LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – Com previsão de atrair mais de 1 milhão de pessoas para Lisboa –o dobro da população da cidade– na primeira semana de agosto, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que conta com a presença do papa Francisco, já movimenta a capital portuguesa.
Além do anúncio oficial de muitas restrições de circulação, com ruas bloqueadas e grandes áreas do centro e da zona oriental fechadas para o trânsito, o megaevento católico desencadeou greves e protestos. Várias categorias profissionais convocaram paralisações, totais ou parciais, em um ou mais dias do encontro.
Já a Câmara Municipal de Lisboa (CML), equivalente à Prefeitura, foi acusada por sem-teto e ativistas de realizar uma operação de remoção da população em situação de rua da avenida Almirante Reis, ponto conhecido de concentração de tendas e abrigos improvisados na capital lusa. A via é o principal eixo de passagem até uma das grandes atrações do evento, o Festival da Juventude.
À agência Reuters a Comunidade Vida e Paz, organização que presta auxílio a pessoas sem-teto, afirmou que a Câmara Municipal pediu que a entidade informasse aos residentes da avenida que suas barracas e pertences deveriam ser removidos, e a opção de abrigo disponibilizada em contrapartida pelas autoridades foi criticada pela ONG.
O governo lisboeta, por sua vez, negou que a intenção tenha sido a de esconder a população em situação de rua, afirmando que realiza intervenções de limpeza de forma periódica.
O tema chegou até a Assembleia Municipal de Lisboa, e a responsável pela área de Direitos Humanos e Sociais na capital, a vereadora Sofia Athayde, afirmou que “é falso” dizer que a remoção das barracas ocorreu por conta da visita do papa. Segundo ela, as ações “nada têm a ver com a JMJ”. “Houve pessoas que aceitaram o acolhimento, houve pessoas que decidiram manter-se nas tendas.”
Ao longo dos 2,8 quilômetros da via, no entanto, a concentração de barracas é agora visivelmente menor do que há um mês.
A Jornada Mundial da Juventude também intensificou o movimento de greves e protestos em Portugal, que já vinha em alta desde o começo do ano, impulsionado pelo aumento do custo de vida.
Em mobilização por reajustes salariais, trabalhadores da empresa que opera a rede de trens do país, a Comboios de Portugal, começaram uma greve parcial em julho que se estenderá até o fim da jornada. O movimento tem a adesão de revisores e funcionários das bilheterias e já afeta a circulação ferroviária também em outros pontos do país.
Nos aeroportos, sindicatos que representam trabalhadores que prestam serviço em terra confirmaram um pré-aviso de greve para os dias 30 e 31 de julho e para 5 e 6 de agosto. Na área da saúde, o Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) convocou paralisação de 1º a 4 de agosto, com abrangência para os 18 municípios que compõem a Região Metropolitana de Lisboa.
A Federação Nacional dos Médicos também ameaça uma greve nos primeiros dias da JMJ caso o governo não aceite algumas das exigências feitas pela entidade em um processo de negociação em curso.
Uma das greves mais temidas, a paralisação do serviço de coleta de lixo, porém, foi desconvocada após o sindicato dos trabalhadores de resíduos sólidos e urbanos chegar a acordo com as autoridades.
Mesmo sem parar, funcionários das forças de segurança prometem realizar protestos durante o período da jornada. Uma das ações já programadas é uma manifestação próxima à Presidência da República, programada para o momento em que o chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, estiver recebendo o papa Francisco.
Professores e outros trabalhadores das escolas públicas também farão ações de protesto.
Os lisboetas também enfrentarão pesadas restrições de circulação. A interrupção do trânsito e a suspensão dos serviços de aluguel de bicicletas e patinetes contribuíram para que muitas empresas anunciassem o fechamento temporário de lojas e escritórios e a adoção do trabalho remoto durante o encontro da juventude católica.
Como a JMJ coincide com o período de férias escolares e coletivas de muitos trabalhadores, alguns lisboetas têm optado por deixar a cidade.
Moradora da região de Arroios, próxima a um dos palcos do evento, a estudante de mestrado brasileira Aline Sá, 29, embarca para Paris dois dias antes do começo da jornada. “Já queria viajar e marquei férias para essa data para evitar a confusão. Minha família mora em Copacabana, e eu vi de perto os inconvenientes que a Jornada Mundial da Juventude pode trazer”, afirmou, relembrando a sujeira e as dificuldades de locomoção quando o Rio de Janeiro sediou o evento, em 2013.
Nas igrejas e em outros estabelecimentos religiosos, o clima já é de festa. Membros do clero e voluntários têm trabalhado para apoiar a organização do evento, incluindo esforços para acomodar peregrinos oriundos de várias partes do mundo.
Além dos eventos oficiais, divididos em três palcos, há uma série de atrações paralelas ocorrendo por toda cidade. A Jornada Mundial da Juventude acontece de 1º a 6 de agosto em Lisboa. Principal personalidade do evento, o papa Francisco chega à cidade no dia 2 e permanece até o fim do encontro.
GIULIANA MIRANDA / Folhapress