BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo federal mapeou, em outubro de 2023, 142 municípios do Rio Grande do Sul mais suscetíveis a desastres naturais, inclusive a capital Porto Alegre.
O estudo foi elaborado pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), subordinado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, e coordenado pela Casa Civil. O objetivo foi identificar cidades que deveriam ser priorizadas pelo Novo PAC, sob o critério de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas.
No domingo (5), o governo federal reconheceu estado de calamidade pública em 336 dos 497 municípios do estado, em razão da tragédia causada pelas fortes chuvas.
É mais que o dobro dos mais de cem municípios listados pelo Cemaden há cerca de seis meses como especialmente vulneráveis a desastres como deslizamentos, alagamentos, enxurradas e inundações -ocorrências que acontecem por todo o estado nos últimos dias.
O Rio Grande do Sul é o quarto estado com mais cidades em risco, de acordo com o levantamento. Minas Gerais é o estado onde há mais municípios em risco, de acordo com o Cemaden. No segundo lugar da lista vem Santa Catarina, que já sofre impactos das chuvas que assolam o estado gaúcho. Em terceiro lugar está São Paulo.
De acordo com a Defesa Civil do RS, mais de 844 mil pessoas já foram impactadas na atual tragédia -até o início da tarde desta segunda (6) havia 83 mortos, 111 desaparecidos, 19.368 desabrigados instalados em alojamentos e 121.957 desalojados.
O levantamento do governo federal estimava, com base na população dos 142 municípios gaúchos vulneráveis a desastres geo-hidrológicos, 313 mil pessoas em áreas de risco.
Ambientalistas afirmam que as fortes chuvas no Rio Grande do Sul, no entanto, poderiam ter sido minimamente antecipadas pelo poder público, que deveria ter preparado a infraestrutura das cidades para lidar com eventos climáticos extremos.
O estado de calamidade, reconhecido pelo governo Lula no domingo, é um status que permite a transferência facilitada, em caráter emergencial, de recursos federais para atender necessidades de localidades golpeadas por desastres.
A medida permite que as cidades solicitem recursos da União para ações emergenciais em diversas áreas, entre elas desmontagem de edificações com estruturas comprometidas; desobstrução de vias e remoção de escombros; serviços de engenharia para suprimento de energia; drenagem de águas pluviais; limpeza urbana; abastecimento de água potável; e transporte coletivo.
Em viagem ao Rio Grande do Sul pela segunda vez em uma semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu neste domingo, após sobrevoo de áreas afetadas, a criação de um “plano de prevenção de acidente climático”.
“É preciso que a gente pare de correr atrás da desgraça. É preciso que a gente veja com antecedência o que pode acontecer de desgraça”, afirmou o presidente. O plano de prevenção, segundo Lula, deverá ser desenvolvido pela ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima).
Ao todo, 341 municípios gaúchos foram afetados pelas enchentes -o que representa mais da metade do estado. Nessas localidades, a população está sem acesso a água potável, energia elétrica e telefonia, e as principais rodovias estão interditadas.
Além disso, a operação de 110 hospitais foi afetada -17 tiveram de suspender os atendimentos a pacientes e 75 funcionavam apenas parcialmente, segundo boletim do governo estadual divulgado neste domingo.
A situação é ainda pior na capital, Porto Alegre: 70% da população da cidade enfrenta desabastecimento de água, segundo o prefeito Sebastião Melo (MDB), após o rio Guaíba atingir 5,3 metros, o maior nível em sua história.
No total, o estudo do Cemadem identificou 1.942 municípios como mais suscetíveis a desastres relacionados ao clima.
A lista representa 34,9% dos 5.570 municípios brasileiros. O número mais do que dobrou em relação a 2012, quando 821 municípios estavam sob maior risco de desastres naturais.
Para elaborar a lista, o governo considerou, entre outros pontos, os municípios com registros de mortos e desalojados por desastres relacionados ao clima, bem como a população vivendo em áreas de risco e com alta vulnerabilidade a inundações.
JOÃO GABRIEL / Folhapress