ministros palacianos Rui Costa (Casa Civil), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) e Paulo Pimenta (Secom), além do advogado-geral da União, Jorge Messias.

Os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), dos Transportes, Renan Filho (MDB), e da Previdência, Carlos Lupi (PDT), não puderam comparecer.

Na reunião, Padilha fez uma apresentação sobre a importância de os ministros atuarem em defesa da agenda prioritária de Lula no Congresso.

Padilha ressaltou ainda a necessidade de conseguir aprovar as medidas de arrecadação de receitas, para assegurar que o governo atinja a meta de déficit zero –objetivo visto com ceticismo por economistas e até mesmo por integrantes do Executivo. Além disso, o ministro apontou a prioridade que a agenda verde terá para Lula no segundo semestre.

Há entraves para a agenda legislativa fluir nos próximos meses.

A Câmara dos Deputados passa por um esvaziamento geral, em um movimento de pressão contra ações do STF e de Lula.

Puxada pelo centrão e por parlamentares da bancada ruralista, a obstrução das atividades na Casa resultou, na semana passada, na suspensão de comissões, sessões e votações –levando ao adiamento inclusive da PEC da Anistia, apesar do interesse dos próprios parlamentares na proposta de amplo perdão de punições a partidos e políticos.

A obstrução dos trabalhos ocorreu em meio à revolta da bancada ruralista, a mais poderosa do Congresso atualmente, com a decisão do STF de derrubar a tese do marco temporal nas terras indígenas.

O movimento se somou à avaliação, que começou no Senado, de que o Supremo está interferindo em temas legislativos.

A reação dos ruralistas foi amplificada pela irritação de parlamentares do centrão com a demora do governo petista em definir a entrega de alguns cargos, em especial na Caixa Econômica Federal.

O bloqueio foi parcialmente vencido com um acordo que buscou destinar recursos de interesse da bancada ruralista para destravar a pauta econômica e atenuar a disputa entre os Poderes. Mas o clima de tensão ainda preocupa o Planalto.

JULIA CHAIB E CATIA SEABRA / Folhapress

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