SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Se antes Grazi Massafera sentia necessidade de se provar como atriz e se desvincular do rótulo de ex-BBB ela foi vice-campeã da quinta edição do reality show, hoje a paranaense se vê, enfim, consolidada no metiê.
Não à toa, está gravando uma das primeiras novelas brasileiras para o streaming, “Dona Beja”, da Max, e assume seu primeiro papel de destaque no cinema, em “Uma Família Feliz”, que estreia nesta semana. Pensa, até, em ser produtora, num reposicionamento de carreira que veio de forma natural, conforme o mercado também se transformava.
“Quando eu comecei com o BBB eu não sabia o que estava fazendo na TV, mas aos poucos fui adquirindo respeito profissional dos outros e de mim mesma”, diz ela, que já afirmou em entrevistas que, no início, pensava não ter competência suficiente para estourar no showbiz.
“Sempre me achei incapaz de muita coisa, mas hoje eu tenho me visto capaz e venho aprendendo e agregando”, continua ela, apresentada aos brasileiros como Miss Paraná e musa do reality. “Hoje eu consigo me divertir com o que faço, não é mais um sofrimento.”
Aos 41 anos de idade e 18 de carreira, Grazi não apenas provou que seus críticos estavam errados, como no caminho embolsou uma indicação ao Emmy Internacional, por viver uma dependente de crack em “Verdades Secretas”, e construiu uma das imagens mais midiatizadas do país, acumulando novelas e campanhas publicitárias.
Também foram 18 as participações em séries e folhetins da Globo, como “Páginas da Vida”, o primeiro convite, “O Outro Lado do Paraíso”, “Bom Sucesso” e a recente “Travessia”, em que teve uma participação especial.
Ela deixou a emissora há três anos, intensificando o êxodo de artistas que vêm abandonando os contratos fixos com a Globo. O divórcio, amigável, foi uma oportunidade para refletir sobre o que queria da carreira,
“Todos nós [atores] estamos num momento de buscar alternativas, e é muito bom eu ter chegado aqui bem financeiramente, para poder escolher projetos simplesmente porque eu tenho interesse em contar determinadas histórias”, diz Grazi, que já recusou um quarteto de convites desde a saída da Globo.
Graças ao olhar feminino apurado que compartilham, ela foi seduzida pelas duas tramas que divulga atualmente. “Dona Beja”, com previsão de estreia no ano que vem, é um remake de “Dona Beija”, com “i”, que teve Maitê Proença como a dona de um bordel que construiu sua riqueza ao acumular amantes abastados.
Em “Uma Família Feliz”, do diretor José Eduardo Belmonte e adaptado do livro de Raphael Montes, ela interpreta uma mulher que tem a sanidade questionada pelo marido, papel de Reynaldo Gianecchini, quando as enteadas começam a apresentar comportamentos estranhos.
Grazi enxerga um lado social em seu ofício, e por isso elegeu os dois projetos, que falam sobre a situação da mulher, como as primeiras empreitadas fora da maior emissora do país. A vontade de se tornar produtora e, portanto, de escolher quais histórias e como contá-las, também segue essa filosofia.
A luta feminista de Grazi Massafera, no entanto, tem puramente a ver com sua condição de mulher, e não é, exatamente, a adoção de uma bandeira política. É como se criticar a saída de Daniel Alves da cadeia após o jogador ser condenado por estupro, como fez em suas redes sociais, fosse uma atitude natural e esperada, não uma tomada consciente de partido.
“Eu não sei se gosto da bandeira. Eu sou mulher, só isso. Existe uma luta, mas eu tento sair das caixas em que nos põem”, diz. “Muitas mulheres me transformaram, a Maitê Proença é uma delas, e eu acho lindo o movimento da Paolla [Oliveira], da Taís [Araujo]. Eu vejo nelas parceria para alcançarmos um equilíbrio social”, diz ela sobre as colegas de profissão, que encampam lutas em defesa do corpo feminino e do antirracismo, respectivamente.
“A verdade é que a sociedade tem dificuldade de lidar com mulheres inteligentes, e a mulher tem dificuldade de se assumir inteligente. Hoje eu considero que sou essa mulher, mas somos subjugadas o tempo todo. Ou você é louca, ou é chata, ou é burra, ou é defensiva. É algo que temos que reconstruir juntos, porque os homens também sofrem com o machismo. E eu amo homens, viu?”
Amar homens, aliás, tem sido uma constante em sua vida. Ao menos é o que mostram portais que, sempre que a clicam com algum novo rosto, sugerem um relacionamento. Grazi cansou de desmenti-los, embora o apetite por fofocas de sua vida pessoal só tenha crescido desde que se separou de Cauã Reymond, com quem tem Sofia, de 11 anos.
“Eu tenho 41 anos, estou na idade da loba, e tenho desejos sexuais. Isso tudo tendo uma família e a respeitando. Quando aflora o meu desejo sexual, eu namoro, eu transo. Querem me questionar se estou num relacionamento, falam sobre o impacto que esses casos têm na vida da minha filha e outras coisas machistas, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra”, desabafa.
Para Grazi, é preciso que as mulheres porque muitos dos julgamentos partem delas se reeduquem para que passem os ensinamentos para seus filhos homens.
E é de outra mulher, a mãe, que emana a força da paranaense. Grazi com frequência fala de Cleuza Soares nas redes sociais, numa prova de que nunca se desconectou das raízes vale dizer que ela é das poucas atrizes de sua geração a manter o sotaque tão acentuado.
“Minha mãe era boia-fria. Eu lembro da respiração dela quando tinha dois, três anos, e ela me acordava às quatro da manhã, me tirava da cama quentinha, passava pela cerca para me entregar para a minha tia e ia trabalhar. É uma memória que me fortaleceu quando me tornei mãe”, diz sobre ter que conciliar as gravações de “Flor do Caribe”, um de seus principais papéis, com o puerpério, há uma década.
Das origens televisivas, no BBB, também lembra com carinho. “O BBB foi onde eu apareci, onde o [apresentador Pedro] Bial me disse que eu não era só uma miss, que eu não era burra, porque a gente acha que miss é burra. Foi especial”, afirma.
Sem citar nomes, Grazi fala ainda em diretores que não tinham interesse ou paciência para dirigi-la, mas lembra dos grandes com quem contracenou e que serviram de professores, como Walderez de Barros, Sonia Braga, Fernanda Montenegro e Lima Duarte.
É com gratidão que ela olha para o passado, sem romantizar a fartura do momento atual, como se refere ao presente.
UMA FAMÍLIA FELIZ
– Onde Nos cinemas
– Classificação 16 anos
– Elenco Grazi Massafera, Reynaldo Gianecchini e Luiza Antunes
– Produção Brasil, 2023
– Direção José Eduardo Belmonte
LEONARDO SANCHEZ / Folhapress